• Percival Puggina
  • 25/10/2009
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O PACIENTE MELHOROU DEMAIS

É conhecida a anedota do psiquiatra uruguaio que telefona para um colega de clínica querendo trocar idéias sobre certo diagnóstico que estava prestes a dar. Tratava-se de um caso raríssimo, e ele queria ouvir a opinião do outro. Quando revelou que seu paciente sofria de complexo de inferioridade o colega se surpreendeu: ?Y eso es un caso muy raro? Complejo de inferioridad? Tengo miles de casos así!?. E o primeiro esclarece: ?De argentino??. Lembrei-me dessa anedota ao examinar a conduta do presidente Lula ao longo do exercício de seus dois mandatos. O homem que colocou a faixa no peito em 2003 era um caboclo meio consumido pelas próprias origens, ainda muito próximo delas, inseguro nas aparições oficiais, manifestando ancestral apego à pinga, buchada de bode e outras simplicidades da cozinha nordestina. O novo presidente aparecia em público com gestos contidos e linguajar inadaptado aos usos e costumes da vida presidencial. A toda hora fazia referências à sua condição operária e sertaneja, como que a proporcionar um autodiagnóstico sobre aquela relação meio trôpega com a liturgia do cargo. Sete anos depois, o portador de complexo de inferioridade, que não cansava de se exibir como gente do povão, alma de corintiano, mão de torneiro mecânico, filho de mãe ?que não sabia fazer um ?o? com um copo?, etc. e tal, se apresenta totalmente curado do complexo de inferioridade e precisa, urgentemente, tratar de um injustificável complexo de superioridade. Melhorou demais. Virou o fio. Está se achando, para dizer como a gurizada. Só abre a boca para coisas pretensiosas como emitir lições de sabedoria; exibir como sendo de sua granja colheita que não semeou; comparar-se a Jesus Cristo e determinar os limites para as ações da imprensa e das instituições da República. A buchada de bode e seus assemelhados foram substituídos, até em viagem ao polígono das secas, pela cozinha francesa, vinhos finos e uísques de nobre estirpe e provecta idade. Nada é caro demais ou sofisticado demais, nada é merecedor de suficiente respeito ou demarcador de quaisquer limites ao seu querer. Obama, em Londres, se hospeda na embaixada dos Estados Unidos. Lula vai com a corte, armas e bagagens para um hotel onde a suíte fica em 7,5 mil euros. E é assim, e é sempre assim. Vai esticando ao máximo a misericórdia divina, apesar de sua sabedoria ser uma fraude que não resiste ao menor escrutínio e do imenso contraste que sua jactância estabelece com os pobres que diz representar e cujos interesses apregoa defender. A popularidade lhe subiu à cabeça como vapores alcoólicos. Está inebriado. Ergueu-se vários degraus acima da lei. Sua autoestima não cabe nas bordas constitucionais do cargo que ocupa. Mas nada disso é tão danoso quanto o fato de nosso presidente, nessa fase megalômana, estar consumindo recursos públicos em prodigalidades dignas de um sheik das arábias. Ele bebeu popularidade na vertente estrutural deixada por seus antecessores e nada fez para repor o que consumiu. Curado do complexo de inferioridade, acometido de um complexo de superioridade, Lula inverte a frase de Luís XV: ?Après moi le déluge?. Depois de Lula a seca. Quem chegar em 2011 verá o que é bom para a tosse.