A reportagem da Época é antiga, de 2015. Mas muito atual. Vê-la hoje me suscitou uma série de reflexões. De onde vem a nossa indisciplina? Porque somos tão indisciplinados e irresponsáveis?
Como milhões de brasileiros, convivo diariamente, e sou testemunha e vítima da indisciplina do nosso povo no trânsito. 43 mil mortes por ano atestam claramente que somos indisciplinadíssimos nas ruas e estradas. Recentemente me envolvi em um acidente de trânsito, com perda material total de dois veículos. Escapei ileso, mas o outro motorista escapou com vida por muito pouco.
Na minha vida profissional na área petroquímica, também convivo com as consequências da indisciplina de empregados colegas que deveriam zelar pelo rigoroso cumprimento de procedimentos operacionais e de segurança. Incontáveis vezes tive que reparar equipamentos danificados pelo não cumprimento de procedimentos, ou seja, por pura indisciplina.
Também na vida social e afetiva somos indisciplinados. A enorme quantidade de traições amorosas e o alto número de paternidades não assumidas atestam o quão irresponsáveis somos, até mesmo com aqueles que deveriam ser nossos entes queridos.
Por fim somos indisciplinados nas salas de aula, com nefastas consequências no aprendizado e na qualificação dos nossos cidadãos. A reportagem de Época não deixa dúvidas, e apenas coloca em números aquilo que já era uma percepção nítida de boa parte da sociedade.
Mas de onde vem esta indisciplina e esta irresponsabilidade? Seria uma característica moldada pelas gerações mais recentes em nosso país? Suspeito que sim, mas na falta de dados, vou fazer um mergulho no meu passado e tentar ver o que foi que a nossa geração fez, e qual poderia ser a sua ligação com o atual estado de coisas.
Sou da geração do Diretas já. Esta geração cresceu sob o domínio da ditadura militar, e acabou com algum atraso absorvendo as idéias libertárias do verão de 68 e da contracultura. Nossos heróis morreram de overdose, como disse Cazuza. Certamente disciplina não estava entre os valores cultivados neste cenário de rebeldia.
Participei de greves estudantis. Fiz parte de diretórios acadêmicos na faculdade. Incontáveis vezes cabulei aulas pagas pelos contribuintes para ficar bebendo com os amigos, discutindo a solução dos problemas do mundo no bar da faculdade de filosofia (sempre ela) da UFRGS. Frequentei aulas alcoolizado. Colegas meus o fizeram sob o efeito de drogas, inúmeras vezes. Pichei os muros da escola de engenharia da UFRGS muitas vezes.
Também fomos bastante simpáticos ao ideário esquerdista. Inúmeras vezes votei em candidatos do PCdoB ou do PT. Eu confesso, fui um dos eleitores que ajudou Lula a se eleger pela primeira vez presidente em 2002. Inúmeros da minha geração fizeram o mesmo e hoje se arrependem. Lobão não é nem de longe um caso isolado.
Porém, como um dia cantou o roqueiro gaúcho Gesslinger, toda forma de conduta se transformou em luta armada. O que não esperávamos é que este comportamento libertário e irresponsável da nossa época evoluísse para a completa degeneração de valores da nossa sociedade. Não conhecíamos Gramsci e a insidiosa teoria de tomada do poder sutil, corroendo por dentro as estruturas da democracia dita burguesa, nem a sua correlação com a degradação moral de uma sociedade. Mas sem sabermos direito, acabamos colaborando para o quadro que hoje observamos na sociedade brasileira. Como observou Olavo de Carvalho, “O gramscismo é ...... uma estratégia de ação psicológica, destinada a predispor o fundo do "senso comum" a aceitar a nova tábua de critérios proposta pelos comunistas, abandonando, como "burgueses", valores e princípios milenares”. E creio eu que assim se fez a bagunça hoje reinante na sociedade brasileira e nos seus valores, ora bastante deturpados.
E ai voltamos para a indisciplina e a degradação de valores que hoje observamos. Como consertar o estrago feito? Como evitar que o rumo da sociedade continue sendo este, de degradação de valores morais cada vez mais intensa? Não faço a mínima idéia de como reverter este processo. Espero que alguns pensadores não comprometidos com o marxismo apontem alguns rumos para o início desta recuperação. Não sei como os da minha geração pensam a respeito. Mas de minha parte, dentro das minhas enormes limitações pessoais e intelectuais, tudo o que posso fazer é me arrepender pelos erros cometidos no passado, pedir perdão à sociedade, e me dedicar à firme oposição ao aparato comuno-gramsciano-petista que tentou (e quase conseguiu) dominar o Brasil. No resto, é seguir lutando pela liberdade de idéias, liberdade econômica, pelas liberdades democráticas, e restauração dos valores morais básicos. Lobão não está só."