• Percival Puggina
  • 18/12/2010
  • Compartilhe:

GUERRA CONTRA DEUS

De todas as guerras, essa é a mais perdida, claro. Oops! Falha minha. Talvez o leitor nem saiba do que estou tratando. Então, comecemos pelo princípio. Em alguns países, Brasil entre eles, grupos ateus se organizaram para promover campanhas com o intuito explicitado de combater o que denominam discriminação contra os que descreem da existência de Deus. Utilizam para esse fim peças publicitárias exibidas em veículos de transporte coletivo (busdoors). Já chegaram aqui na província e pressionam para admiti-las nos ônibus da Capital. Ao que se tem notícia, a legislação municipal veda campanhas de caráter ofensivo a qualquer tipo de credo. Nada contra quem pretenda defender o ateísmo dos ateus, caso se sintam ameaçados ou discriminados. Mas tudo contra os busdoors que tive oportunidade de ver. Um deles mostra as Torres Gêmeas sendo destruídas e a frase: Se Deus existe, tudo é permitido. Outro exibe fotos de Charles Chaplin e Hitler informando que o ator não cria em Deus e o nazista sim. No terceiro, um preso lê a Bíblia e, sob a imagem, esta frase: A fé não dá respostas, só impede perguntas. Fico imaginando a cena. Um grupo de senhores circunspectos examinando as propostas da agência de publicidade e selecionando essas três. Geniais!, proclama um. Brilhantes!, exalta-se outro, ofuscado pelos lampejos iluministas que se derramam das mensagens. Depois dessas, Deus, se existir, morre de constrangimento!, sentencia um terceiro, soprando a fumaça do cano de revólver. E lá está a campanha, pronta para cativar multidões com a inegável suficiência da razão humana para demonstrar que tudo, tudinho mesmo, proveio do nada absoluto. Ainda se a tese se limitasse aos seus autores, vá lá. Se isso é o que de melhor o ateísmo militante consegue produzir, estão mal arrumados seus adeptos. Vamos peça por peça. Até a vaquinha do presépio percebe que a sentença Se Deus existe, tudo é permitido não guarda mínima coerência (nexo etiológico) entre seus termos. Ademais, a mensagem desconhece que os perpetradores de 11 de setembro praticaram atos terroristas de motivação política. É tão absurdo afirmar o contrário quanto seria atribuir-se ao ateísmo os genocídios praticados pelos regimes comunistas da URSS e da China cuja óbvia motivação foi étnica e política. Dizer que a fé não dá respostas, só impede perguntas revela profundo desconhecimento sobre séculos de investigação filosófica e teológica envolvendo exatamente a busca de respostas sobre esse tema, tão rico quanto infinito. Ademais, evidencia a imensa soberba intelectual e o escasso saber dos signatários. Por muito QI que tenham - bem que vá, ele baterá num teto estatístico de 160 - permanecerão, como tantos sábios, com mais perguntas do que respostas. Sustentar que a crença em Deus foi o fato gerador das patologias de Hitler é mais do que um disparate. É puro sofisma. A tese levaria a crer que pessoas como São Francisco de Assis, Sto. Tomás de Aquino, Madre Tereza de Calcutá (e como eles milhões de outros) seriam pessoas muito melhores, mais sábias e mais caridosas se não cressem em coisa alguma. Volte a ler a descrição que fiz do conteúdo dos cartazes. Você perceberá que, embora a proclamada intenção de evitar a discriminação, eles são, objetivamente, agressivos à fé religiosa da imensa maioria da sociedade. E nisso ferem a legislação nacional. Para dizer o mínimo. Mas logo, logo, será Natal. Aleluia, então! ZERO HORA, 19/12/2010