• Edésio Reichert
  • 12/02/2017
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TRANSPORTE PÚBLICO PARA PESSOAS OU PARA PESSOAS POBRES?

Não precisa ser instruído nem muito inteligente para chegar em qualquer cidade, próximo de 100 mil habitantes ou mais, e perceber como são excludentes e prejudiciais, as decisões de nossos administradores e legisladores públicos, a respeito do que significa transporte público para pessoas. Pouquíssimas cidades fogem a essa situação. Estas não são objeto deste artigo, assim como não é, o metrô, por ser transporte que se aplica a poucas cidades.

Toda pessoa maior de idade tem direito a ter um veículo? Sim. Toda pessoa maior de idade, que tem um carro, tem direito de ir trabalhar com ele? Sim. Se toda pessoa que possui veículo utilizá-lo como meio de transporte para ir trabalhar as ruas comportam? NÃO.

Então o que leva uma pessoa a decidir ir trabalhar com o próprio carro? Seguramente, a condição financeira que tem, aliada à praticidade que gera. Logo, aquele que vai de transporte público - principalmente de ônibus – só o faz por não ter condições de bancar as despesas de um veículo e por não ter outra opção, pois se tivesse não iria de ônibus.

Como é possível considerar o transporte público bom e atraente, se o sonho de quem o utiliza, é não usá-lo mais?

Quer humilhação mais desprezível do que deixar explícito a uma pessoa que ela é pobre? Não basta as dificuldades que ela tem na vida - não importando aqui as razões - o sistema de transporte que está à sua disposição, precisa confirmar que ela não tem condições financeiras para usar outro meio.

Em sua maioria, ônibus e trens urbanos, são sujos, cheirando mal, sem ar condicionado, superlotados, por demais demorados, barulhentos, pontos de embarque e desembarque sem proteção adequada,poucos terminais de transbordo, sem preferência de vias e em semáforos (especialmente ônibus), etc.

Absolutamente claro que é um sistema para pessoas pobres. E grande número dos usuários desse sistema, por sua pouca instrução, jamais poderão conquistar a condição de ir com seu próprio carro trabalhar. Sob esta perspectiva, o mal maior é o que pode se desenvolver no coração dessas pessoas: o ressentimento. Pessoa ressentida não trabalha direito, pode ter mais problemas de saúde, problemas psicológicos, de relacionamentos, dificuldades de colaboração, etc.
Carro e cidade jamais se harmonizarão, não foram feitos um para o outro. Cidade combina com transporte público e sempre pensando em maior número possível, mas para pessoas, não para pessoas pobres.

Aqui reside o principal desafio: mudar a cultura do veículo como meio de transporte dentro das cidades, incluindo as motos, pelos riscos que apresentam. Esta é uma daquelas brigas necessárias, que deveriam ser enfrentadas por administradores e legisladores corajosos, não importando os entraves legais, burocráticos e daqueles que tem mais condições financeiras. Todos os esforços dos homens públicos deveriam concentrar-se nesta direção: PREFERÊNCIA ABSOLUTA para o transporte público, para atrair todo tipo de pessoa. E quem quiser ou precisar do veículo próprio para trabalhar? Sem problemas, saiba que o transporte público terá preferência.

Temos muitas cidades bem organizadas, limpas, com harmonia entre os elementos naturais e os edificados pelo homem; mas quando olhamos o seu sistema de mobilidade, número de veículos, motos, os estacionamentos nos espaços públicos, uma verdadeira tragédia.

Com esse sistema, a vida das pessoas vai sendo sendo sugada pelo tempo, no trânsito, dentro de um carro, em um transporte coletivo, perdendo saúde, convivência familiar, produtividade no trabalho.

Como mudar esta realidade? Certamente não será fácil a solução. Porém o princípio de tudo é ter vontade e coragem de mudar. Além disso, os poucos exemplos de cidades do Brasil e as soluções já encontradas mundo afora, deveriam servir de inspiração, tanto para mudar leis como para criar políticas públicas direcionadas para esta prioridade: TRANSPORTE PÚBLICO PARA PESSOAS.

É surpreendente o número de autoridades que viajam ao exterior e retornam elogiando os sistemas de transporte que lá fora viram. E aqui quase tudo continua como está.

E nossas cidades, cada vez mais populosas, sob o ponto de vista aqui analisado, vão tornando a vida das pessoas num pedacinho do inferno.

* O autor é pequeno empresário no Paraná.
edesioreichert@gmail.com