• Percival Puggina
  • 03/01/2011
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QUEM VIVER, VERÁ

Tenho um amigo muito antipetista. Já reparaste que o Fernando Henrique só errava quando dava bola para o que o PT dizia? E que o Lula só acerta quando vai contra o PT?, costuma ele afirmar com um ar de quem, de tanto ver o mesmo filme, já boceja apenas por ouvir o nome dos atores. Meu amigo está convencido de que a oposição brasileira, para voltar ao poder, precisa parar de fazer o que está fazendo (se é que está fazendo alguma coisa) e começar a estudar o PT. Crês que a oposição vai derrotar o PT com discurso moralista? Com teses sobre o Brasil? Com visão de história? Com críticas construtivas? Papo furado, cara!, diz ele. O PT começa a trabalhar o eleitor desde que ele entra na estufa da maternidade. Lá já tem uma atendente criticando o sistema ou um dindinho militante para dar ao bebê um carrinho equipado com bandeira vermelha. No fundo, é isso mesmo. A coisa começa cedo e passa pelas experiências coletivistas do maternal. Engrossa nos cursos fundamental e médio, quando o sistema cai nas mãos dos pedagogos marxistas, do politicamente correto (e do democraticamente incorreto), do Cpers, da relativização da verdade e do bem, da tolerância com tudo que está errado e da intolerância para com quem se atreve a apontar quaisquer erros. E vai adiante com o controle dos sindicatos, dos fundos de pensão (oba!), dos movimentos sociais, de uma constelação de ONGs (oba!), dos cursos de graduação e de pós, das carreiras jurídicas, dos seminários e cursos de teologia, da CNBB, da cozinha dos jornais, do escambau. Se o convidarem para um clube do Bolinha, leitor, em seguida você descobrirá que o bolinha que manda é companheiro. Quando eu estava meditando sobre essa lista, meu amigo perguntou: Os sindicatos a que te referes são de trabalhadores ou patronais?, ao que eu esclareci - De trabalhadores, claro. Mas ele me advertiu que também as organizações patronais vêm sendo aparelhadas desde que o partido assumiu o controle do BNDES. Imagine o leitor: temos no Brasil empresários tão petistas quanto seus operários. E arrematou ele: Por motivações opostas. Certa feita, quando o governo Lula se recusou a receber as rodovias pedagiadas do Rio Grande do Sul, ele me olhou com aquele ar de aí tem coisa e sentenciou: Se o Tarso vencer, essas estradas vão para a União em estojo de veludo e serão recebidas com pompa e circunstância. Eu o chamei de paranóico e me recusei a continuar a conversa. Imagina! Só tu para afirmar um absurdo desses. Quem viver, verá! exclamou. Pois não é que ele tinha razão? Logo, logo, o pepino sairá das mãos do governador Tarso e irá para o colo da presidente Dilma. Mudaram as condições políticas é a frase com que o PT explica tamanha contradição. Mas voltemos ao meu amigo. Diz-me ele: Ninguém pode acusar o PT de fazer oposição cordial, bem educada, respeitosa, construtiva. Como o boxeador martela o fígado do adversário, ele cuida de desfigurar a imagem do opositor. Nariz, lábio e supercílio. Vencido o pleito, ocupada a cadeira, passa a cobrar o quê de seus opositores? Colaboração, e fidalguias. Talquinho e perfume. E até essa oposição esgualepada, esmilinguida, que aí está, passa a ser radical, insuportável e impertinente. Quem viver, verá. ZERO HORA, 02/01/2011