• Lucas Gandolfe
  • 21/01/2020
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DIREITA, VOLVER

 

São recorrentes as tentativas de o jornalismo nacional explicar as razões que levaram o atual Presidente, Jair Bolsonaro, a lograr êxito nas eleições de 2018. Dentre elas, temos o antipetismo, impulsionado pelos escândalos de corrupção do Mensalão e da Operação Lava Jato; a desmoralização da imagem dos líderes políticos, crise de credibilidade do Congresso Nacional, partidos e lideranças; a vontade nacional por mudança; a catastrófica crise econômica; e a crescente criminalidade.

Bem, todas essas razões são verdadeiras, mas justificam apenas parte dos motivos que impulsionaram Jair Bolsonaro para o pódio eleitoral. São, portanto, meias verdades.

O outro motivo não é apresentado pela mídia por razões óbvias: evidenciar-se-ia toda a marginalização e desprezo ao verdadeiro pensamento e sentimento político brasileiro, praticados, ora vejam, pela própria mídia que busca o seu ocultamento.

Atualmente, confirma-se aquilo que venho dizendo há anos: a maioria dos brasileiros sempre foi um eleitorado conservador desprovido de representação política, de ingresso nos debates intelectuais e de espaço na “grande mídia”.

O filósofo, Olavo de Carvalho, sempre sustentou ser o abismo entre a elite falante e a realidade da vida popular profundo, vasto, intransponível. Tudo o que o povo ama, os bem-pensantes odeiam; tudo o que ele venera, eles desprezam, tudo o que ele respeita, eles reduzem a objeto de chacota, quando não de denúncia indignada, como se estivessem falando de um risco de saúde pública, de uma ameaça iminente à ordem constitucional, de uma epidemia de crimes e horrores jamais vistos.

Digam o que disserem, Olavo de Carvalho é, sem dúvida, um grande filósofo. Ele ficou solitariamente pregando no deserto, árido e estéril, por mais de 20 anos. Até que sua voz encontrou eco.

Enquanto isso o povo se martirizava, já que para fugir do radicalismo de esquerda, era obrigado a votar nos sociais-democratas do PSDB. Sórdida “estratégia das tesouras” de Lênin. “É fantástico não ter candidato de direita nas eleições”, afirmava Lula.

Mas como mudar a trágica situação política de uma sociedade tipicamente conservadora, sendo obrigada a se ver representada por ideais e pessoas de esquerda (FHC, Lula, Dilma, Marina e Aécio)?

Na época (ano de 2016), defendi o seguinte: “Querem a solução? Elevem a direita do plano da opinião pública aos mais importantes setores públicos e sociais, só a partir desse momento a doença política nacional passará a ser curada” (vide: https://www.institutoliberal.org.br/blog/o-momento-da-nova-direita/).

Fato é que, durante décadas, desprovido o povo de todo meio de expressar-se na mídia e de canais partidários para fazer valer a sua opinião, foi crescendo uma revolta surda, inaudível, que mais cedo ou mais tarde teria de acabar eclodindo à plena luz do dia, como de fato veio a acontecer nas inúmeras manifestações populares, abalando todos os setores de poder da República.

Desse momento em diante, o povo brasileiro passou a se estruturar, criando manifestações de rua, militância, grupos acadêmicos, aperfeiçoando sua intelectualidade, organizando e publicando material ideológico, substituindo a mídia tradicional pelas redes sociais, moldando, assim, uma oposição ao establishment governante.

A nova direita, que favorece a liberdade de mercado, defende os direitos individuais e os poderes sociais intermediários contra a intervenção do Estado, coloca agora a defesa do Brasil e os valores religiosos e culturais tradicionais acima de quaisquer projetos de reforma marxista da sociedade. Foram nesses moldes que, em 2018, elegeu-se Jair Bolsonaro.

Esse é o outro motivo da vitória de Jair Bolsonaro! Só que para contá-lo, a mídia deve fazer sua mea culpa, denunciando-se e acusando a oligarquia política que fora cúmplice dos governos anteriores; a militância política e estudantil subsidiada e incapaz de mobilizar-se sem o estímulo dos sanduíches de mortadela, dos cinquenta reais e do transporte em ônibus, tudo pago com dinheiro público (MST, MTST, CUT, UNE); o apoio externo dos organismos internacionais, sobretudo do Foro de São Paulo; etc.

De todo modo, a luta continua. Não pense que eleger Bolsonaro vai, por si, resolver o problema de representatividade conservadora nacional. Governos são transitórios e limitados, sendo imperioso que o brasileiro peleje e vença a mais importante das guerras: a cultural.

• O autor é advogado e jornalista.