• Percival Puggina
  • 14/06/2025
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Instituições não se derrubam, se reformam

Percival Puggina

 

         Poucos homens são suficientemente sábios para aprender, na observação dos acontecimentos de seu tempo, lições cuja validade se impõe durante os séculos seguintes. O inglês Edmond Burke foi um deles.

O caos ainda não se instalara completamente. A Assembleia Constituinte francesa já revelara, porém, sua intenção de demolir as instituições do Antigo Regime. Somente mais tarde o sangue iria marcar para sempre o solo da Place de la Concorde.  Burke, contudo, já escrevia e publicava, em 1790, sua obra mais notável: “Reflexões sobre a revolução na França”. O que aconteceu naquele fim de século merece capítulo especial no cadastro mundial das insanidades. Ao mesmo tempo, é festejado berço da mentalidade revolucionária que ainda hoje causa alvoroço em muita gente doida e dano severo à vida de tantos povos.

Quantas vezes li que grandes mudanças para melhor não acontecem sem derramamento de sangue! Uau! Quem o propõe jamais cogita do próprio sacrifício. Sua sede é de sangue alheio e, se possível, em pouca quantidade para não ser repulsivo perante a História. Consultem os povos que viveram revoluções sangrentas. Perguntem aos russos de 1917 se valeu a pena derramar o sangue da família Romanov. Perguntem o mesmo às vítimas do comunismo chinês e às dezenas de milhões que sucumbiram à fome e à violência impostos por Mao Tsé-Tung.

Façam isso, também, no Camboja, no Laos, no Vietnã e na Coreia do Norte. Perguntem às vítimas da revolução em Cuba, às do sandinismo na Nicarágua e às do bolivarianismo na Venezuela. Noutra de suas faces, a desumanidade dos totalitarismos regados com sangrias revolucionárias e liberticidas, se expressa na pergunta: seus povos vivem melhor hoje do que viviam então? As respostas farão você chorar de comiseração.

Nada que tenha algo a ver com democracia pode ser aprendido das lideranças chinesas, russas, iranianas, venezuelanas, cubanas ou nicaraguenses! Nem de quem for adversário da liberdade de expressão, como a Organização Comunistas Sem Fronteira (também conhecida por Foro de São Paulo) ou o Sul Global. Muitos dos males que nos atormentam resultam de realidades que, antes, nos recusamos a ver.

Entre elas, nosso modelo institucional ficha suja, porque dinheirista e mercantil, que piora a cada oportunidade de promover alguma retificação e se constitui numa usina de más possibilidades. Na sua versão 2025/2026, turbinada, esse modelo já jogou a liberdade e a democracia para o acostamento e seguiu em frente, negando assistência às vítimas. Não desista da política porque se desistir, você passa a ser um problema resolvido.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Comentários:


Carlos Mansur -   21/06/2025 08:04:36

O pior é o desalento que dá observar a quantidade de pessoas, muitas bem formadas, apoiarem o inconcebível. Justificarem o quê não é possível justificar, e serem o apoio para uma ditadura e desestruturação do arcabouço legal do país.

Pádua Queiroz -   19/06/2025 11:02:37

Se é extremamente difícil imaginar uma reforma, para melhor, autoimposta pelo sistema político e parasítico, o que poderíamos dizer do rompimento de tal sistema? Seria a famosa "sinuca de bico"?

marisa van de putte -   16/06/2025 12:50:17

Porque nao aprovei Obama. O slogan de Obama para a campanha presidencial de 2008 era," Change we can believe in." Para 2012 ," Yes we can." A partir de 2008 o pais se dividiu. Esse slogan causou uma revolucao entre nos e eles. Causou tambem uma confusao mental estarrecedora na mente dos jovens. Todo pais tem problemas e para resolve-los procuramos solucoes . Nao e de mudancas que precisamos, e de aprimoramento do sistema. O americano esta ha mais ha dezessete anos a deriva. E lamentavel.

Carlos Roberto Vieira da Silva -   16/06/2025 09:45:28

!Não desista da política porque se desistir, você passa a ser um problema resolvido." Percival Puggina Antológico.

Afonso Pires Faria -   15/06/2025 10:54:03

Brilhantes colocações. Li Burke, após ter lido Tocqueville (Da democracia na América). Impossível não concordar com tudo o que dissestes. Parabéns e obrigado.