• Paulo Briguet
  • 05/04/2017
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O ÓDIO É UMA DROGA

 

(Publicado originalmente na Folha de Londrina)

Ideologias totalitárias transformam adversários em não pessoas

Mesmo quando faço minhas críticas mais pesadas, procuro sempre seguir algumas regras pessoais. Nunca me alegro com a infelicidade alheia; nunca me deixo dominar pela raiva; nunca esqueço que as pessoas podem, um dia, reconhecer os próprios erros e receber perdão; nunca sou condescendente com a mentira, porque o amor à verdade é a condição essencial para o amor ao próximo. Quem me conhece sabe que procuro sempre manter o bom humor, mesmo nas situações mais tensas. Acordo rindo, rezando e cantando; às vezes fazendo imitações. Vou dormir do mesmo jeito.

Como vocês sabem, já fui ateu, comunista e defensor do aborto. Desci ao inferno e descobri que o principal combustível da cultura da morte é o ódio, ódio em quantidades industriais. Não foi por acaso que os regimes revolucionários promoveram os maiores genocídios da história. Também não é por acaso que certos grupos continuam promovendo a morte de milhões de seres indefesos. As ideologias simplesmente negam o caráter humano àqueles que se coloquem no caminho da "causa". A vítima do comunismo é sempre o "burguês", "o tubarão capitalista" o "traidor", o "inimigo do povo" (assim como no nazismo era o "judeu explorador"). E a vítima do aborto é sempre um "amontoado de células", um "ser sem história". Ideologias são fábricas de não pessoas. Quando dominam as estruturas de poder, são capazes de destruir todo um país; foi precisamente o que aconteceu no Brasil.

O ódio funciona como uma droga. Quanto mais você o consome, precisa dele em maiores quantidades. Um dia, não é você mais que está falando, é ele. Descobri isso quando olhei para uma igreja devastada por um incêndio, há 17 anos, e pensei: "Esta é a minha alma". Foi o jeito que Deus encontrou para me alertar sobre o inferno em que estava preso.

Confesso que estava desacostumado a presenciar manifestações de ódio. Todos os protestos de rua em que participei nos últimos anos, embora houvesse indignação, foram pacíficos e alegres. Quanto aos protestos com bandeira comunista e petista, venho deles mantendo rigorosa distância.

Nesta semana, porém, eu vi o ódio bem de perto. Foi durante a audiência pública sobre o Dia do Nascituro. Assisti a homens e mulheres rugindo furiosamente contra uma simples data no calendário, destinada à reflexão sobre os nossos irmãozinhos e irmãzinhas não-nascidos. Por que tanto ódio contra seres tão indefesos?

É simples: a defesa dos nascituros vai contra o projeto de poder militante. Como eles não conseguiram eleger ninguém para defender essa visão totalitária de mundo, apelam às instituições e aos coletivos ainda controlados pela esquerda. Houve de tudo naquela audiência: de seminudez a carteirada.

No final da audiência, mostrei um pequeno crucifixo a uma das militantes mais furiosas. Ela me olhou com tamanho ódio e sarcasmo que não tive dúvidas: para essa turma, eu sou uma não pessoa. Você também, caro leitor cristão. E até o bebê que está na sua barriga, futura mamãe. Somos todos não pessoas.

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