• Genaro Faria
  • 23/03/2017
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NÃO É VERDADE...

 

Que o Brasil algum dia tenha pretendido ser republicano. Nossos republicanos de ontem foram os monarquistas de anteontem, indignados com a família imperial que lhes confiscou o patrimônio dos escravos sem indenizar seu vultoso prejuízo. A verdade é que nossa monarquia cometeu um suicídio político. Então os supostos progressistas vestiram as vestes da modernidade que os deixariam sem pé nem cabeça, despidos de toda virtude, caso um ideologia já desmoralizada na Europa - o positivismo de Auguste Comte - não lhes socorresse com sua utopia.

    Não, não é verdade que os professores militares da escola positivista e seus alunos tenham sido os protagonistas do golpe republicano. Eles foram, apenas, instrumentos de uma de uma elite que logo os reduziria à insignificância histórica da república que imaginaram fundar para cristalizar sua vã ideologia: "O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim" - Ordem e Progresso. Eis o lema que até hoje drapeja em nosso estandarte, não porque seriam as cores da casas de Bragança e de Habsburgo - de D. Pedro I e da imperatriz Maria Leopoldina - mas de nossas as matas e do ouro. Vale dizer, não de um simbolismo que nos remete aos nossos fundamentos pátrios, senão que ao capital natural que nos apega ao solo rico de nosso país.

    Então não é verdade que não sejamos patriotas. A verdade é que furtaram nossa pátria nos compêndios de história, na simbologia que nos identificaria, e na consciência de que somos herdeiros de nossos avós e responsáveis pelo legado de nossos descendentes. Somos órfãos de nossa pátria e por isso vivemos em seu exílio.

    Não é verdade, portanto, que somos indolentes e apáticos diante do assalto que os legatários daquelas elites, num incestuoso contubérnio entre o Capital e o Estado, coordenado, financiado e invisivelmente instalado pela revolução cultural graças ao "politicamente correto". A verdade é que estamos perdidos.


    Perdidos por quê? Perdidos porque nossa Constituição não é uma Lei Fundamental. É um discurso demagógico vulgar e prostituído de alta rotatividade. Uma carta sem princípios que qualquer ativista, mesmo que revestido de uma excelentíssima toga judicial, rasga como se fosse o papel que se usa num sanitário. Estamos perdidos porque o descrédito de nossos representantes em nada abala os nossos representantes.

Então seria verdade que seríamos alienados quando, na verdade, somos um povo desmoralizado?

Estamos, sim, desacreditados de nós mesmos. Já nos rebaixamos demais para não sermos taxados de politicamente incorretos. Perdemos um tempo e um terreno enormes na vã ilusão de que nossos opostos, adversários ideologicamente políticos, não se confundem com os bandidos que interpretam qualquer disposição ao diálogo como uma fraqueza. Não argumento que eles não usem para escarnecer de nossa boa fé. Em seu universo mental, a trama política preenche e satisfaz todo espaço no qual o poder é seu deus supremo. E que eles podem nos manipular, pela política, indefinidamente.

Mas não é verdade... Quem viver verá.

A verdade é que até a árvore mais frondosa já existia, inteira, dentro de uma sementinha silenciosa.


Foto: Família Imperial, no vapor Gironde, em viagem para o exílio.