O embargo norte-americano que pesa sobre Cuba tem sido um tema de debate, argumentação e divisão dentro da oposição cubana ao regime dos irmãos Castro: “Não tem atingido seus objetivos”; “É uma justificativa para o castrismo”; “Não é um problema cubano”; “É um remanente da guerra fria”; “Levantá-lo levará a uma mudança positiva dentro da ilha”; “É a causa da deplorável situação econômica cubana”; “Sem o embargo, Cuba seria um paraíso”; “O embargo é ingerencista”; “O embargo implica num ‘bloqueio’ a Cuba”, entre outros pontos de vista, muitos deles carimbados pelo castrismo, outros por opositores honestos.
Os enunciados anteriores -todos- implicam sempre meias verdades, precisamente para serem críveis, mas, em nenhum dos casos são verdades absolutas. Sob o embargo, Cuba passou os longos anos do subsídio soviético (desde a década dos 60 até inícios dos 90) sem ser mencionado pelo oficialismo, mas, quando a subvenção “companheira” acabou, a propaganda oficial ressuscitou-o “de entre os mortos”. Na realidade os opositores cubanos - sejam quais foram seus critérios sobre esta medida dos EUA com respeito a Cuba- podem entender que o embargo é uma importante ferramenta de negociação dos EUA com o castrismo, agora que a Cuba dos irmãos Castro finalmente levanta bandeira branca ante “o inimigo do norte”.
Ate o mais ingênuo opositor à ditadura castrista sabe que Estados Unidos não vão levantar o embargo sem que os irmãos Castro paguem o preço que ele implica. Por que, por exemplo, o regime cubano insiste em que, para libertar ao norte-americano Alán Gross preso em Cuba, EUA deve “reciprocar” libertando os três espiões cubanos presos lá, porém, quando se trata do embargo, pede sua eliminação “unilateral” sem “reciprocar”, nem dar nada em troca?
Um grupo de exitosos empresários cubano-americanos tem pedido diretamente ao presidente norte-americano Barack Obama o levantamento das limitações financeiras, econômicas e comerciais que EUA mantém com relação a Havana. É um direito destes empresários fazer tal solicitação na área econômica, junto ao executivo norte-americano – área na qual eles têm-se desenvolvido. Pela mesma razão - e com o mesmo direito - políticos opositores cubanos devem pedir ao governo norte-americano negociar com os irmãos Castro o levantamento do embargo, em troca de uma apertura política, também na área em que eles se desenvolvem.
Estamos ante uma realidade de conversações - já em andamento - entre a União Européia e a Cuba dos irmãos Castro. De igual maneira, se aproximam negociações entre EUA e os representantes de Fidel y Raúl. Porém, não haverá conversações entre a ditadura cubana e os opositores políticos (como deveria haver). Este diálogo não acontecerá porque, da parte da oposição será trair a memória das lutas contra os opressores, e da parte da ditadura cubana não há vontade política. São duas as razões básicas para que o diálogo não aconteça: primeiro, a ditadura não quer diálogo com os opositores cubanos (prefere dialogar com “o inimigo externo”) e as poucas vezes que tem conversado com opositores cubanos, tem acontecido um monólogo; segundo, porque o diálogo somente se produz quando ambos estão convencidos que do diálogo surge uma melhor posição para as duas partes, e este não é o caso agora, nem da ditadura castrista, nem da oposição política democrática digna, que entende o diálogo com o opressor, nas atuais circunstâncias, como uma forma de traição.
No caso específico de EUA - ante o avanço das influências conjuntas de Rússia e China dentro de Cuba, procurando, ademais, lesionar os interesses norte-americanos em todo o nosso hemisfério oferecendo créditos e investimentos em Latino-américa - deve aquele país tomar providencias urgentes para definir uma política exterior pro ativa em relação a Cuba e à intromissão da China y da Rússia no nosso Sub Continente. Saindo, enfim, da inércia atual.
Assim as coisas, é claro que a oposição política cubana deve exercer a maior e melhor de suas influências, tanto dentro da União Européia (onde tem pouca influencia real) como frente ao governo atual de EUA, fornecendo seus argumentos para que sejam analisados pelas grandes potências, visando a que sejam utilizadas nas conversações com Cuba.
Um grupo de opositores cubanos têm ido à Europa (Madrid) para falar sobre as futuras negociações Europa-Cuba e recentemente foram de novo em Espanha para tratar de influir nos negociadores europeus. Os interesses cubanos e os interesses da UE e EUA devem coincidir nos pedidos que sejam feitos. Não é o caso de incluir opositores cubanos em delegações estrangeiras, ou incluir uma ‘parte cubana’ (opositora) em negociações onde não têm sido convidados. O correto seria propor elementos de negociação à Europa y aos EUA de beneficio, tanto aos cubanos em geral, como para europeus e norte-americanos, com argumentos que sejam aceitáveis (e evidentes) para toda a comunidade internacional.
Os EUA pela sua parte têm no levantamento do embargo a carta de negociação que os europeus perderam renunciando à sua “posição comum”. Isso deve ser aproveitado em conjunto com a real e atual influência que o exílio cubano possui dentro dos EUA sobre as decisões do executivo e o legislativo norte-americano, estruturando argumentos para que EUA não entregue sua mais importante carta de negociação - o embargo - sem pedir ao castrismo uma abertura política em troca. Desta maneira, o executivo de EUA colocaria em crise a posição cubana de não abrir-se politicamente, na certeza que o mundo exterior vai ver a proposta com muitos bons olhos e aprovaria a lógica de que, em todas as negociações “há que dar para receber”. Adicionalmente, o pedido de apertura política estaria muito em fase com a cultura política latino-americana atual, já que até em regimes como o “chavismo” venezuelano, o “evismo” boliviano y o “correismo” equatoriano, há eleições com vários partidos.
Não creio que os opositores cubanos devam pedir agora diálogo com os irmãos Castro; mas, já que as conversações vão-se produzir entre Cuba e seus aliados democráticos (EUA y a UE), acredito que os opositores devem pôr toda a sua força em convencer aos EUA y à UE (ambos democratas e livres) da necessidade de obrigar à ditadura cubana para atuar em função da cultura democrática mundial atual, para que permita uma abertura política dentro da ilha.
O povo cubano tem executado uma longa e constante luta pela suas liberdades democráticas neste mais de meio século. Nada mais lógico que agora as potencias que negociarão seus interesses com a ditadura, incluam nas suas negociações a necessidade do acesso dos cubanos ao seus diretos políticos cancelados sem razão nenhuma, sobre tudo, quando a ditadura se dispõe a negociar com “o inimigo”, deve ver-se ela constrangida a dar liberdades ao seu povo.
Para a abertura política (pouca ou muita) que seja conseguida neste processo em mãos de aliados democráticos (se é que convencemos à UE y aos EUA, e se conseguimos a abertura política nas conversações) toda a oposição cubana deve estar preparada para dar a batalha pacífica dentro da ilha no terreno cívico. A ditadura também se prepara para esta nova fase -que sabe inevitável da luta - y já monta seus “partidos políticos opositores” amestrados.
O novo campo de ações que nasce de uma situação como a descrita será gradual, porque não haverá uma derrota contundente e imediata do castrismo, mas, seguramente haverá oportunidades que o nosso povo vai aproveitar junto à oposição democrática, para superar este pesadelo de demasiados anos de opressão, repressão e divisão da Nação Cubana.