Percival Puggina
Poucos homens são suficientemente sábios para aprender, na observação dos acontecimentos de seu tempo, lições cuja validade se impõe durante os séculos seguintes. O inglês Edmond Burke foi um deles.
O caos ainda não se instalara completamente. A Assembleia Constituinte francesa já revelara, porém, sua intenção de demolir as instituições do Antigo Regime. Somente mais tarde o sangue iria marcar para sempre o solo da Place de la Concorde. Burke, contudo, já escrevia e publicava, em 1790, sua obra mais notável: “Reflexões sobre a revolução na França”. O que aconteceu naquele fim de século merece capítulo especial no cadastro mundial das insanidades. Ao mesmo tempo, é festejado berço da mentalidade revolucionária que ainda hoje causa alvoroço em muita gente doida e dano severo à vida de tantos povos.
Quantas vezes li que grandes mudanças para melhor não acontecem sem derramamento de sangue! Uau! Quem o propõe jamais cogita do próprio sacrifício. Sua sede é de sangue alheio e, se possível, em pouca quantidade para não ser repulsivo perante a História. Consultem os povos que viveram revoluções sangrentas. Perguntem aos russos de 1917 se valeu a pena derramar o sangue da família Romanov. Perguntem o mesmo às vítimas do comunismo chinês e às dezenas de milhões que sucumbiram à fome e à violência impostos por Mao Tsé-Tung.
Façam isso, também, no Camboja, no Laos, no Vietnã e na Coreia do Norte. Perguntem às vítimas da revolução em Cuba, às do sandinismo na Nicarágua e às do bolivarianismo na Venezuela. Noutra de suas faces, a desumanidade dos totalitarismos regados com sangrias revolucionárias e liberticidas, se expressa na pergunta: seus povos vivem melhor hoje do que viviam então? As respostas farão você chorar de comiseração.
Nada que tenha algo a ver com democracia pode ser aprendido das lideranças chinesas, russas, iranianas, venezuelanas, cubanas ou nicaraguenses! Nem de quem for adversário da liberdade de expressão, como a Organização Comunistas Sem Fronteira (também conhecida por Foro de São Paulo) ou o Sul Global. Muitos dos males que nos atormentam resultam de realidades que, antes, nos recusamos a ver.
Entre elas, nosso modelo institucional ficha suja, porque dinheirista e mercantil, que piora a cada oportunidade de promover alguma retificação e se constitui numa usina de más possibilidades. Na sua versão 2025/2026, turbinada, esse modelo já jogou a liberdade e a democracia para o acostamento e seguiu em frente, negando assistência às vítimas. Não desista da política porque se desistir, você passa a ser um problema resolvido.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Carlos Mansur - 21/06/2025 08:04:36
O pior é o desalento que dá observar a quantidade de pessoas, muitas bem formadas, apoiarem o inconcebível. Justificarem o quê não é possível justificar, e serem o apoio para uma ditadura e desestruturação do arcabouço legal do país.Pádua Queiroz - 19/06/2025 11:02:37
Se é extremamente difícil imaginar uma reforma, para melhor, autoimposta pelo sistema político e parasítico, o que poderíamos dizer do rompimento de tal sistema? Seria a famosa "sinuca de bico"?marisa van de putte - 16/06/2025 12:50:17
Porque nao aprovei Obama. O slogan de Obama para a campanha presidencial de 2008 era," Change we can believe in." Para 2012 ," Yes we can." A partir de 2008 o pais se dividiu. Esse slogan causou uma revolucao entre nos e eles. Causou tambem uma confusao mental estarrecedora na mente dos jovens. Todo pais tem problemas e para resolve-los procuramos solucoes . Nao e de mudancas que precisamos, e de aprimoramento do sistema. O americano esta ha mais ha dezessete anos a deriva. E lamentavel.Carlos Roberto Vieira da Silva - 16/06/2025 09:45:28
!Não desista da política porque se desistir, você passa a ser um problema resolvido." Percival Puggina Antológico.Afonso Pires Faria - 15/06/2025 10:54:03
Brilhantes colocações. Li Burke, após ter lido Tocqueville (Da democracia na América). Impossível não concordar com tudo o que dissestes. Parabéns e obrigado.