POR QU?NO TE CALLAS? Folha Ilustrada
MINHA GENTE , estou a cada dia mais perplexo com a performance do nosso presidente Luiz In?o Lula da Silva. N?que ele tenha mudado essencialmente; nada disso, ele se comporta assim desde o primeiro dia de governo: n?desce do palanque.
3 vezes me pergunto se minha crescente perplexidade decorre dessa sua insist?ia que j?ura sete anos ou de alguma outra coisa. Acho que s?as duas: por um lado, j??aguento ouvi-lo falar pelos cotovelos, gesticular e postar-se como um ator num palco e, por outro, percebo-o cada vez mais ?ontade para dizer o que lhe convenha, conforme o momento e conforme o p?co.
Sem nenhum compromisso com a verdade e com a postura de um chefe de Estado.
Ele n?se comporta como chefe de Estado. Fala sempre em termos pessoais, ou louvando-se a si mesmo sem qualquer constrangimento ou acusando algu? seja a imprensa, seja a oposi?, sejam as classes ricas, sejam os pa?s ricos.
Est?todos contra os pobres, menos ele que, felizmente, assumiu o governo do Brasil para salv?os, ap?uatro s?los de implac?l persegui?. Do Descobrimento at?003, ningu?sabe como o Brasil conseguiu sobreviver, crescer, chegar a ser a oitava economia do mundo, sem o Lula! S?de ter sido por milagre ou qualquer outro fator inexplic?l.
A verdade ?ue, apesar de tudo, o pa?resistiu at? momento em que ele, Lula, chegou a tempo de salv?o. Isso ele afirma com uma veem?ia impag?l, como se fosse a coisa mais ?a e indiscut?l do mundo.
Sem rir, o que ?ais surpreendente ainda, diante do olhar espantado de favelados, trabalhadores, funcion?os p?cos, aposentados.
J?uando o p?co muda, ele tamb?muda o discurso. Se fala para empres?os, banqueiros, exportadores, a conversa ?utra. Mostra-se preocupado com o crescimento da economia, com o apoio do BNDES ?niciativa privada e chega mesmo a admitir que sem os empres?os o pa?n?cresceria. E o balan?de final de ano mostra que os bancos realmente nunca ganharam tanto dinheiro como durante a gest?presidencial do fundador do Partido dos Trabalhadores, que se dizia inimigo n?o um deles.
Joga com um pau de dois bicos, mas d?erto. Diz uma coisa para os pobres e o contr?o para os ricos, mas d?erto. Tanto que a sua popularidade cresce a cada nova pesquisa de opini? Na ?ma delas, o ?ice de aprova? de seu governo alcan? mais de 70% e a dele, presidente, mais de 80%. Ele fala, fala, fala, viaja, viaja, viaja; o resto do tempo faz pol?ca. H?ma cumplicidade esquisita: Lula finge que governa, e o pov?finge que acredita.
Mas, infelizmente, os n?os da estat?ica n?conseguem cegar-me. Pelo contr?o, ao ver tamanha aprova? a um presidente da Rep?ca, que busca deliberadamente engazopar a opini?p?ca, preocupo-me. Para onde estamos sendo arrastados? At?uando e at?nde conseguir?ula manipular a maioria dos brasileiros?
Essas considera?s me ocorreram ao ler o discurso que ele pronunciou, no Rio de Janeiro, na favela da Mangueira, ao inaugurar uma escola. De ensino n?falou, claro, j?ue n?l?em escreve. Anunciou a inten? de usar pr?os p?cos desativados como moradia de sem-teto. E aproveitou para mostrar como os ricos odeiam os pobres: disse que os ricos da avenida Nove de Julho, em S?Paulo, n?querem deixar que gente pobre venha morar ali, num pr?o p?co desocupado. Mas n?amos colocar, porque a moradia ?m direito fundamental do ser humano. Palmas para ele!
Nessa mesma linha de discurso para favelados, defendeu as obras do PAC, afirmando que a parcela mais pobre da popula? ?ue ser?eneficiada, e aduziu: Quando a gente faz isso, perde apoio de determinada classe social, porque gente rica n?gosta que a gente cuide muito dos pobres.
O discurso, como sempre, ?trapalhado mas suficientemente claro para que a mensagem seja entendida: os ricos odeiam os pobres, que s?ntam com Lula para proteg?os. A conclus??bvia: se o Lula ? pai dos pobres, quem se op? ele certamente os odeia e ama os ricos.
Assim como se apropriou de tudo o que antes combatera, improvisou o tal PAC, um aglomerado de projetos pr?xistentes de empresas estatais, governos estaduais e municipais, que vai desde o pr?al at? amplia? de metr? o trem-bala.
Mas o investimento do governo federal ?e apenas 0,97% do PIB, menos do que investiu FHC em 2001. Se tudo o que est?li ?i?l ou n? pouco importa, desde que sirva para manter Lula e Dilma sob os holofotes.