• Percival Puggina
  • 12/05/2021
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A TEIMOSIA DE RESISTIR

 

Percival Puggina

 

 “É nessa viscosidade intelectual que temos de viver e lutar se quisermos praticar a teimosia de resistir, de defender os valores fundamentais.”  Gustavo Corção, em Disparates e contradições do tempo.

A primeira e principal lição foi sendo ministrada aos poucos. Era difícil, mas não impossível. Tratava-se de fazer a sociedade ingerir, enrolada como em rocambole, a ideia de que a criminalidade deriva das injustiças do modelo social e econômico. Aceita essa premissa, era imperioso levar consequentes proposições ao campo do Direito. Claro, seria perverso tratar com rigor ditas vítimas da exclusão social. Aliás, permutar as palavras “pobre” e “pobreza” por "exclusão" e "excluído" foi estratagema vital para completar o rocambole no Direito Penal.

A situação exposta acima representa uma versão rasteira da velha luta de classes marxista. Uma luta de classes por outros meios, numa brilhante concepção revolucionária porque realiza a proeza de se travar fora da lei com a proteção dela. Graças a isso, a punição é a aposta de menor risco desses beligerantes. Graças a isso, no Brasil, o crime compensa. Por isso, também, só os muito ingênuos acreditarão que um partido, um coletivo burocrático ou institucional que assim pense pretenda, seriamente, combater a criminalidade. Preste atenção, afine os ouvidos e perceberá as manobras e o escandaloso silêncio dos nossos congressistas e do aparelho de Estado sobre esse tema. Ou não?

Portanto, olhando-se o tecido social, chega-se à conclusão de que o grande excluído é o brasileiro honesto, quer seja pobre ou não. O outro, o que enveredou para as muitas ramificações do mundo do crime, leva vida de facilidades sabendo que tem a parceria implícita dos que hegemonizam a política nacional. Nada disso estaria acontecendo sem tal nexo.

Viveríamos uma realidade superior se o Direito "achado nas ruas", que inspira ideologicamente a atuação de tantos magistrados, fizesse essa coleta nas esquinas, mas ouvindo os cidadãos, os trabalhadores, os pais de família, em vez de sintonizar a voz dos becos onde a criminalidade entra em sintonia com a ideologia.

O leitor sabe do que estou tratando aqui. Ele reconhece que, como escrevi há alguns anos, a tomada do Brasil pelos maus brasileiros seguia inevitável curso. Perderíamos a guerra. O crime iria vencer. Estávamos na fase de requisição dos despojos que deveriam ser entregues aos vencedores.

Ou não! Ou não! Corção tinha razão e foi nessa viscosidade intelectual que tivemos de viver e lutar contra o mal que se espalhou pelo país. Foi isso que nos mobilizou em 2018 para uma vitória que logo se revelou insuficiente porque a máquina do poder reage ferozmente e há um longo caminho até a vitória final. Em seu andar, o peregrino da história descobre que nossas instituições agem implacavelmente contra a ordem democrática das urnas. Também elas são bandidas e se homiziam nos morros do poder desde o qual legislam em causa própria e sentenciam como lhes convêm.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


Ivaldo de Holanda Cunha -   18/05/2021 12:06:38

A maior deturpação que já fizeram no nosso Direito Penal foi essa tal de audiência de custódia. traem os direitos do cidadãode bem e honestos. Fazem dos meliantes uns injustiçados. Devolvam os nossos direitos.

FERNANDO A O PRIETO -   15/05/2021 08:33:02

Para conseguir seu objetivo, deturpam tudo. No caso da língua, usam expressões e palavras do modo que lhes é conveniente (por exemplo, "democracia", "genocídio" e outras) sem o mínimo respeito pelo que elas querem REALMENTE dizer. Estamos mesmo criando uma "novilíngua" ("newspeak") à la 1984, infelizmente. Daqui a pouco será impossível expor idéias que não sejam as da "elite intelectual" (?) dominante ("crimidéia" ou "thoughtcrime"). Pelo menos, enquanto for possível lutemos contra isto !

Adão Silva Oliveira -   13/05/2021 19:48:32

E para complicar ainda mais há os chamados quero-queros da política. Pessoas que se dizem de direita, como o atual presidente e seu clã, mas que praticam um corporativismo cartorial sem precedentes na história da república. O que são, afinal, as rachadinhas, senão a corrupção à conta gotas. Alguém, poderá contra-argumentar: isso é nada perto do petrolão!!! Individualmente, sim. Só que esta prática se espalha por todos os legislativos do Brasil. Somando tudo, dá uma bolada e tanto...

Cícero Martins Rodrigues -   13/05/2021 16:05:19

Perguntas: O Brasil tem jeito? Bolsonaro iniciou uma reação a tudo isto que o senhor "textoou"? Se Bolsonaro está no caminho certo, o quê fazer para manter estes criminosos judiciários e os criminosos fora dos poderes após a saída do Bolsonaro em 23 ou em 27?

Gabriel M. Corradi -   13/05/2021 15:12:47

Resistir é preciso! O bem sempre vencerá, mas o caminho para a vitória é árduo e cheio de armadilhas, colocadas pelo mal. As batalhas são injustas e perdemos a maioria delas, mas ainda há muitas brigas pela frente. Eu não disistirei do meu país! Pra cima deles!!!

Ingo Schulze -   13/05/2021 13:51:01

Sobre o acima -“pobre” e “pobreza” por "exclusão" e "excluído" - nossa deficiência: ensino médio profissionalizante vinculado à empregado aprendiz remunerado, Origem: período do governo militar transferiu o enfoque para o ensino superior a fim de promover mão-de-obra para o processo de industrialização. Hoje temos uma tornada modesta participação do Senai/Senac/Senar e incremento dos cursos superiores de tecnólogo. Há neste contexto uma grande insuficiência.

Luiz R. Vilela -   13/05/2021 11:49:59

O esquerdismo usa das mais variadas táticas para se instalar em um estado. Aquela teoria do quanto pior , melhor, é uma das alternativas, pois quando o caos se faz presente, eles, os ideólogos do socialismo se apresentam com a solução. Quando propício, fazem revolução, mas quando não há clima para o confronto direto, minam as bases da democracia, justamente com a criminalidade. Ninguém consegue modificar a legislação penal, no sentido de endurece-la, não interessa. A criminalidade de terno e gravata faz a legislação para se beneficiar, então a criminalidade de bermuda e chinelo de dedo, aproveita a ocasião e também manda ver. Ambas as criminalidades favorecem aos anseios dos que querem tomar o poder pela força, pois o povo em determinado momento passa a aceitar qualquer coisa, até tirania, desde que restaure a ordem. É ai que eles entram, e não pensem que a tolerância com o banditismo perdura após a tomada do poder. Os métodos são aqueles que a história tem mostrado, ou seja, ladrão rima com paredão. Sempre foi assim e será per todo in saecula saeculorum.

FERNANDO A O PRIETO -   13/05/2021 08:40:43

Alguém que realmente fala por nós, finalmente. Obrigado. Em tempos de inversão de valores, felizmente existem pessoas lúcidas...

José Rui Sandim Benites -   12/05/2021 21:02:34

Na linha do pensamento do texto acima. Podemos falar até na língua portuguesa. Que para contemplar as falas de um "líder", alguns chamados "intelectuais" da literatura e da prosódia, começaram a argumentar que falar errado era certo. E a comunicação da fala e da escrita, basta comunicar o fato ou o ato. Então o que levou anos para construir, em momentos buscam desconstrução. Tudo, em nome de uma dita ideologia e uma dita "liderança", mas se for aprofundar o pensamento e o que ocorre no dia a dia. Não há coerência do pensamento para as práticas. O que procuram é o poder. E a luta pelo poder é legítima, o problema sob que preço?

Maria Zélia Soares Telles -   12/05/2021 18:57:54

Que clareza de palavras, parece um grito que está preso em nossas gargantas. Excelente!!