• Adriano Alves-Marreiros
  • 15/05/2024
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Dos crimes de alta traição

Adriano Alves-Marreiros

“Quanto às minhas opiniões políticas, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a república de Platão. A realizada é o sistema representativo [a Monarquia]. É sobretudo como brasileiro que me agrada esta última opinião, e eu peço aos deuses (também creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou."

Machado de Assis[1] (em dia de profecia)

      As caricaturas que faziam de D. Pedro II eram terríveis, achincalhadoras, ofensivas.  Defendia-se publicamente a derrubada da Monarquia e a implantação da República.  Diplomatas e autoridades de monarquias europeias escandalizavam-se com os ataques constantes ao Imperador e à Família Imperial, alguns achando até que, no velho Continente, aquelas críticas poderiam ser consideradas como crimes de alta traição, mesmo em monarquias bem liberais, como conta, por exemplo, o historiador José Murilo de Carvalho.  Mas, mesmo sendo o Imperador de um país continental, mesmo sendo o comandante da segunda maior Marinha do mundo, mesmo sendo parente de todas as monarquias ocidentais, D. Pedro II nunca teve o rei na barriga, se me permitem o trocadilho, nunca pretendeu ter um poder supremo e sempre foi contra a censura, sempre deixou que essa crítica corresse solta, nunca instaurou inquéritos de alta traição contra os críticos e nunca mandou a polícia prendê-los nem apreender as prensas e manuscritos de quem dele discordava...

Sempre tentaram pintar Pedro I para nós como alguém autoritário e é certo que ele teve lá alguns arroubos nesse sentido.  No entanto, tive o prazer de ler, nos meus vinte poucos anos, a picante obra do General Morivalde Calvet Fagundes – D. Pedro I na Intimidade[2].  Acreditem, ele narrava em deliciosas crônicas as aventuras amorosas de nosso primeiro Imperador: e com detalhes sórdidos.  Mas Calvet nasceu e viveu apenas em plena república:  escreveu o livro com base em notícias de jornais do I Império que ele pesquisou.  E não foram poucas histórias... Eram muitas as aventuras...  Apesar de todo o stress que isso devia lhe causar com a Imperatriz, apesar de contarem detalhes de sua intimidade e até de filhos que tivera, apesar  de exporem até  sua epilepsia, as histórias publicadas chegaram ao século XX, permitindo que o livro fosse feito, sem que se buscasse calar as fofocas e boatos das redes sociais “analógicas” da corte e das ruas, nem se criaram agências de checagem de falsas fofocas...[3]

Pois é... Mesmo sendo dois descendentes de reis, inclusive de reis Absolutistas do Iluminismo – os chamados déspotas esclarecidos (ILUMINISTAS!!!)  – nossos Imperadores nunca se autoatribuíram nenhum poder ou função iluminista nem resolveram censurar nem... editar os críticos...

Ah... É por isso que sou Monarquista: será que posso ser ou isso também é antidemocrático???

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto...”. – N. do autor.  Lembra desse texto? eles sempre esquecem de colocar o texto inteiro, especialmente este pedaço:

Essa foi a obra da República nos últimos anos"[4].

N. do autor. e nunca te mostram o texto inteiro[5] que também diz isto:

"E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado, indicado, que todos conhecem..." 

(se quiser conferir: Rui Barbosa - Discursos Parlamentares - Obras Completas - Vol. XLI - 1914 - TOMO III - pág. 86/87)

*      Publicado no saudoso Tribuna Diária em 24/08/2020

**    Adriano Alves Marreiros é admirador de Machado e dos Pedros.

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 

Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 

Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)

[1] https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-coluna-o-imperio-do-brasil-e-liberdade-de-imprensa.phtml

[2]< https://www.esteditora.com.br/DomPedroInaintimidade>

[3] Aliás, algumas histórias eram ainda do tempo do Reinado de D. João VI...

[5] https://sites.google.com/site/abcdamonarquia/rui-barbosa---texto-completo-de-famoso-discurso