• José Hildebrand Dacanal
  • 11/05/2009
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EU SOU UM IMBECIL - Zero Hora

Meu genro era um pobre coitado. Como eu, nascido na ro?e sem perspectivas de futuro. Mas eu tivera a sorte de estudar nos antigos semin?os da antiga Igreja Cat?a, e de l?a? conhecendo oito l?uas. Ele n? mesmo porque os semin?os e a Igreja daquela ?ca j?inham acabado duas ou tr?d?das antes dele nascer. Uma coisa, por? nos unia: a curiosidade intelectual e a ambi? de subir na vida. ?o suficiente, desde que trilhando o reto caminho, como diria S?Paulo. Quando ele apareceu, trazendo consigo n?muito mais que seu bom car?r e a pouca idade, percebi imediatamente que ele era mais uma das incont?is v?mas que, independentemente do n?l econ?o e da classe social, formam o desastre civilizat? brasileiro das ?mas quatro d?das: 100 milh?de b?aros, desagrega? moral e caos pedag?o. E 60 mil mortos a bala por ano! Seguindo o velho vi?de ordenar o mundo ?inha volta e disto tirar as vantagens poss?is para uma vita grata – como diziam os romanos –, ainda que modesta, comecei a pensar no que fazer. Cheguei ?onclus?de que, se eu lhe desse alguma qualifica? e o treinasse, talvez ele pudesse me ajudar em algumas tarefas bra?s b?cas, como digita? de textos, editora? etc. Em resumo e na terminologia dos economistas: ele obteria algumas vantagens na rela? custo/benef?o e eu teria m?de obra barata e confi?l. Foi a?ue eu cometi um erro fatal. E um crime pedag?o. Em vez de dizer a ele que “estudar ?razer”, que “cada um deve falar e escrever como quiser”, que “an?se sint?ca ?ma velharia in?”, que “gram?ca ?m instrumento utilizado pela burguesia para dominar os pobres”, que “corrigir reda?s com caneta vermelha ?iolentar o aluno”, em vez de proferir tantas e t?brilhantes asnices (que os asnos reais me desculpem!), o que ?ue eu fiz? Peguei uma vara de ip?e um metro, bati na mesa e disse: – Meu filho, estudar ?ofrimento. Civiliza? ?epress? Voc?em que falar e escrever segundo as regras gramaticais, do contr?o voc??tem futuro. Vamos come? pela an?se morfol?a e sint?ca e pelo latim, para conhecer a l?a das l?uas indo-europeias. Pior do que isto: mandei-o ler livros “velhos”, a ter seus cadernos de voc?los, a decorar as cinco declina?s latinas. E ensinei-o a dissecar sintaticamente ora?s e per?os. Enfim, utilizei todos os m?dos antiquados, renegados e odiados pelos quadr?es da pedagogia dita moderna. E ent?o que aconteceu? Aconteceu – incr?l! – que estes m?dos utilizados h? mil anos no Ocidente funcionaram. E produziram um milagre. E um desastre. Um milagre porque em cerca de um ano ele dominou os conte? b?cos da sintaxe, compreendeu o sentido das declina?s e traduzia breves textos latinos. Um desastre porque logo depois ele come? a dar aulas em conhecida institui?, se prepara para o vestibular e certamente cursar?etras. E eu perdi meu auxiliar de confian?e fiquei sem a m?de obra barata que eu treinara! Veja, surpreso leitor, como eu sou um imbecil! Se eu tivesse aplicado os brilhantes m?dos desta r?a de asnos defensores e promotores da pedagogia dita moderna, nada disto teria acontecido. Sim, s?co leitor, eis a? prova irretorqu?l da verdade: o quadr?e sou eu. N?eles!