O DEUS DE OBAMA - www.nivaldocordeiro.net
A festa de posse Barack Hussein Obama n?poderia ter sido mais grandiosa. Seu desfile pelas ruas de Washington lembrou o de um C?r em triunfo. Ou melhor, de um Fara?gido. O fasc?o que o novo presidente exerce sobre a multid?s?de ser adequadamente descrito pelo olho m?co da c?ra de televis? Como um novo Fara?u C?r, Obama encarna para a multid?o deus desse mundo, o salvador, o S?. Seu discurso de posse refletiu adequadamente essa fotografia. Sua fala caiu fundo nos ouvidos aos quais se destinava.
No primeiro par?afo foi empregada a palavra humildade, mas o discurso inteiro ?ma pe?arrogante. O presidente hesita diante das dificuldades dos tempos atuais e das conquistas da Am?ca desde seu nascimento. Pudera, em face do franco contraste. O presidente bem lembrou:
“Nossa na? se encontra em guerra contra uma rede de viol?ia e ? de grande extens? Nossa economia est?ravemente enfraquecida, consequ?ia da cobi?e irresponsabilidade da parte de alguns, mas tamb?de nosso fracasso coletivo em fazer escolhas dif?is e preparar o pa?para uma nova era. Resid?ias foram perdidas, empregos desapareceram, empresas foram fechadas. Nosso sistema de sa??neroso demais, nossas escolas reprovam alunos demais, e cada dia traz mais evid?ias de que a maneira como consumimos energia fortalece nossos advers?os e p?m risco nosso planeta”.
Atentemos, todavia, para o que disse. A na? est?m guerra? Sim, mas em uma guerra de agress? duas pequenas (Iraque e Afeganist?, na verdade, contra pa?s nanicos e incapazes de qualquer defesa. A rigor os EUA n?est?em guerra, entrando aqui a palavra mais como hip?ole militar do que propriamente como a descri? de um fato. E tem motivo: todos aqueles, como Obama, que pretendem atingir o cora? do povo precisam fazer brotar o patriotismo guerreiro, que tem naquela gente not?l resson?ia. O potencial de viol?ia inclu? aqui ?is?l.
Atribuir a crise econ?a ?cobi?e irresponsabilidade de alguns” ?ntrar em desacordo com a verdade. Qualquer observador bem informado da hist? e da economia norte-americanas sabe que a causa da crise ?nica: o agigantamento do Estado, sua pretens?de eliminar artificialmente a escassez, a exorbit?ia legislativa que regula de forma desmedida os mercados (mais ?rente aprofunda esse vis?equ?ca, como veremos). N?? minoria rica (impl?ta) a culpada pela crise, nem o pr?o mercado. Este ?a verdade a grande v?ma. Obama, como um prometedor de milagres de feira livre, faz diagn?co errado precisamente para escapar de p? dedo na ferida.
Resid?ias foram perdidas, sim, mas pelo ?o e exclusivo motivo de que compradores temer?os assinaram empr?imos impag?is, almejando viver al?das pr?as posses. E definitivamente as escolas n?reprovam alunos; alunos ?ue s?reprovados por sua insufici?ia acad?ca. Mais uma vez a rela? de causa e efeito fica aqui completamente invertida. O sistema de sa??neroso e o ser?empre, enquanto o Estado entender que ? patrono da Sa? Como qualquer bem que depende do trabalho, os servi? de sa?n?deveriam ser objeto de doa? pelo Estado, fazendo assim sua demanda tender ao infinito. Como qualquer servi? deveria ser deixado ao mercado satisfazer as necessidades coletivas.
N?foi surpresa para mim que o discurso de Obama tenha repetido na literalidade o discurso de Lula: “Estamos aqui neste dia porque optamos pela esperan?em lugar do medo”. A eloq?ia dos populistas nada tem de original, se repete em toda parte.
Contrastando com a fingida humildade do par?afo inicial, disse Obama: “Ao reafirmar a grandeza de nosso pa? compreendemos que a grandeza jamais ?ada. Ela precisa ser conquistada. Nossa jornada nunca foi uma jornada de atalhos ou de nos contentarmos com menos”. O inocente pronome coletivo aqui confunde propositadamente a figura do presidente com a hist? da na?. A infla? de ego salta aos olhos. Prossegue Obama, quase que de forma ing?a: “Continuamos a ser o pa?mais pr?ro e poderoso da Terra”. Por quanto tempo mais ainda? Se h?ma coisa que percebo ?ue essa crise vai redistribuir o poder mundial, ampliando o da Europa, da R?a e da China. A Am?ca precisaria voltar a ser aquela que emergiu no alvorecer do s?lo XX para continuar a ser aquilo que Obama gostaria que fosse sob a sua tutela.
E, num crescente, proclamou: “O Estado da economia pede a?, ousada e veloz, e vamos agir – n?apenas para gerar novos empregos, mas para deitar novas bases para o crescimento”. ?aqui que se descortina na inteireza toda a aliena? ob?ca, sua figura quixotesca. Esse “vamos agir” significa estatizar mais, emitir mais moeda, regular mais a vida privada. Ou seja, tudo aquilo que contribuiu para gerar a crise e p? Am?ca de joelhos ser?epetido e aprofundado. Obama n?escondeu suas (m? inten?s.
“H?uem questione a escala de nossas ambi?s – quem sugira que nosso sistema n?pode tolerar planos grandiosos demais”. A ret?a ?raca, mas serve para lembrar um saboroso di?go do filme BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS. O Ping?diz ao personagem que o caos acontece quando o plano, ainda que mal?co, n?funciona. Se funcionar a multid?fica tranq?. O que as pessoas n?toleram ? incerteza, a falta de previsibilidade. Ora, o patrono desses novos tempos ob?cos ? Ping? Planos n?funcionar? a burocracia estatal vai tatear no improviso di?o a cada resposta errada da economia de mercado aos planos mirabolantes, aos bailouts grandiosos, aos resgates imorais. O Ping?agora ? pr?o Estado agigantado, o causador do caos.
Para o momento hist?o que foi sua posse o discurso est?esproporcionalmente fraco, sem grandes v?ret?os. Destaco aqui um ponto que ser?alvez o seu apogeu, onde ele desvela o seu Deus: “?chegada a hora de reafirmar nosso esp?to duradouro, de escolher nossa hist? melhor; de levar adiante aquela d?va preciosa, aquela id? nobre que vem sendo transmitida de gera? em gera?: a promessa dada por Deus de que todos s?iguais, todos s?livres, e todos merecem a oportunidade de lutar por sua medida de felicidade”.
Esse certamente n?? Deus de Abra? Ser? deus de Epicuro. E de Rousseau. O deus dos ateus, se quisermos ser exatos e mordazes com o novo presidente. Muito apropriado para quem se pretende o gr?sacerdote do Estado, o deus de nosso tempo.