• Denis Lerrer Rosenfield
  • 14/04/2009
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GRAMSCI E O MST - Estado de S. Paulo

O MST, para quem sabe ler, ?m movimento revolucion?o, que procura destruir o capitalismo e a democracia representativa. Uma tal afirma? pode parecer repetitiva, por?repetitivo ? discurso de nossos governantes, que n?cessam de assegurar que esse movimento ?social”, respeitoso das regras democr?cas, tendo abdicado do uso da viol?ia. O MST, ao contr?o de seus defensores, n?esconde os seus objetivos, tendo o m?to da clareza. Seus documentos s?suficientemente eloq?es. Um deles, cujo t?lo ?eutraliza? das ‘trincheiras’ da burguesia brasileira, coloca as etapas que devem ser seguidas para que o Brasil venha a ser uma sociedade como a “cubana”, digna de tantos elogios. Em vez do uso imediato das armas, ?roposta a utiliza? de um outro tipo de “armas”, o que adv?das palavras e dos discursos, segundo um trabalho lento e meticuloso de enfraquecimento das institui?s republicanas. A democracia seria, ent? nada mais do que um instrumento que serviria para a sua pr?a elimina?. Reproduzo o primeiro par?afo: “Conforme o gramscismo, o ‘grupo dominante’ da burguesia brasileira se protege em algumas ‘trincheiras’ que precisar?ir sendo eliminadas atrav?da desmoraliza?, perda da credibilidade, perda de prest?o, do ‘denuncismo’, da dissid?ia interna, do ‘patrulhamento’, da penetra? de intelectuais org?cos, do constrangimento, da inibi?, etc.” (Os grifos s?do documento.) O MST afirma seguir os ensinamentos de Gramsci, com o uso expl?to de seus conceitos. Trata-se de travar uma batalha pela forma? da cabe?das pessoas, de modo que a mensagem revolucion?a possa ser progressivamente implantada. Se institui?s republicanas perdem a sua credibilidade e o seu prest?o, o imp?o da transgress?e das invas?pode ser mais facilmente aceito. Os intelectuais, como vemos em parte da intelligentsia de nosso pa? se colocariam - ou s?colocados - nessa posi? de instrumentos da a? revolucion?a, que ganharia assim credibilidade. Os que se op?a esse movimento s? ent? “constrangidos” e “inibidos”, como se ser contra o MST fosse ser de “direita”, contra a “justi?social”. O objetivo de tal estrat?a consiste em calar a contesta?. Observe-se igualmente o vocabul?o militar utilizado. Nesse documento, a palavra “trincheira” aparece no pr?o t?lo e, nas cartilhas “pedag?as”, voltadas para as crian?, a palavra “guerra” ? de uso mais freq?e. Ali? poder-se-ia perguntar: onde anda o Minist?o P?co na defesa dos jovens, fazendo respeitar o Estatuto da Crian?e do Adolescente? Ser?ue jovens preparados para a guerra, acostumados com a viol?ia das invas? tendo Fidel e Guevara como ?los, est?sendo valorizados? Os exemplos dados para essa guerra de captura das mentes s?v?os. Destacarei tr?“trincheiras”: Judici?o, Congresso e For? Armadas. Cada uma delas tem uma s?e de “id?s-for?, sendo seguidas de “temas explorados”. As “id?s” s?as armas que preparam o terreno para o descr?to das institui?s republicanas, enquanto os “temas” correspondem ao modo de inviabiliz?as concretamente, comprometendo de forma definitiva a democracia. Quanto ao Judici?o, as “id?s-for? s? “instrumento de opress?, “parcialidade”, “inefici?ia” e “improbidade”. Os “temas explorados” s? “favorecimento dos ricos”, “privil?o dos burgueses (e dos colarinhos-brancos)”, “lentid?funcional” e “corrup? e privil?o dos magistrados”. Quanto ao Congresso, eis as “id?s”: “inefici?ia”, “improbidade” e “parasitismo”. E os “temas”: “privil?os e ociosidade”, “esc?alos e barganhas” e “falta de esp?to p?co”. Quanto ?For? Armadas, eis as “id?s”: “inefici?ia”, “desnecessidade”, “? para o Pa? e “fascismo”. E os “temas”: “destina?”, “acidentes de trabalho”, “golpismo, ditadura e tortura” e “servi?militar obrigat?”. Todas essas coloca?s se inscrevem num mesmo menosprezo pelas institui?s que s?pilares de uma democracia e por um Estado que cumpra suas obriga?s constitucionais. A concep? que as orienta ? de um marxismo vulgar de cunho gramsciano, que reduz as institui?s republicanas ?era express?da luta de classes. Os alvos escolhidos privilegiam, cada um, seja o capitalismo (burgueses, ricos), seja a representatividade pol?ca e estatal (parcialidade, parasitismo, inefici?ia, fascismo). Segundo essa concep?, a democracia nada mais seria que formal e o capitalismo, o regime socioecon?o a ser destru?. Num procedimento t?co dessa forma de autoritarismo revolucion?o, os advers?os s?considerados “fascistas”. Numa outra “trincheira”, a dos “partidos pol?cos”, estes s?tamb?qualificados de “fascistas”. Ou seja, uma mentalidade fascista-comunista, seguindo o molde do marxismo vulgar, cunha institui?s republicanas como “fascistas” com o prop?o expl?to de vir a estabelecer uma sociedade totalit?a no Pa? A fachada do “social” ?penas a apresenta? que torna mais palat?l, para o est?o presente da opini?p?ca, a veicula? de concep?s que t?como fim combater as id?s democr?cas. ?como se o MST estivesse dizendo: “Essas institui?s n?servem para nada.” Ser?ue ??dif?l escutar esse dizer?! Qualquer semelhan?com “id?s” e “temas” da situa? presente ?evidentemente, mera coincid?ia. * Professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado de Estado em Filosofia pela Universidade de Paris, ?utor, entre outras obras, de Hegel (Jorge Zahar Editor, Cole? Passo a Passo) e editor da revista Filosofia Pol?ca, da mesma editora.