Se a sua resposta for positiva permita-me, em primeiro lugar, recomendar que não perca tempo comigo. Pare de ler este texto imediatamente. Porque eu não sou nem tenho a menor pretensão de ser um profeta. Confesso minha cabal ignorância do tempo futuro. Se mal sei do presente e do passado, o que poderia dizer sobre o futuro? Sobre esse tempo que apenas aos revolucionários é dado conhecer na palma da mão?
Mas você, um revolucionário, decerto movido por uma curiosidade científica, continua a ler este texto? Faz bem, nossa curiosidade é recíproca e verdadeira. Eu faria o mesmo - e já o fiz tantas vezes! - para tentar descortinar o futuro graças ao dom da profecia, desculpe-me,
à genialidade dos revolucionários.
Falta-me, no entanto, esse lampejo da inteligência que é um predicado natural dos gênios. Esse brilho que incendiou Robespierre, Marx, Lênin, Stálin, Mao e Pol Pot. E iluminou todo este mundo com fagulhas que libertaram Cuba, Nicarágua e Venezuela, que suscitaram Fidel Castro, Daniel Ortega e Hugo Chávez.
Que inveja eu sinto de você, meu caro revolucionário. Fosse eu um homem de fé, como é você, despojaria de todos os meus mesquinhos pertences e o seguiria como fiel discípulo. O que somos nós, afinal, senão passageiros de uma viagem que não desejamos chegar ao ponto
do destino, que a cada dia nos parece aproximar-se mais rapidamente? Como resistir a esse fascínio que é viver no futuro pelo intelecto, como quem estende a mão para colher um fruto que o alimenta?
Essa inveja, no entanto, não é pecaminosa. Melhor seria dizer que o admiro. Ou seja, eu gostaria de ter a sua convicção num futuro que não cabe na palma de minha mão. Talvez eu não passe, no fundo, lá no fundo, de um cético. Que implora por sua condescendência. Não me trate como um infiel. Um inimigo da sua fé, digo, da sua convicção. Em meu desfavor, confesso que sou um conservador. Mas nunca dei calote em ninguém, jamais deixei de ajudar alguém que me pediu auxílio e sempre segui, ou pelo menos tentei seguir os ensinamentos que aprendi com meus pais católicos. E com Jesus Cristo, que dividiu o calendário ocidental em antes e depois do seu nascimento, numa revolução que só derramou Seu próprio sangue.
Queira me perdoar, então, por preferir acreditar nesse reino intangível que Ele nos revelou além da física. E que confirma os profetas, os sábios e os cientistas que teceram a trama fio por fio, de nossa civilização. E sempre respeitaram os limites do mistério que habita o inefável muito além dos segredos que eles desvendavam.
Você, porém, conhece o futuro, meu caro revolucionário. E parece que é tudo que você conhece. O que não seria pouco se não fosse uma grande cretinice. Imaginar que a utopia não seja uma manifestação saudável do espírito, mas uma ciência da matéria biológica - como defendeu Karl Marx em sua filosofia que você provavelmente desconhece - tem tudo a ver com a insanidade, a libertinagem e a selvageria contra nossos próprios semelhantes.
Você é um revolucionário? Então procure saber o que é ser um revolucionário. Estude os revolucionários. Não perca seu tempo comigo. Ganhe seu tempo para você.