• Percival Puggina
  • 08/04/2024
  • Compartilhe:

Tudo que é podre termina no chão.

 

Percival Puggina

         O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Por isso, os homens de grande poder, quase sempre são homens maus. (Lord Acton, in  Letter to Bishop Mandell Creighton, April 5, 1887)

Essa frase do conhecido historiador britânico que viveu no século XIX é mais conhecida do que ele mesmo. No entanto, em tempos de oligarquia, quando no elegante dizer de Ruy Barbosa se agigantam os poderes nas mãos dos maus, é importante mantê-la em nossa mente, soando seu alerta.

No Brasil onde vejo ladrões serem soltos e receberem de volta o produto de seu roubo, pessoas de bem serem presas e perderem seus direitos e sua liberdade, vejo também milhões de brasileiros de consciência rota, se divertirem com isso fazendo piadas e memes. Quanto tempo no sofá, assistindo à Globo, é necessário para obter esse desastre moral? Quanto tempo para um esquerdista achar que censura é coisa útil e boa, inerente ao regime democrático? Quanto tempo para nossas instituições terem de ouvir de um norte-americano, como Elon Musk, o quanto estão erradas? Por isso, repito: tudo que é podre, um dia cai no chão. Nosso trabalho como cidadãos é sacudir o galho que esteja ao alcance da mão.

No início dos anos 80 do século passado, diante do que víamos acontecer no país, nos reunimos num pequeno grupo de pessoas católicas para criar e ministrar cursos de Formação de Senso Crítico. O tema e o conteúdo se impunham. A sociedade se transformava e se moldava ao ditame dos grandes meios de comunicação, especialmente aos hábitos e condutas induzidas pela poderosa Rede Globo. As novelas comandavam os padrões de consumo, a moda, a linguagem e as rotinas sociais. O resultado podia ser medido em degradação, com afrouxamento dos laços familiares, instabilidade das relações parentais e esvaziamento da autoridade moral.

Os efeitos eram percebidos nas famílias, no embalo das madrugadas festivas, no abandono paterno, nas adolescentes grávidas, na zorra das salas de aula, no alcoolismo juvenil, na expansão do consumo de drogas, no abandono das práticas religiosas, no grande número de divórcios e nos consequentes desarranjos familiares. A lista já era grande.

A equipe do curso, ministrado em paróquias e escolas, tinha apenas cinco pessoas e a demanda ia muito além da nossa capacidade de atendimento. Ainda assim, conseguimos mantê-lo por alguns anos e só se extinguiu quando a atividade particular de seus membros os dispersou para destinos distantes da capital gaúcha.

A grande motivação para a missão que havíamos assumido era aquilo que, então, se chamava “crise dos valores”. Bastava usar a expressão para que todos entendessem a importância e a necessidade daquele conteúdo. Eu ministrava a palestra sobre Valores Morais, dos quais destacava cinco assuntos: Amor, Justiça, Liberdade, Respeito e Honestidade.

A juventude, desde sempre, é alvo prioritário dos inimigos do Bem e dos fraudadores da verdade, que se instruem e se preparam para avançar sobre ela. De nossa parte, cuidávamos de mostrar aos adultos aos quais falávamos que Valores, assim, com V maiúsculo, são bens que se planta e cultiva. Os principais semeadores são as famílias, as escolas e as igrejas.

Crianças, de modo especial, são verdadeiras esponjas de absorver e processar informação. Aprendem do que veem e sentem em palavras, imagens e exemplos, ações e omissões de pais, professores, religiosos, comunicadores.

Lembro que muitas vezes, os casais presentes naquelas palestras se entreolhavam, interrogando-se mutuamente, quando dizia que os pais são mestres, querendo ou não, por ação ou omissão. São mestres do amor ou do desamor, da verdade ou da mentira, da justiça ou da injustiça.

São reflexões que me vem de tempos antigos. Me faz feliz lembrar que, lá atrás, aquele pequeno grupo em Porto Alegre anteviu os primeiros sintomas do que iria eclodir nas décadas seguintes, transformando a crise de valores na guerra de uma civilização contra si mesma.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 


Dalia Schneider -   11/04/2024 11:10:52

muito bom seu texto, senhor Percival. Como seria importante termos, nos dias atuais , cursos de Formação de Senso Critico.

Elton Antonio y -   11/04/2024 10:18:09

Prezado Professor. Para eu o problema está essencialmente nas famílias. Uma família bem constituída com valores inegociáveis, geram ótimos frutos, independente do " tiroteio" externo. Os exemplos dentro do núcleo familiar é o que fica. Palavras se apagam com o tempo.

Afonso Pires Faria -   11/04/2024 08:41:39

Parabéns professor. Brilhante e certeiro como sempre. É triste ver que a nossa juventude prefere os meios digitais a uma boa e velha palestra presencial. Triste fim!

IGNÁCIO JOSÉ DE ARAUJO MAHFUZ -   11/04/2024 08:24:33

Percival, Caro Mestre Puggina. SAÚDE E PAZ! Realmente, triste e infelizmente, o nosso(?) Brasil "pulou" o estágio do amadurecimento - APODRECEU DE VEZ! Resultado: ESTAMOS SOB O TACÃO DA NARCOCLEPTODITADURA DO LULADRÃO SEMPRE LULADRÃO SEMPRE BANDIDO E SUA QUADRILHA E, PIOR, COMANDADOS PELA PIOR ESPÉCIE DE BANDIDOS - OS BANDIDOS QUE USAM TOGAS! Fraternal abraço, Ignácio Mahfuz, Nova Prata

JUDSON -   11/04/2024 04:31:13

CONVITE DA SABEDORIA A suprema sabedoria altissonantemente clama nas ruas; nas praças levanta a sua voz. Do alto dos muros clama; às entradas das portas e na cidade profere as suas palavras: Até quando, ó estúpidos, amareis a estupidez? e até quando se deleitarão no escárnio os escarnecedores, e odiarão os insensatos o conhecimento? Convertei-vos pela minha repreensão; eis que derramarei sobre vós o meu; espírito e vos farei saber as minhas palavras. Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção; antes desprezastes todo o meu conselho, e não fizestes caso da minha repreensão; também eu me rirei no dia da vossa calamidade; zombarei, quando sobrevier o vosso terror, quando o terror vos sobrevier como tempestade, e a vossa calamidade passar como redemoinho, e quando vos sobrevierem aperto e angústia. Então a mim clamarão, mas eu não responderei; diligentemente me buscarão, mas não me acharão. Porquanto aborreceram o conhecimento, e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram o meu conselho e desprezaram toda a minha repreensão; portanto comerão do fruto do seu caminho e se fartarão dos seus próprios conselhos. Porque o desvio dos néscios os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá. Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará tranquilo, sem receio do mal. Bíblia Sagrada - Provérbios 1

Juan Albornoz -   11/04/2024 04:16:26

Caro Puggina, Seu artigo é muito enriquecedor; andei sobre meus 82 anos e sumi entre lembranças de tempos em que era fácil encontrar alguém para uma conversa com conteúdo, sentido, enrriquecedora. Espero que esses velhos espiritos voltem nas novas gerações para o bem da humanidade. Agradeço a oportunidade que gerou minhas lembranças às 04:15h

Aristides Paulo Bezerra leite -   10/04/2024 20:33:02

Como sempre,belo artigo,pena que nosso brasileiro é fácil e aculturado

Beatriz regina cherubini ALVES -   10/04/2024 20:13:41

Lendo teu texto lembrei que participei das palestras junto com meu marido já falecido.Armando Alves. Era realmente muito interessante e juntava um grupo bem diferenciado e preocupados com os valores morais da família.Um abrção Puggina.

Junior -   10/04/2024 18:54:39

Muito bom texto! Me faz lembrar da minha juventude! Parabéns

Dagobertp Godoy -   10/04/2024 18:50:40

Julgaram já ter se apossado do poder, para tanto "capazes de fazer qualquer coisa". Mas cairão sim, pela ausência de conteúdo moral, pelas disputas internas por poder, riqueza e glória que não merecem.

Sergio Augusto kerber Jardim -   10/04/2024 18:28:56

Como sempre, mais um alerta. Porém poucos homens perceberam. Em especial do congresso. Grato mestre.

Miguel Gonçalves -   10/04/2024 17:50:22

Prezado senhor Puggina, boa tarde!!! Moro aqui no Sul de Minas há quase 20 anos, e acompanho seus escritos e compartilho com suas posições sobre esse assunto. Sou da época que tínhamos na escola, a matéria "Educação Moral e Cívica", excluída da grade curricular em 1993. Afinal de contas, a quem interessa toda essa baderna que estão implantando??? Quem está por detrás de tudo isso??? Porquê??? Gostaria que o senhor dissertasse sobre isso. Um abraço fraterno!!!

Odilon Rocha -   10/04/2024 16:46:32

Caro Professor Urge que sacudamos a árvore a tempo.

Maria Inês Medeiros -   09/04/2024 19:42:22

Parabéns, Puggina, por esse trabalho do passado que por certo plantou sementes que hoje brotam. Se voltares a ministrar curso online ou presencial, quero fazer!

Daltro Lucena Ulguim -   08/04/2024 18:23:17

O comentário é: Disse tudo. Sem comentário. 👏👏👏👏👏👏👏👏

Antonio Bastos -   08/04/2024 18:13:50

Prezado Puggina, o texto nos remete para boas reflexões. Uma delas, é que quem é forjado em bons princípios e valores, quando conquista certo poder não é corrompido. O que é um seu caso adquirido com o poder da pena. Já aquele agente público, com passado nebuloso e princípios e valores duvidosos, o poder foi-lhe dado por um político também de igual caráter. Boa coisa não podua ser como agente público.

Menelau Santos -   08/04/2024 13:38:52

Maravilhoso texto, Professor. Ouvir de um bilionário estrangeiro o que deveríamos ouvir de nossos intelectuais foi doído (ou doido, sem acento). "Princípios importam mais que lucro". Karnal, Pondé, Cortella e outros ficaram devendo essa pro nosso amigo gringo.