• 10/01/2024
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Delito de assédio

 

 

Percival Puggina

 

         A principal diferença entre os totalitarismos de origem marxista e os demais não está no fato de ser o partido (e não o Estado) a instância decisiva final, mas na fé em que ele, o partido, encarna a História como intérprete privilegiado e agente definitivo. Engels empresta caráter científico a tal convicção ao afirmar: “Assim como Darwin descobriu as leis da evolução da natureza, Marx descobriu as leis de evolução da sociedade”.

Pronto! Estabelecido o dogma, as mentes marxistas se reconhecem titulares da profecia. Elas sabem onde tudo vai chegar e se desinteressam por qualquer roteiro de viagem ou expressão de liberdade que não aponte para esse porto final. A história de todas as revoluções comunistas formais ou informais – como a que está em curso em nosso país – é o relato da certeza sobre o devir histórico, certeza que precisa das cartilhas e das salas de aula para ganhar continuidade e justificação.

É o que está acontecendo, também, nas escolas particulares, por obra de militantes que usam a mesa do professor como altar da velha religião da história. Entre estas se incluem, infelizmente, muitas escolas confessionais que se disfarçam com nomes que são objeto de devoção religiosa e lançam suas redes sobre as salas de aula com o intuito de capturar corações e mentes.

A liberdade de expressão e de cátedra não se confunde com autorização para catequese política. Se o uso do poder para assédio sexual é crime, não tem menor gravidade moral o seu emprego para assédio mental dos alunos.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.