"Por que não sou cristão" é o titulo de uma obra filosófica de Bertrand Arthur Willian Russel, conde nascido na Gália que foi matemático e se proclamava liberal, humanista e socialista. Foi considerado o maior expoente do ateísmo desde Voltaire. E exerceu uma enorme influência nos meios intelectuais do seu tempo, o século XX. Ontem, portanto.
Eu li, na minha juventude, esse livro dele. E gostaria de ter lido sua réplica – PORQUE EU SOU CRISTÃO. Mais do que gostaria, eu precisava, porque confesso que seus argumentos me impressionaram.
Segundo eu entendi, ali não estava um filósofo defendendo o materialismo, alguém que atribuísse à religião cristã uma brutalidade que estaria desviando a humanidade de um destino fraterno e luminoso que os ateus desbravam com a lanterna da razão e da ciência. Ele só queria esclarecer que nós não precisamos cogitar a hipótese de um deus. O homem é o seu próprio deus.
Como disse, eu era jovem, e confesso que não revisitei essa obra filosófica de Bertrand Russel. Mas se ele foi um discípulo de Voltaire, convém lembrar o que o famoso ateu francês confessou, quando sentiu que estava prestes a falecer: “Eu me reconciliei com Deus”. O que me reporta a Chesterton: “Nada torna a mente do homem mais lúcida do que a visão do cadafalso”.
Por que ser cristão? Eis a questão.
Que eu não pretendo responder com a profundidade que ela mereceria, pois não sou teólogo e, mesmo que o fosse, não caberia enveredar, aqui, nesta senda.
Limito-me a anotar que o cristianismo, a filosofia grega e o direito romano são os alicerces de nossa civilização. E sobre eles se ergueram as instituições do Estado que não se confunde com a ambição de seus governantes. Não lhes obedece como um lacaio, ao contrário, submete-os à nação que eles governam sob o império da lei, votada pelo povo soberano.
Numa palavra – a DEMOCRACIA. Ela é o resultado do cristianismo, da filosofia grega e do direito romano. O tripé de nossa civilização ocidental que evoluiu até os nossos dias. Retirado qualquer um deles, não há como ela se sustentar.
Então, cuidemos de examinar o que está sendo feito para abalar essa estrutura.
Karl Marx disse que “o Direito é a ciência dos burros”, e que a “lei é o instrumento de opressão da classe dominante”. Nada mais coerente a quem pretendia fazer a revolução que levaria à ditadura do proletariado. Que pressupõe a necessária eliminação da lei.
Lá se foi uma perna do nosso tripé: o direito romano que evoluiu por milênios. De alicerce de nossa civilização, ele foi convertido em carrasco da humanidade.
Mas ainda restariam outras duas para a gente se equilibrar.
Os marxistas, porém, são muito previdentes. Não deixariam outra perna sem lhe passar uma rasteira.
“Os filósofos tentaram explicar o mundo;nós vamos modificá-lo”, prometeu Karl Marx.
O que teria lhe dado essa convicção? A descoberta filosófica de que o espírito é uma fantasia humana. A matéria é que dita nossa vontade, sabiamente, e que nos realiza como seres humanos.
Já destituída desses dois pés, não custava nada poupar a civilização ocidental ao menos um apoio para morrer com alguma dignidade, de pé, não é mesmo?
Nem pensar. Não se espere de um revolucionário a mais ínfima condescendência com quem eles consideram inimigos da humanidade, que eles amam apaixonadamente. Só o túmulo de seus inimigos pode assegurar a plenitude sua convicção como construtores de um futuro que os infiéis chamavam de utopia.
Então, foi preciso fulminar o cristianismo. O “ópio do povo”, segundo o mesmo Karl Marx. Tirar da civilização ocidental o último pé. Que, tardiamente, eles perceberam que era o mais forte. O pé que lhes passou uma rasteira na Polônia e derrubou todo o império soviético.
Por quê? Talvez por um erro histórico de Nikita Kruschev.
Focado na Guerra Fria, ele encomendou a confecção de uma teologia que apresentasse Cristo como um ativista, um revolucionário que defendia os pobres contra os ricos. Em síntese, um marxista intuitivo que viveu numa época em que a religião, não a ciência, dominava o mundo. Uma doutrina para o consumo da América Latina, onde recebeu o nome de Teologia da Libertação.
Digo talvez, mas provavelmente ele já sabia que perdia a guerra ideológica dentro dos seus muros. Como sabe o PT, e por isso procura, lá fora, quem ainda possa lhe dar algum crédito.
Certo, porém, é que, aqui, os três fundamentos de nossa civilização caíram. E o primeiro deles foi o do cristianismo,numa investida que surpreendeu, covardemente, uma população que sabe muito pouco da filosofia e do direito, mas confia naqueles que pregam a religião cristã.
Por que eu sou cristão? E católico.
Pelo mesmo motivo que sou brasileiro. Não será porque uma organização criminosa tomou o poder que eu haveria de abdicar da herança da pátria que meus antepassados me legaram e pretendo legar aos meus descendentes. Ou não poderia merecer essa herança bendita.
Assim como a história da nossa Igreja foi construída por mártires, a história de uma nação só pode ser construída por seus patriotas.