Se for verdade que a vida ensina, então nos enfiaram num curso de imersão, intensivo. De sol a sol, estamos assistindo o “mecanismo” em pleno funcionamento. Podemos observá-lo em diferentes estágios – o nacional, o venezuelano, o cubano, o norte-coreano. Todos têm devotos no Brasil. O mecanismo, quando ameaçado (Lava-Jato), sentindo esvair seu poder (impeachment) e perdendo substância popular (redes sociais), contra-ataca com todos os meios independentemente da reação. Não obedece lei, nem costume, nem limite. Não há sequer divergência entre suas facções. Mesmo aquela esquerda que posa como moça de bons costumes e oferece sua virgindade na praça eleitoral permaneceu em conivente silêncio ante o cambalacho promovido pelo “Pretório Excelso” (vê se eu aguento!). Não será preferível dizer Ínfima Caterva?
No mesmíssimo contexto se inscreve a universidade pública, outro importante espaço de poder que vem sendo metabolizado pela esquerda, usado para formação de intelectuais orgânicos desde antes da fundação do PT. O que constitui novidade, trazida a lume pela premência dos fatos, é a necessidade de incorporar a energia do ambiente acadêmico às táticas políticas de curtíssimo prazo para salvar o petismo na eleição de 2018. Isso ainda não fora visto.
Refiro-me às dezenas de cursos de extensão sobre o “golpe de 2016” que se propagam nas universidades brasileiras, incluindo disciplinas como “O lulismo e a promoção da paz social”, “O governo Dilma e a tentativa de repactuação lulista”, “A resistência popular e as eleições de 2018”, e por aí vai. Tais conteúdos, obviamente, são adequados às dependências de uma sede partidária e promovidos à custa da legenda interessada. É preciso haver subordinado o senso moral à causa e ideologizado cada neurônio para não perceber o quanto tais “cursos de extensão” ultrapassam os limites da decência no emprego que fazem de meios e títulos públicos.
Raciocinemos pelo viés oposto. Imaginemos, por exemplo, cursos sobre “A corrupção na Petrobras e a fraude financeira que favoreceu as vitórias eleitorais de 2006, 2010 e 2014”; “Objetivos totalitários da luta armada dos anos 60 e 70 no Brasil”; “A alternativa liberal-conservadora no pleito de 2018”. Não é difícil imaginar a reação que seria suscitada por qualquer desses temas. Contudo, em que pese o interesse por tais abordagens, a universidade não é para isso e a criação desses eventos incorreria em equívoco análogo ao que aqui critico. E mais: nenhuma aula dessas conseguiria ser ministrada ante a reação de alunos e professores. Ou não?
Valerem-se da autonomia universitária como blindagem para usar e abusar do que é público em benefício particular - seja ideológico, político ou partidário – é uma forma de corrupção que começa na mente e se expressa na práxis. A autonomia não é salvo-conduto para tropelias, nem é a universidade foro privilegiado onde o saber pode ser corrompido e nenhum abuso coibido.
Esses professores, ao mesmo tempo em que, tanto quanto os ministros do STF, envilecem seu poder, andam pelas respectivas universidades, transformada em casa-da-mãe-joana, reclamando da sobrecarga de aulas e da falta de verbas para as atividades acadêmicas. Mas os cursinhos de marotagem política têm tempo, disposição e meios.
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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Mario - 28/03/2018 10:27:54
Excelente artigo, professor! Aliás, como sempre.Odilon Rocha - 27/03/2018 14:48:58
Caro Professor Excepcionais colocações. O contrário geraria um ambiente de guerra nas ‘universidades’ , que não passam de antros de lobotomização, onde o prefixo UNI diz respeito à manutenção de um pensamento só. O que já sabemos. De resto, é como o senhor falou magistralmente. Uma corrupção diferente, mas corrupção igualmente. E bota igual nisso!elcio emilio affonso - 26/03/2018 15:50:20
Sabe qual e o problema , e que a direita conservadora e tudo bunda mole . Nao tem atitude fica tudo atraz de uma mesa escrevendo .nao articula nada nao se organiza para tomada do poder .Dalton Catunda Rocha. - 26/03/2018 15:30:02
Escola pública nunca prestou, nem prestará, no Brasil. Se algum governador ou prefeito deste país quiser mesmo, melhorar a educação, no seu estado ou município; então que faça isto: 1- Privatize todas as escolas públicas. 2- Dê o direito aos pais de escolherem em qual escola particular, eles querem matricular seus filhos, por meio de bolsas de estudo. O resto é só demagogia eleitoreira. Você acha que as escolas públicas funcionam gratuitamente? Enquanto nas escolas particulares, cerca de 70% dos funcionários são professores, nas escolas públicas esta percentagem não passa nem de 40%. O resto é burocracia; corrupta, incompetente e lenta. Sai mais barato e melhor, se usar dinheiro público, para pagar uma mensalidade numa escola particular, que jogar dinheiro fora em escolas ditas “públicas”, mas de fato da CUT, da corrupção e da incompetência. Não concordas? Lembra do tempo (governo Sarney) em que telefonia era monopólio estatal no Brasil? Então,menos de 30% dos brasileiros tinham telefone fixo e um telefone fixo custava o preço de um carro usado, em bom estado. Hoje, 100% da telefonia do Brasil é particular; uma linha ou um chip de telefone celular custa o preço de uma pizza e, até um gari pode ter um telefone celular no bolso. Somente a privatização plena de todo o ensino básico e médio, junto com a privatização da esmagadora maioria do ensino superior, poderá nos dar a esperança de um futuro melhor, para o Brasil. Em resumo. Com escolas sob o controle de marxistas, estaremos fadados a vivermos num país pobre, falido, corrupto e endividado. Tornar um país pobre, num país rico é raridade, mas a Coréia do Sul conseguiu tal feito, graças aos governos de dois generais de 1961 a 1988. Peço a você, que veja a palestra que começa aos seis minutos e vários segundos do site https://www.youtube.com/watch?v=axuxt2Dwe0A