• Percival Puggina
  • 18/12/2017
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STF USURPADOR

 

“Essas questões todas deveriam realmente ser resolvidas pelo Parlamento, mas acontece uma questão muito singular: o Parlamento não quer pagar o preço social de decidir sobre aborto, sobre união ‘afetiva’ e outras questões ‘que’ nos falta capacidade institucional. Então, como eles não querem pagar o preço social e como nós não somos eleitos, nós temos um grau de independência maior porque nós não devemos satisfação, depois de decidir, a absolutamente mais ninguém. (...) O judiciário decide porque há omissão do Parlamento”. (Ministro Luiz Fux, transcrição literal do áudio com sua fala)

 A manifestação acima, que pode ser ouvida aos 18min e 48seg deste aúdio e lida em matéria do Estadão aqui, define muito bem o que passa pela cabeça dos nossos “supremos”. No exercício de suas atribuições, os onze membros do STF creem tudo poder. Julgam não estar submetidos sequer à Constituição. Substituem-se aos congressistas para legislar e para deslegislar. A opinião de cada um e da maioria é a própria lei. O que seis decidem é irrecorrível. Pouco se lhes dá o que as pessoas pensam deles, como bem observou o ministro Fux na espantosa declaração acima.

Para ainda maior azar da sociedade, a sucessão de dois governos mencheviques do PSDB por dois governos bolcheviques do PT formatou esse STF “progressista”, em completa dissonância com as posições conservadoras e liberais majoritárias na sociedade. Não se trata de dever ou não satisfações públicas; mas de usurpar ou não atribuições de outro poder.

Alega o ministro Fux, em sua argumentação, que o STF, por omissão do Parlamento, é chamado a deliberar em relação a certas matérias que chegam à Corte. E então faz o que faz. Mas o que é isto, ministro? Quer dizer que se o Congresso Nacional não “corrige” a Constituição ao gosto do STF, o STF corrige a Constituição a contragosto do Congresso? Que absurdo! Qualquer pessoa com alguma experiência legislativa sabe que raramente são pautados para votação nos parlamentos projetos de relevo em relação aos quais o autor ou autores não têm certeza de aprovação. Não é razoável fazê-lo antes de haver maioria favorável porque projeto derrotado vai morar no arquivo. Isso faz parte do bê-á-bá na vida parlamentar. E ministros do STF o desconhecem?

Os pleitos a que se refere Luiz Fux já foram longamente deliberados pelo Congresso em seu cotidiano. E este vem decidindo não mudar a Constituição, mantendo os correspondentes preceitos na forma em que foram definidos pelos constituintes originários em 1988. Tal fato é de uma obviedade ululante, como diria Nelson Rodrigues. Perante essas pautas levadas a seu exame, o STF deveria rejeitá-las por inconformidade com a letra clara da respectiva norma constitucional. Interpretá-la de modo diverso ou reverso candidata os julgadores a uma paraolimpíada de língua portuguesa. Ou ao ainda mais triste papel de usurpadores do Poder Legislativo.


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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Jose Arinos Teixeira -   22/12/2017 18:03:06

Prezado Prof. O STF em sua atual composição carece até de legitimidade, pois muitos foram sabatinados e aprovados por parlamentares comprados via mensalão. Saul Alinski dizia que o verdadeiro revolucionário não exibe seu radicalismo, ele corta o cabelo, veste um terno e infiltra o sistema por dentro. Tente imaginar quantos agentes do comunismo petista e psdbistas estão infiltrados nas instituições! O maior golpe do STF foi a derrubada da clausula de barreira, legalizando a extrema-esquerda e os partidos nanicos de aluguel. Parabéns pelo artigo.

Oliveira -   19/12/2017 14:37:05

Uma lição que aprendi (no recente debate entre Olavo de Carvalho e Paulo. R. de Almeida transmitido pelo Brasil Paralelo) é a de que mesmo sendo impossível a realização final de um certo empreendimento, nada impede de que assim mesmo se tente executar o plano. Esses demagogos sabem o que estão fazendo, sabem que a contradição dos sues argumentos é patente, mas o que parece é que estão mais interessados nos estragos da desordem que geram.

Odilon Rocha -   18/12/2017 22:20:11

Caro Professor Cruzamento de mencheviques com bolcheviques só pode dar nisso. Mas é claro que o STF sabe que deveria rejeitar tais pautas. É tudo de caso pensado; tudo nos conformes com o alinhamento globalista.

Aloisio Siscari -   18/12/2017 18:02:28

Aborto é crime e assim já diz a lei penal. Se o Congresso não quer mudar a lei, não cabe ao SFT fazer a mudança. Casamento já é tratado na Constituição Federal. Se o Congresso não quer mudar a lei, não cabe ao SFT fazer a mudança. Essas matérias estão em voga e urgem novas decisões sobre os assuntos? Então que se faça um plebiscito. O STF não representa a vontade do povo.