• Percival Puggina
  • 12/03/2019
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PRONTO, FALEI!

 Não faltará, ante a leitura deste texto, quem diga: “Agora, que alijamos a esquerda do poder, você vem falar nisso?”. Bom, em primeiro lugar, falo nisso há 33 anos, mesmo tempo durante o qual, na companhia de uns poucos em todo o país, clamo por um governo liberal e conservador, contra o esquerdismo hegemônico finalmente derrotado em 2018. Meus leitores menos jovens são testemunhas disso. Em segundo lugar, este é o momento certo para, escancarada a inepta e irracional realidade institucional do país, examinar isso à luz de outro modelo.

 Está na ordem do dia a reforma da Previdência, que Nizan Guanaes denomina “salvação da Previdência” e respeitados economistas chamam “salvação do Brasil”, significando que, sem ela o país será abandonado pelos investidores. O motivo desse possível abandono é –dirão alguns – simples, frio e calculista. Simples como bê-á-bá, frio como a russa Estação Vostok e calculista como um auditor do IRS dos Estados Unidos: nenhum organismo financeiro do mundo empresta dinheiro para custeio de aposentadorias! Não adianta procurar. Mormente se esse financiamento se faz necessário porque se esgotou a capacidade de pagamento do tomador de recursos. Sem novas regras para a Previdência, as perspectivas para o PIB, taxa de juros, Selic e dívida bruta do governo são apavorantes.

 Pois mesmo em presença desse cenário, há resistências à reforma. Ela vem:

• de segmentos sociais cujos interesses ficam contrariados e o egoísmo fala muito alto (há quem julgue virtuosas as motivações do egoísmo...);
• de congressistas temerosos de perder votos porque a prudência que aponta a necessidade de reformar contraria o imediatismo imprudente de muitos eleitores;
• de partidos e políticos que apostam no caos e por ele trabalham, quer estejam no governo, quer estejam na oposição;
• de políticos de péssimo caráter que sistematicamente se valem das urgências nacionais para resolver as próprias, negociando cargos e verbas, no indecente negócio de formação de maiorias (tudo já em curso);
• de eleitores injuriados pelos abusos cometidos nos andares mais altos dos poderes de Estado (também isso a exigir reforma institucional!).

Se aproveito o momento para falar sobre parlamentarismo, não é para transformar Bolsonaro em chefe de Estado e escolher para ele um primeiro ministro, ou vice-versa. Nada disso! Eu o elegi e o quero na presidência, por dois mandatos, se possível. Um modelo de maior racionalidade, estabelecido por reforma bem planejada, deveria prever sua própria vigência para nunca antes do pleito municipal de 2024 e do pleito nacional de 2026, proporcionando aos agentes políticos o necessário tempo de adaptação.

Meu objetivo, aqui, é evidenciar que num sistema de eleição parlamentar por voto distrital, que separe a chefia de Estado da chefia de governo, que seja mobilizado e consagre nas urnas uma proposta de governo, e que atribua a função governo à maioria parlamentar, essa “zona” da política fica mais respeitável. A maioria governante não venderá votos a si mesma...

Os motivos são evidentes. A maioria que elege o governo depende de que o governo vá bem para se manter governando. Governo que perde a maioria cai como goiaba que o bicho comeu por dentro. Essa característica proporciona muito maior estabilidade e cobra efetiva fidelidade dos partidos e seus parlamentares. Congressista infiel à diretriz partidária costuma perder a indicação do seu distrito na eleição subsequente. O presidencialismo gera irresponsabilidade parlamentar e produz impasses que se prolongam indefinidamente, sem solução.

Pronto, falei. Eu sei, temos outras urgências, mas não podemos perder de vista que o modelo institucional brasileiro é ficha suja e já começa a mostrar suas nódoas. É um sistema ruim de carregar nas costas.

* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
 


Francine Teixeira de Barros -   18/03/2019 15:43:41

E agora? Eu não sei quem aplaudir primeiro: se o professor Puggina ou o brasileiro Dalton C. Rocha... Palmas para todos.

vitorio perozzo -   17/03/2019 14:49:12

Parabéns PUGGINA. Comungo em gênero e número com os comentários acima,por isso não preciso me expressar.Uma boa semana.

Dalton C. Rocha -   15/03/2019 18:56:32

Por favor. Sou e sempre fui, direitista assumido. Sou um “coxinha” pleno. Não obstante, eu tenho de dizer, que o sistema político, inclusive a Constituição de 1988, limitam demais aquilo, que um presidente do Brasil pode fazer de bom. Sim, eu acho que Bolsonaro não usará do poder, para o enriquecimento pessoal. Isto serve, como bom item de biografia mas, num país onde tem mais de 50 mil políticos e mais de 90% deles rouba, isto é mais detalhe, que qualquer outra coisa. Um outro exemplo. Acabou o envio de recursos a Cuba. Muito bem, mas incluindo a grana para os médicos cubanos, menos de 0,1% do gasto público do Brasil, nos últimos dois anos foi de fato enviada para Cuba. Mais uma vez, isto é mais um detalhe, que qualquer outra coisa. Na história da humanidade, o país que saiu de país pobre a país rico mais rápido, em todos os tempos, foi a Coréia do Sul, tendo tal país levado mais de trinta anos, neste caminho. Além de ter só um mandato de quatro anos, Bolsonaro ainda por cima não tem nem remotamente, as condições externas e menos ainda internas, que a Coréia do Sul teve de 1960 a 1990. Este é ou deveria ser, o objetivo maior de Bolsonaro: Fazer o Brasil ter um razoável sistema educacional. Sem isto, a crise econômica, que já durou quatro décadas seguirá pelo governo dele, abrindo o caminho para o PT voltar ao poder, no Brasil. Na melhor das hipóteses, o pouco que se sabe de Bolsonaro, o mostra mais como um Pinochet, que uma outra coisa. Ser tal e qual Pinochet na economia é o limite do melhor, que um realista como eu, realmente espera de Bolsonaro. Pinochet fez coisas certas, na economia chilena, concentradas em seus últimos anos de governo. A feliz escolha de Ricardo Velez Rodriguez, para ministro da educação, me deu muita alegria. Afinal de contas, o sistema educacional do Brasil é um lixo. Tornar tal sistema educacional, em alguma coisa, ao menos regular é ou deveria ser, o mais importante objetivo de Bolsonaro. Mantido o sistema educacional do Brasil, mais ou menos do mesmo jeito, que aí está, manterá o Brasil na crise econômica, que o assola há quatro décadas consecutivas. Nesta situação, com a educação no Brasil, basicamente do mesmo jeito, o retorno do PT ao poder, se tornará inevitável, em apenas quatro anos. A esquerda toda sabe disto. É esta, a real fonte de ódio pelo colombiano Ricardo Velez Rodriguez e por Bolsonaro. Que Bolsonaro use cada dia de seu governo, na limpeza do lixo marxista, que há décadas, tomou conta de todo o sistema educacional brasileiro. Trocar inúmeros livros didáticos será, um bom começo. Basta de décadas de livros marxistas sendo impostos, em todos os colégios, às nossas crianças e aos nossos jovens. Eu nasci em 1970 e neste tempo todo, eu vi caírem de podres, vários regimes ou esquemas de poder. Regime Militar, Sarney, Collor, FHC e PT. Todos caíram basicamente, pelos mesmos motivos: 1- Colocaram os juros e o desemprego lá em cima. Ao mesmo tempo, colocaram o crescimento e o desenvolvimento lá embaixo. 2- Colocaram os interesses da especulação e da corrupção, acima dos interesses do povo brasileiro. Tanto faz, a fachada. Tanto faz se sob o general-presidente Figueiredo ou da ex-terrorista marxista Dilma. Estas duas coisas, fazer uma crise econômica e os interesses da especulação e da corrupção, acima de tudo, foram seguidas, com fé fanática, por todos os governos de 1980 até hoje, 2018. Tanto o Regime Militar, como Collor, como o PT, apenas cavaram suas próprias sepulturas políticas, fazendo estas coisas. Dilma, FHCannabis, Figueiredo, etc. tinham fachadas diferentes, mas fizeram a mesma crise econômica, ao povo brasileiro. Quem acabou com Regime Militar foi, o general Figueiredo. E quem tirou o PT do poder foi a Dilma. Aí está, mais um governante, para o Brasil. O Bolsonaro. Se ele seguir estes dois passos acima, Bolsonaro estará cavando sua própria sepultura política também.

Marcos -   13/03/2019 15:44:11

Podemos argumentar para cá, argumentar para lá, e continuarmos cobrindo o sol com a peneira. Ou seja, continuarmos fingindo não enxergar que o verdadeiro problema decorre do fato de que o modelo democrático se exauriu. E a insistência em tal modelo está arruinando com as nações do ocidente, todas.

Odilon Rocha -   12/03/2019 20:23:02

Concordo plenamente. Esse sistema que aí está é a maçã podre do cesto. Um abraço

Roberto -   12/03/2019 19:31:06

Parabéns. Acho que a solução dos problemas só virá, se vier, com o voto distrital e o parlamentarismo.

Sérgio Luiz Zoppas -   12/03/2019 19:08:04

Fico impressionado com a lucidez dos comentários do Puggina. Parabéns e obrigado por mostrar tudo isso.