• Percival Puggina
  • 13/05/2015
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UMA "INICIATIVA POPULAR" NÃO MUITO POPULAR


 A CNBB, há vários meses, se empenha em uma campanha para coletar 1,5 milhão de adesões ao seu Projeto de Reforma Política Democrática e Eleições Limpas". Não está fácil. Datas de lançamento e datas de encerramento são definidas, aparentemente sem sucesso. Ou com sucesso? Não tenho como saber. O número de adesões à campanha é um segredo sob sete chaves.

 Já escrevi vários artigos a respeito. O assunto me interessa tanto para fins de análise política quanto na condição de católico. Vejo a CNBB reproduzindo, nessa campanha, condutas que, na política, devem ser apontadas como reprováveis. Por exemplo: quantos dos senhores bispos ou padres que mobilizam suas dioceses e paróquias nessa coleta são capazes de fazer uma exposição de 15 minutos que seja, não sobre reforma política, mas sobre o conteúdo do projeto que a CNBB está apresentando?

Pois é... Agora imagine o que estão fazendo com os paroquianos. Suponhamos que consigam, entre os católicos, mobilizar 1,5 milhão de pessoas. Quantos, desse paroquianos, conhecem o que assinaram? A quantos foi informado que esse é o projeto que interessa ao PT? Quantos sabem que num país onde uma eleição parlamentar custa um absurdo o projeto está determinando que os mandatos sejam objeto de duas eleições sucessivas, cada uma com sua própria campanha? Onde uma eleição custa caro, o projeto propõe duas - uma em lista, disputada entre os partidos, para determinar o número de cadeiras que corresponde a cada um, e outra com voto nominal nos candidatos para determinar os eleitos em cada partido. Quantos sabem dessa onerosa novidade?

O site da Coalizão por uma Reforma Política Democrática e Eleições Limpas abre uma telinha onde se lê que "Sua assinatura faz lei". Faz? É claro que não! Quem faz lei é o Congresso Nacional e o projeto de iniciativa popular somente se tornará lei se for aprovado pelo parlamento, coisa altamente improvável porque a maioria parlamentar não parece interessada em aprovar uma reforma política que tenha bênçãos do PT.

Finalmente, um dos aspectos mais valorizados da pretendida reforma é a assim chamada "participação popular", ou seja, a democracia direta. Ora, as experiência de democracia direta não mostram somente sua inviabilidade para as sociedades de massa. Revelam, também, que as mesmas são instrumentos de manipulação. Democracia direta é reunir-se com os companheiros e proclamar que o povo decidiu. No projeto, contudo, a "democracia direta" vira plebiscitária, estabelecendo que as "grandes questões nacionais", como venda de patrimônio público, privatizações, concessões de serviços, grandes obras com impacto ambiental, sejam antecedidos por plebiscito. "Para o mundo que nós vamos debater e decidir!". Democracia plebiscitária é o antônimo de democracia representativa. Entrega as grandes decisões à demagogia dos demagogos e à velocidade das discussões sem fim.

Quando a CNBB afanosamente busca entre os fiéis 1,5 milhão de assinaturas para sua reforma política de "iniciativa popular", não está ela desconsiderando as dezenas de milhões de católicos que não assinaram coisa alguma? Não está ignorando todos os padres e bispos que preferiram não submeter a proposta a suas dioceses e paróquias e todos os que saíram das missas sem assinar? Trata-se de uma iniciativa popular não muito popular, ao que parece.

Por fim, não entendo a ira que suscitam em alguns bispos os leigos que se rebelam contra a posição e o comprometimento da CNBB quando ela invade, na esfera política, a área das "soluções concretas", em relação a cujas divergências a sã doutrina sempre recomendou prudente distância.

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.

 


mira Goldenberg -   24/05/2015 14:32:04

É incrivel como a CNBB quer mandar. Cada macaco no seu galho. Na igreja que se reze , e os padres rezem missa, e deixe o povo decidir com eleições livres e honestas.

marcio carlos -   22/05/2015 04:41:59

Eu tenho prestado atenção na CCNBB (confederação comunista nacional dos bispos do brasil) e voce tem razão. Viu a entrevista do ex-presidente dela? Rasga elogios ao PT e Dilma. Não pedem para divulgar entre os fiéis a roubalheira do PT. Não fazem aquilo que seria o mister de um Apóstolo de Cristo em serem vozes contra a baderna no governo e no Congresso. Fazem procissão para vir chuva e nada sobre as barbaridades que vemos todos os dias na midia na politica. E as musicas da CF? São lobos em pele de cordeiro mas como para o católico comum tanto faz, eles continuaram a falar e fazer besteiras que nada tem em comum com a doutrina de Igreja. Sou católico e tenho pena dos inocentes-úteis que serão usados nas paróquis

ELEUTERIO LANGOWSKI -   17/05/2015 18:43:15

Esse projeto é da CNBB - Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros e não da Igreja Católica. Saliente-se que a CNBB é linha auxiliar do PT, prega ideologia marxista e não exerce hierarquia sobre os bispos porque não é órgão da Igreja, é apenas uma organização não governamental (ONG). Por pregar ideologia marxista comunistas, seus bispos que comumgam com essa idéia, estão excomungados pelo Decreto do Papa Pio XII.

Gustavo Pereira dos Santos -   15/05/2015 04:42:26

A Igreja virou sede do PT? Tem que fazer escândalo e denunciar like Marco Rossi. Bons exemplos devem ser seguidos. Abraços, Gustavo.

Luiz Alberto Mezzomo -   14/05/2015 15:55:50

Maria Ines (comentário de Ponta Grossa). O correto é falar para o padre dar a benção final, para depois fazer proseletismo.

Caxião -   14/05/2015 14:24:08

É empres ário, dizer o que!?

Data Venia -   14/05/2015 04:16:09

Por favor, Percival, escreva um artigo sobre a Marcha pela Liberdade. Mais uma façanha de Kim Kataguiri e seus companheiros do Movimento Brasil Livre. Eles ajudaram a colocar mais de 3 milhões de pessoas nas ruas em março e abril. Agora, estão caminhando de São Paulo a Brasília (cerca de 1000 quilômetros!), para liderar um protesto no dia 27 deste mês, em frente ao Congresso, pedindo o fim do DESgoverno Dilma. Os petistas e seu braço armado, o MST, já estão ameaçando interromper esta incrível caminhada. Precisamos divulgar e apoiar o MBL. Eles têm menos de um ano de vida, mas já fizeram mais estragos na nau petista do que o PSDB em doze! Eu tiro o meu chapéu, levanto e aplaudo de pé estes jovens.

Maria Ines Pinto Rocha -   14/05/2015 02:44:28

Hoje,13 de maio,na cidade de Ponta Grossa,PR,durante os avisos paroquiais,o padre pediu para os fieis assinarem o projeto politico.Minha filha,que eh muito politica,saiu da igreja furiosa com a atitude do padre. O que poderia se fazer neste caso?

Sérgio A.Oliveira -   14/05/2015 01:06:45

Muito bem colocado o problema. O autor demonstra com muita propriedade a "palhaçada" que é esta tal de "democracia direta"da Constituição. São tantas as dificuldades para realizar plebiscito ou referendo que eles somente sairão com a aprovação do Poder legislativo Federal. O povo manda "merda nenhuma". A possibilidade é só em tese,na prática impossível. Mas parece que a CNBB também já foi "aparelhada "pelo PT. Mas essa ginástica até pode funcionar. Se a CNBB conseguir as assinatura que pensa,é lógico que os parlamentares vão tocar o plebiscito para a frente,dizendo que"foram padres que pediram". Tudo sob combinação,é claro.