• Percival Puggina
  • 09/11/2022
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Que Congresso é esse?

 

Percival Puggina

 

         O ápice do desrespeito é a perda do respeito por si mesmo e, com sitiadas exceções individuais, membros das duas Casas acomodaram-se em poltronas nesse patamar. Que raios de Congresso foi esse que elegemos em 2018?        

Eleitos para representar a sociedade, como expressão de sua soberania, dedicam-se, em ampla maioria, a fazer negócios, cuidar de reeleições, usar recursos públicos para objetivos políticos pessoais e perenizar currais eleitorais.

Não veem povo, sem alternativas, à porta dos quartéis pedindo aos militares que façam o que eles, detentores de mandato, não fazem? Veem, sim, mas não são freio nem contrapeso, não são coisa alguma e para nada servem, seja nas calmarias, seja nas tormentas.

Afundam com o navio ao som de um coral de puxa-sacos “lá nas bases”.

Que fracasso! Durante quatro anos, a nação, aos milhões, lhes falou desde os megafones e microfones, em extraordinárias jornadas cívicas. De nada valeram as advertências proclamadas pela voz das ruas! De nada. Nem mesmo para que protegessem as próprias prerrogativas! Ministros do STF usurpam-lhes o poder, escrituram em nome de 11 pessoas as vias digitais e nelas silenciam-lhes as vozes.

Não perceberam ainda? Privados os parlamentares das redes sociais, o plenário vira gaiola e a tribuna poleiro de onde deputados e senadores falam, uns aos outros, em circuito fechado. Como toleram isso?

Cada medida autocrática contra um congressista é um insulto ao parlamento. De tão frequente e tolerada, a situação faz lembrar o que escreveu Eça de Queiroz”, referindo-se às Cortes portuguesas em uma de suas Farpas: “É uma escola de humildade este parlamento! Nunca, em parte nenhuma, como ali, o insulto foi recebido com tão curvada paciência”.

Essa curvada paciência, porém, esgotou a tolerância do povo que não aceita a patrulha do pensamento nem a gradual, mas constante e crescente, perda de suas liberdades. Quem não entendeu isso não entendeu coisa alguma.

Que o próximo parlamento, com honra e dignidade, retome o verdadeiro sentido da representação popular, para volta da democracia e da liberdade.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Sueli Supplizi Abate -   11/11/2022 18:18:28

A maioria dos políticos tem rabo preso com processos no STF, COVARDES.

José Rui Sandim Benites -   11/11/2022 07:32:22

O congresso representa a sociedade brasileira. E parte da sociedade doente. Por que elege um projeto de gestão desenvolvimentista, estatizante, sem teto de gasto, contra reformas, contra privatizações e financiado pelo Estado. Um Estado endividado que o orçamento de 50% para pagar juros da dívida, 20% para previdência, 9% para transferência para Estado e municípios, 4% saúde. Enfim, não há espaço para endividamento. Com carga tributária beirando a 40% do PIB. Não há espaço para aumento da carga tributaria. E já querem mais 175 bilhões com uma PEC de transição (kamikase). Uma tragédia anunciada. Sem contrapartida de cortes no orçamento. Vai gerar mais endividamento e inflação. Infelizmente o futuro está se desenhando para tempos sombrios.

carlos edison domingues -   09/11/2022 22:55:12

PUGGINA. O comprometimento, desmoralizante, de traidores do mandato, submetidos ao tacão vergonhoso do S. T. F. degradou a confiança e o respeito da Nação. Carlos Edison Domingues O.A.B. RS nº 3.626

Manoel Luiz Candemil -   09/11/2022 16:27:43

Puggina, esse congresso simplesmente é formado com ampla maioria de senadores e deputados federais do norte e nordeste brasileiro, regiões nas quais dizem que Lula teve ampla maioria dos votos. Não estranha, por isso, a ocorrência assinalada no artigo.

Menelau Santos -   09/11/2022 13:47:16

Prezado Professor, muito bem colocada a sua indignação. O problema não é conviver com pessoas medíocres, safadas, fisiológicas, imediatista e irresponsáveis. Isso sempre houve no mundo e sempre haverá. O problema é que essas pessoas atualmente é a grande maioria.