BRASIL... DE FATO!
Os que ainda se espantam com as bobagens que Lula fala ficaram assutados quando o homem declarou que a leitura de jornais lhe fazia mal ao f?do. N?quero de modo algum concordar com o presidente, mas confesso que ?reciso ter est?o forte para ler um jornalzinho intitulado Brasil de Fato, que acessei hoje pela internet, n?sei se por curiosidade de ver o que pensam seu corpo editorial e seus leitores, n?sei se por algum incontrol?l impulso autodestrutivo.
De fato, como o pr?o nome do jornal escancara o dogmatismo de sua linha editorial, asseverando que ?li que se encontra o Brasil de verdade e, por extens? a pr?a verdade, eu j?maginava o que havia de achar em linhas gerais. Portanto, n?me surpreendi ao deparar com uma entrevista do cientista pol?co Theot? dos Santos, fazendo a apologia da necessidade de Hugo Chavez permanecer no poder na Venezuela, de vez que, para os setores populares, que n?t?nenhuma tradi? de poder, ?uito dif?l construir lideran? novas todos os dias. (Os setores populares cubanos que o digam!)
Tamb?n?me espantou encontrar uma defesa da injustific?l decis?do camarada Tarso Genro de conceder ref? pol?co ao terrorista Cesare Battisti, que o Brasil de Fato apresenta como escritor e ex-militante da organiza? Prolet?os Armados pelo Comunismo (PAC). Igualmente me pareceu natural que esse ponto de vista se baseasse nas posi?s de Antonio Mazzeo, professor do Departamento de Ci?ias Politicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e tamb?membro do Comit?entral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que evidencia sua isen? para apreciar o caso.
Sendo assim, apesar de se tratar do mais rematado e absurdo disparate, n?havia por que me engasgar com a afirma? de Mazzeo, segundo a qual o preso pol?co transformou-se em bode-expiat? de uma direita raivosa e xen?a que tem apenas o objetivo de colocar o conjunto da esquerda italiana contra a parede, para legitimar sua politica de toler?ia zero com a imigra? e, principalmente, com os movimentos sociais.
Por outro lado, na imensa massaroca de lugares-comuns e clich?caracter?icos do jornalismo de esquerda - que se estendem verborragicamente por uma infinidade de p?nas virtuais, deixando evidente que na dial?ca dessa gente o que n?existe absolutamente ? capacidade de s?ese -, acabei por topar com um artigo que faz a defesa de nada menos do que a asser? de Lula quanto ao fato de a leitura de jornal ser algo totalmente dispens?l.
A favor do pequeno timoneiro do PT, o articulista - um tal de Beto Alves, presidente da TV Comunit?a de Bras?a, cujo alcance tem tirado o sono dos heredeiros de Roberto Marinho - invoca simplesmente o grande Arthur Schopenhauer, esgrimindo o argumento de que o c?bre fil?o alem?tamb?j?avia causado muita celeuma, h?ais de s?lo, quando levantou d?as acerca da possibilidade de uma correta compreens?da realidade unicamente a partir da leitura, pondo em d?a a qualidade dos textos, inclusive nos jornais.
Quero esclarecer que o que me surpreendeu no artigo do companheiro Beto Alves n?foi o fato de ele postular que a declara? de Lula se tratava de uma cr?ca informal a um certo jornalismo, mas nunca a manifesta? de uma avers??eitura em geral. Surpreendeu-me, sim, a evoca? a Schopenhauer, em particular por que o Schopenhauer evocado por ele n?? que est?li, explicitamente citado no artigo, mas um outro Schopenhauer, velado, clandestino, aquele que escreveu o c?bre Como vencer um debate sem precisar ter raz?
Chega! Al?de recorrer a Schopenhauer ser um excesso de cinismo por parte de um esquerdista, n?tenho a m?ma inten? de competir com a logorre?de Beto Alves, de Antonio Mazzeo ou Theot? dos Santos. Concluo que o Brasil de Fato espelha maravilhosamente bem a venalidade e o atraso da vanguarda intelectual brasileira, talvez a mais concreta express?da perfeita idiotice latino-americana. Esse ? Brasil... de fato!
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