A demografia é um fato dinâmico e mutante. Há cem mil anos, desde quando grupos tribais se evadiram das savanas africanas e espraiaram-se pelos continentes batizados de Europa e Ásia, nossa espécie evoluiu entre a estabilidade temporal proporcionada pelos recursos alimentares suficientes do meio e o deslocamento forçado pela fome, quando o meio se deprime.
Assim, nessa instabilidade milenar foram se formando os domínios geográficos que chamamos nações. O progresso tecnológico impulsionou e facilitou os deslocamentos humanos na conquista da terra produtiva ou no assalto ao território alheio. As migrações avassaladoras, que assustam hoje países cultural e economicamente estabilizados da Europa, primam pela quantidade e persistência. São hordas expulsas de suas terras pela guerra, sêde e fome. O ódio religioso ou étnico, que gera milhares de funâmbulos em busca de abrigo, pode mascarar a dialética pré-histórica da balança instável do alimento - população.
O mesmo fenômeno dirige outras espécies vivas. Foi o inglês Robert Malthus, misto de matemático e religioso que ousou no século XIX alertar para o desequilíbrio entre a população crescente e sua capacidade da produção alimentar. Até a metade do século passado a equação malthusiana adormeceu desconsiderada ante o progresso da agronomia científica e o domínio da genética, que promoveram a produtividade agrícola a níveis jamais sonhados. Porém, passados intervalos de fartura, sobreveio novo impasse. A expansão populacional do islamismo no Oriente Médio e principalmente na África, seja pela promiscuidade, seja pela poligamia, dilatou o desequilíbrio geográfico e demográfico. Neste continente se agrava o drama da fome e doença num território exaurido pela exploração exaustiva do solo, a devastação florestal, a inclemência do clima, o primitivismo agrícola dominante na região sub-saariana e central, num paroxismo de carência que fertiliza a brutalidade letal do fanatismo religioso.
Na degradação da paisagem e da espécie, reponta denunciador em seus 950 milhões de habitantes, o mais alto índice de natalidade mundial - 35,2% e o maior índice reprodutivo – 2,17 % a/ano. A do Brasil é 1,61 a.a. naquele continente a equação de Malthus ressurge vigorosa – a população cresce geometricamente comparável ao alimento disponível pela aritmética. Os pratos da balança distanciam-se perigosamente a mostrar na tragédia dos flagelados da guerra e da fome afoitando-se ao mar na busca desesperada da Europa, ajoelhada ante o desafio ético: acolhe-los cristãmente ou repeli-los racionalmente? Garantir a sobrevivência da civilização cristã, assentada na solidariedade aos fracos, condenando-os ao afogamento, ou abrigar sua potencial destruição?
* Escritor