• Percival Puggina
  • 28/07/2016
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O DIREITO DE PROPRIEDADE NOS ENROSCOS DA IDEOLOGIA

 

 O fato de ser a terra um dom do Criador aos homens confere a cada pessoa direito a uma fração dessa Criação? Há quem responda que sim, quem afirme que não, e há quem sustente que o próprio direito à propriedade é um roubo, pois tudo deveria pertencer ao Estado para que, mediante ele, os frutos da natureza pudessem chegar igualmente a todos. Onde essa utopia foi aplicada, só os néscios se surpreenderam com o resultado: o Estado somou poder econômico ao seu poder político, escravizou a sociedade e só produziu miséria.

  No Brasil, a visão coletivista, marxista, se vale da cultura indígena para exibir o estado “natural” e “original” de um mundo sem cercas nem proprietários, onde as necessidades de todos eram atendidas pela natureza dadivosa. Se retirarmos dessa análise o conteúdo poético, nada resta: os índios eram poucos, a terra imensa, e ainda assim havia períodos de escassez. Tal situação foi comum aos povos primitivos, nômades porque precisavam correr atrás do almoço. E quando faltava o almoço, era um alvoroço. O grupo mais forte jantava o mais fraco. A civilização começou exatamente quando - ofegantes e famintos - resolveram parar de correr, começaram a plantar seu próprio alimento, cravaram as primeiras divisas entre as propriedades e os muros foram envolvendo as cidades que nasciam.

  O direito à propriedade privada surgiu, portanto, como uma concepção que corresponde ao bem comum, possibilitando e estimulando a produção e a organização da vida social. Desmentindo Malthus, viabilizou o atendimento das demandas alimentares de populações crescentes, mesmo com a acelerada urbanização das últimas décadas. Regimes que o suprimem geram a fome, o genocídio pela fome e a corrida às fronteiras em busca de alimentos, como agora se vê na Venezuela. Neles, o fracasso é regra sem exceção pela inadequação dos meios aos fins prometidos.

 Ademais, no caso da propriedade da terra, tratamos de um bem não-elástico. Sua disponibilidade não aumenta com a população. O planeta não é inflável. Assim, o direito à terra não pode ser um direito “da pessoa”, nem é um direito que se configure pela simples manifestação do desejo de possuir. Menos ainda é um direito que possa ser exercido automaticamente por quem não tem terra em relação à propriedade alheia. Invocá-lo é tão socialmente nefasto que o Decálogo, há quase quatro mil anos, lista como pecado a simples cobiça dos bens alheios. Finalmente, ainda que existisse, tal "direito" não poderia ser exercido por alguém (viu, MST?) em relação a um bem determinado de outra pessoa, por livre escolha do cobiçoso.

Mas isso não significa que o contínuo parcelamento do solo rural seja um objetivo a ser perseguido. A tendência mundial aponta para propriedades cujas extensões médias já são superiores à brasileira, e indica, também, uma constante redução da população rural. Um expressivo contingente de pessoas ativas no campo é característica compartilhada pelo Brasil com países como Paquistão, China, Etiópia, Índia, Nigéria, e Turquia. Sob o ponto de vista econômico, por fim, evidencia-se que quanto menor a população rural, maior a renda média do campo e maior a produtividade.

Penso, no entanto, que a questão não pode ser vista apenas em perspectiva econômica. Enquanto tivermos áreas não aproveitadas ou subaproveitadas, convém levar em conta o fato de que muitos brasileiros realmente desejam trabalhar a terra e de que a terra trabalhada serve ao bem de todos. Mas é preciso agir dentro do quadro institucional, num cenário político e não revolucionário, buscando a eficiência dos investimentos que a sociedade fará, se decidir que convém fazer. O governo não tem dinheiro seu; ele apenas gere o que a sociedade lhe repassa pelas vias fiscais.

O MST se converteu em uma associação para o crime, a serviço de um partido político e de uma causa ideológica falida. Enquanto esse movimento mantiver qualquer relação de causa e efeito com a questão agrária brasileira, os resultados serão, sempre, social e economicamente desastrosos. Até porque suas ações e a voz de seus líderes evidenciam não pretenderem, mesmo, aquilo que alegam.

A Criação é um dom de Deus aos homens. Foi concedido a todos e a todas as gerações para que a dominassem, deixando aos povos a liberdade de disporem sobre como fazer essa administração. A experiência histórica mostrou, de modo robusto e duradouro, ser a propriedade privada o meio mais eficiente e mais socialmente produtivo para essa gestão. Ela é um dos direitos naturais, junto com a vida e a liberdade. Não é, porém, direito a um conjunto de brindes que se ganhe ao longo da existência, mas algo que deve ser conquistado mediante o trabalho, cabendo ao Estado, em justa medida, viabilizar condições essenciais aos mais carentes, mediante Educação e capacitação para a vida produtiva.
 

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


fabrice -   29/07/2016 19:18:34

Tive contato direto com os sem-terra, no Paraná, na década de 90, quando as invasões se sucediam lá, às margens do rio Paraná, e em SP, no vale do Paranapanema. Segundo algumas análises, o mote não era só a terra produtiva, mas a proximidade e o controle das águas. O MST só se interessava - meta que permanece - por fazendas consolidadas, áreas delimitadas, legalizadas e PRODUTIVAS. As invasões se faziam da forma mais predatória possível, com apossamento da lavoura e colheita, do maquinário, do gado e da sede, seus móveis, utilidades domésticas, roupas (cuecas e calcinhas!), e até brinquedos das crianças como pude testemunhar. Uma horda se lambuzando em vingança de classe (o conceito marxista de luta de classes, a tal contradição entre patrão e empregado, é intrínseca ao capitalismo, mas gera produção), já a vingança só é destrutiva, baba venenosa dos que se acham despossuídos contra aqueles que, donos de bens como uma fábrica ou área de terra, trabalharam por gerações para possuí-los. E os líderes emessetistas estão todos ricos, porque nas desapropriações se apossaram de mais de um lote por família, em nome de “laranjas”, como o José Rainha, defendido de assassinato pelo escritório paulista do petista Greenhalgh (também advogado daquele Battisti, “asilado político” aqui). Até quando conviveremos com o Mal e os males disseminados pelos doutrinadores-exploradores de coitadinhos?

Genaro Faria -   29/07/2016 02:28:40

Todas essas questões levantadas no texto são suscitadas pelos suplstos idealistas como instrumentalização política. São plataformas usadas como trampolim para a tomada do poder pelo poder e nada mais que o poder. O marxismo e, instrinsecamente, um método fantasiado de ideologia. Seu currículo, ou melhor, seu prontuario atesta que se trata de mera apologia ao crime em suas formas mais perversas. A começar pela destruição da família como poder concorrente com o Estado. E consequentemente, do indivíduo que seria um inimigo natural do coletivo. Em suma, trata-se de uma monstruosidade.