Percival Puggina
Quando o Brasil começou a tomar jeito, em 2016, o número de ministérios foi reduzido e o acesso de militantes políticos e dirigentes partidários à cargos de direção das empresas estatais ficou sujeito a rigorosíssimas exigências. Foram seis anos razoavelmente bons. Apesar da mais assanhada vigilância política, jornalística, policial e judiciária a que eu já assisti, não houve casos notórios de corrupção e o Estado perdeu um pouco de seu tamanho.
Lula conseguiu engatar marcha ré na história e aumentou para 37 o número de ministérios. Os partidos, presumo, serão convidados para um jantar cujo cardápio contará com novas porções do Estado brasileiro. Entre aplausos e brindes, os articuladores políticos e o presidente em pessoa, circularão pelo salão, com bandeja na mão e toalha de seda branca sobre o braço direito, oferecendo, entre outras iguarias, ministérios, diretorias-gerais, fundações e presidências de conselhos.
Em alguns casos, esses ministérios são meras quinquilharias para animar vaidades e proporcionar luxinhos, como diria aquela procuradora que se queixa do salariozinho. Noutros não, com recursos tirados eo nosso bolso, os pratos são temperados com orçamentos robustos.
Já está bem claro que a ideia do governo não é cuidar dos pobres. Se assim fosse, ele diminuiria o gasto do Estado consigo mesmo. É o que faz qualquer chefe de família, homem ou mulher, cujos dependentes apresentem necessidades que excedam sua capacidade de atender. Essa pessoa cortará supérfluos e diminuirá sua ração para responder às demandas dos seus no limite máximo das possibilidades.
Pois o petismo faz o contrário, eleva seu supérfluo! Trinta e sete ministérios é a ressonância magnética do supérfluo. Mostra tudo, no detalhe.
Se é ruim nessa perspectiva, pior fica quando se compreende que todo esse banquete pantagruélico que canibaliza os recursos nacionais foi concebido em comum acordo com os congressistas e seus partidos.
Alguém que queira passar pano nessa perniciosa realidade talvez diga que governar é uma tarefa partidária. Com efeito, governo tem partido (o Estado é que não deveria ter, mas no Brasil acaba tendo também, por vieses ideológicos, até na alma do Judiciário).
Na minha observação, durante décadas, os governos se formavam com partidos cujas bancadas apoiavam o governo. O mensalão corrompeu esse sistema, o petrolão potencializou seus males e os recursos das emendas parlamentares desmoralizaram de vez o regime.
Hoje, mesmo com partido e cargos, todo parlamentar pode agir como corretor de seu voto, em cada deliberação importante. Lamento informá-los que esse tipo de congressista compõe, também nesta legislatura, o grupo majoritário.
Quem não entendeu isso que fique em casa quando houver manifestação e se conduza como se não houvesse amanhã.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
jose carlos Antunes - 09/06/2023 20:59:58
o Bruzundanga não tem mais salvação , vendeu-se aos demônios do EstadoTADEU REINALDO SCHERER - 06/06/2023 23:23:42
Excelente!Menelau Santos - 06/06/2023 22:54:04
Professor, o título do artigo é maravilhoso. Mas também me lembrou aquela marchinha de carnaval, primeiro sucesso do nosso grande, talentosíssimo e esquecido Moacyr Franco: "Me dá um Ministério ai...".Enézio E. de Almeida Filho - 06/06/2023 15:00:47
Nenhuma novidade: a maioria dos políticos brasileiros é CORRUPTA!!!João Martens - 06/06/2023 14:33:25
E o ápice diste, é que temos partidos de oposição(?????) ocupando ministérios.Ana Maria da Silva Vosniak - 06/06/2023 12:17:04
É lastimável o que estamos vivendo, Políticos que desviam totalmente suas responsabilidades como eleitos para representar o povo, para se apadrinhar em com os bandidos do governo. Só lamento e sem esperança de mudança infelizmente.Eloy Severo - 06/06/2023 10:51:56
Repetindo o que já disse em vez anteriores. Acompanho o andar disso tudo, desde 1950, ainda menino vendo os mais velhos se preparando p/a eleição do Getúlio. Até a música da campanha eu lembro. Hoje vejo c/triteza o caminho do Ex-Brasil.Regina Guimarães - 06/06/2023 09:06:01
Professor Puggina, concordo que a inércia do povo é um mau sinal, mas creio que entendo o porquê do desânimo. O povo pode muito, mas está isolado. Além do povo, todos os brasileiros que se destacam em suas áreas de atuação deveriam estar mobilizados: intelectuais, juristas, médicos, agricultores, políticos conservadores, jornalistas de direita, enfim, pessoas ou entidades com relevância pública que são vítimas das arbitrariedades como qualquer brasileiro. Por que não se propõem a participar das manifestações? Além disso, o que temos é um trabalho de base incipiente e ausência de verdadeiras lideranças. Será que tudo se resume à falta de percepção da gravidade de nossa situação?Décio Antônio Damin - 06/06/2023 08:56:33
Parabéns...! É um retrato fiel do que está acontecendo... e, lamentavelmente, está cada vez pior, dando a impressão que isto aqui não é Democracia...! As propostas estapafúrdias e ininteligíveis são de um populismo grotesco que quase nos levam a desistir até de opinar.Luis Alberto - 06/06/2023 08:27:04
Caro amigo, infelizmente o terror despertado pela ditadura, imposta pelo judiciário, deixa-nos paralisados pensando como agir sem prejudicar-nos e a nossas famílias. È muito fácil convocar-nos às ruas para fazer valer nossos direitos, mesmo sabendo que quando a isso recorremos fomos tratados como gado sendo arrebanhados e levados ao calabolso por aqueles que deveriam zelar pelas nossas liberdades. Resta-nos orar e solicitar às Potestades Celestiais que nos deem forças para recompor nossa dignidade e vontade para continuar lutando.Guilherme - 06/06/2023 07:37:57
Muito bomMARIA INÊS DE SOUZA MEDEIROS - 05/06/2023 18:46:11
Pelo fato de negociarem emendas, querido Puggina, é que defendo que o povo deve ir à rua pressionar seus representantes e exigir um comportamento coerente com sua campanha eleitoral, ou vamos dar razão a Rui Costa.