• Roberto Rachewsky
  • 02/09/2016
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IMPEACHMENT DE DILMA – OBSERVAÇÕES


(Publicado originalmente em Causas e Consequências)

Entre 29 de agosto e 31 de agosto de 2016, assistimos os derradeiros momentos do julgamento do processo de impeachment da presidente da república no senado federal.
Acompanhando atentamente boa parte dos debates, observei algumas singularidades sobre as quais manifestei minha opinião no Facebook e que faço aqui sua compilação.

Sobre a autodefesa

Dilma mente com toda sinceridade.
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Acredito que autodefesa é a defesa feita pelo próprio acusado, de improviso, usando sua própria mente, sua própria capacidade discursiva. Se é para ler o que os outros escreveram, a leitura em voz alta proferida pela acusada é totalmente dispensável.
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A defesa de Dilma não se baseia na negação de seus atos criminosos mas na negação de que seus atos sejam criminosos. Ou seja, ela não nega ser uma criminosa, ela apenas esclarece que ela ou é uma criminosa tola ou uma criminosa mentirosa.
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Agora, cá entre nós. Chamar o pronunciamento da Dilma de autodefesa só pode ter sido gozação do Ricardo Lewandowski. Não por não ter sido ela a autora do texto, mas por ela ter confessado ser a autora dos crimes e ter justificado-os de forma patética.

Sobre a evasão da realidade
A negação da realidade pela Dilma é tanta que ela nem se deu conta que os juros internacionalmente são NEGATIVOS. O fim do QE promovido pelo FED não teve repercussão na taxa de juros, nem nos EUA, nem na Europa, nem na Ásia e nem no Brasil. Só aconteceu na mente da presidente afastada. Afastada temporariamente do poder e permanentemente da realidade.

Sobre a verdade e a mentira
A verdade é um barco que exige a vela da consciência, e o lastro da realidade. Quando esse barco parte sem o lastro da realidade, mais cedo ou mais tarde, ele aderna e afunda. Quanto mais pano e mais vento derem para o barco petista, mais rápido ele vai para o fundo.
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A realidade é insubstituível, não importando a verossimilhança da narrativa. A realidade e a verdade jamais podem ser suplantadas. Quando a mentira prevalece, não é a realidade nem a verdade que sucumbem, é a justiça.

Sobre a inversão de papéis
Dilma parece não saber a diferença entre um réu e um juiz. Ela quer assumir o papel de juíza, sendo ré; e quer transformar os senadores, que são os juízes, em réus. Esse é o objetivo de tratar o devido processo legal, em curso no Senado, como se fosse um golpe sendo armado contra ela, como se o impeachment e as acusações fossem ilegítimas. De nada serve ela achar que não houve crime de responsabilidade porque felizmente, em um processo qualquer, não é o réu que julga, mas os juízes. Também não pode a ré aceitar a decisão dos juízes apenas se for inocentada. Isso seria como se ela tivesse jogado na loteria e pedisse o dinheiro do bilhete de volta caso não ganhasse a sorte grande. Dilma parece aquele piá mimado que pega a bola para levá-la para casa no meio do jogo, só porque a derrota parece possível.

Sobre a irracionalidade da presidente
Para Dilma é o chão que sobe quando uma pessoa cai.
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Dilma é um dicionário. As palavras são alinhadas sem nexo comum.
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Fórmula de Báskara: X = (- b +/- raiz quadrada de (b2 – 4ac))/2a
Fórmula de Rousseff: 30%?30%*25%=30%*30%?30%=7,5% ~ 12,5%
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Dilma Rousseff não sabe regra de 3, não sabe o que é um retângulo, chama planilha de PowerPoint e gráfico de tabela, não sabe conjugar verbos, não sabe usar a concordância entre as palavras, não sabe dizer as vogais adequadamente, não sabe se expressar corretamente mesmo lendo textos tão bem redigidos que fica evidente que não foi ela que escreveu, não conhece a história, não entende de economia, não conhece os princípios elementares da lógica aristotélica, não consegue chamar uma advogada de advogada por que lhe disseram para repetir senadora ao final de cada frase sempre que fosse questionada. Dilma Rousseff por todas essas qualidades só podia acabar se tornando presidente. Presidente do Brasil, claro.

Sobre a retórica do golpe
Dilma disse: Se eu for inocentada, o processo é legítimo.
Se eu for condenada, o processo é golpe.
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A narrativa do golpe segundo Dilma Rousseff:
Isso aqui não é um golpe. É apenas um golpe. Mas não é um golpe. É apenas um golpe. E é um golpe porque não é um golpe e não é um golpe porque é um golpe. Quando eu digo que é um golpe eu quero dizer que não é um golpe. Quando eu digo que não é um golpe eu quero dizer que é um golpe.
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Golpe é a ruptura institucional que dispensa todos os procedimentos previstos pela legislação vigente para estabelecer um ato arbitrário. Quando alguém, na iminência de ser destituído de seus poderes através de um processo legal que cumpre todos aqueles procedimentos previstos na legislação, alega que está sendo vítima de um golpe, não passa de um paranóico narcisista.

Sobre a advogada de acusação
Todo país tem uma mulher heroína. No meu país, essa mulher chama-se Janaína Paschoal. Não me importa o que ela sente, no que ela acredita, nem a sua posição política. Me importa é o que ela fez para tirar do poder a força mais maligna que já habitou os palácios desse país.

Janaína Paschoal prova que não basta, ou não adianta, ser mulher. Há que ser racional, há que ser honesta e há que ser justa.

Janaína Paschoal, essa sim pode ser chamada de coração valente

Sobre o advogado de defesa
O advogado de defesa José Eduardo Cardozo é um sofista de qualidade. Convence néscios e confunde incautos. É preciso muita compenetração para se entender como é construída a retórica da enganação. Temos que estar atentos para identificarmos o ponto exato onde é feito o salto argumentativo que deixa para trás a trilha longa da verdade dos fatos para seguir pelo atalho das falácias e das mentiras. No presente caso, ele apenas resolveu utilizar o método pós-moderno das narrativas, a reconfiguração linguística, a relativização conceitual, a inversão de valores. Todos os sujeitos e objetos vieram acompanhados de adjetivos para dar-lhes o significado que não têm. Como eu poderia fazer aqui dizendo que ele é um sofista honesto, que seria uma contradição; ou, que ele é um sofista ardiloso o que seria uma redundância.

O maior exemplo disso é quando ele trata Dilma Rousseff como uma cidadã comum sendo atropelada pelo estado opressor. Ora, Dilma Rousseff encarna o estado opressor, o estado sem limites. Seus julgadores ali, não estão falando em nome do estado per se, para destituir Dilma Rousseff de seus direitos individuais. Eles estão ali, falando em nome do povo, para o povo e pelo povo, com o propósito de impedir que atos de exceção, que conspurcam contra as leis, as instituições e os direitos indivíduais dos cidadãos, continuem a ser praticados por um governante. No caso, Dilma Rousseff, que não perderá seus direitos como cidadã. Ela apenas deixará de exercer o cargo, porque não soube honrá-lo com a circunstância que ele merece.

Sobre os pronunciamentos finais
Sabem o que é perda de tempo?

É assistir quase oitenta pessoas para ouvir apenas dois discursos.
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O ideal da política não visa o pacto com bandidos mas o estabelecimento da melhor ética sem concessões.
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Quando reclamarem da insegurança porque o governo não pune os criminosos, lembrem-se de Renan Calheiros que hoje, depois de falar da importância do ato de impedimento de Dilma Rousseff, defende e votou a favor de sua anistia quanto a penalidade subsequente, já branda pelos crimes cometidos.