• Percival Puggina
  • 30/06/2023
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Brasil, de Geisel a Lula

 

Percival Puggina

         O site Memorial da Democracia, que está longe, bem longe, de ser um site de direita, reproduz trecho de uma entrevista do general Ernesto Geisel quando presidente. Ali pude ler, palavra por palavra, algo de que bem me lembrava porque a expressão usada ficou colada à imagem e ao governo do general. A conversa com os jornalistas aconteceu um mês depois de Geisel haver fechado o Congresso e decretado o Pacote de Abril (uma série de casuísmos como aumento para seis anos do mandato presidencial, nomeação de 1/3 dos senadores por ato presidencial – ditos biônicos –, representação mínima de 8 deputados beneficiando estados menos populosos, etc.).

Palavras Geisel aos jornalistas: “Todas as coisas no mundo, exceto Deus, são relativas. Então, a democracia que se pratica no Brasil não pode ser a mesma que se pratica nos Estados Unidos da América, na França ou na Grã-Bretanha”. Uma semana depois, em entrevista à também francesa RTF 2, reafirmou: “O Brasil vive um sistema democrático dentro de sua relatividade.

Por isso, chamou-me a atenção que Lula, na eloquente defesa que fez da ditadura iniciada por Hugo Chávez e continuada por Nicolás Maduro, tenha usado a mesma expressão.  Recordando: no último dia 29, ao receber a visita do liberticida e inclemente venezuelano, Lula assumiu a proteção do regime implantado naquele país (e que já provocou o êxodo de 6 milhões de pessoas, equivalente a 20% da população). Disse ser uma narrativa a afirmação de que a Venezuela era uma ditadura. Agora, um mês mais tarde, em entrevista a uma emissora de Porto Alegre, voltou ao tema para afirmar ao repórter que “o conceito de democracia é relativo para você e para mim”.

Lula nada disse quando o jornalista Rodrigo Lopes, durante essa entrevista, contou ter sido preso na Venezuela, assim como nada fez quando um dos esbirros de Maduro, no mês passado, soqueou uma jornalista brasileira.

O único absoluto para essa esquerda malsã e sinistra que se abateu sobre o país é a necessidade de calar a divergência onde ela se manifesta: no Congresso, nas redes sociais, no jornalismo tradicional, no ambiente cultural, na cadeia produtiva da educação, nas igrejas, e até mesmo na CPMI instalada para investigar os paradoxos e contradições do dia 8 de janeiro.

Não há mal que sempre dure, porque o inferno é noutro endereço. Para quem esteja se refestelando, lembro: não há bem que não acabe, porque o paraíso tampouco é aqui.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 


MARCUS BORELLI RIBEIRO -   01/07/2023 15:30:16

Sobre a inelegibilidade de Bolsonaro um amigo me disse uma verdade: tiraram uma gota mas ficou um oceano.

Gerson Carvalho Novaes -   01/07/2023 12:09:09

Por causa de ambiguidades como essa, integralmente aproveitadas por oportunistas, que faz do comunismo, esse espírito maldito desgraçado, a mais prodigiosa criação do diabo…

MARCO ANTONIO GEIB -   01/07/2023 11:25:23

O Tribunal Superior Eleitoral, ao condenar Bolsonaro a inegibilidade o transformaram de "MITO" em "MARTIR" perante milhões de brasileiros e brasileiras. Cientes disto agora a estratégia é "PRENDER" Bolsonaro e se possível jogar fora a chave da cadeia. Afinal para isto que servem os mártires, serem presos, submetidos a tortura e morte ou não ??? Não se fazem mais Generais como antigamente, e nem há "MAL QUE SEMPRE DURE, NEM BEM QUE NÃO SE ACABE...abs e feliz Julho.

Luiz Carlos Wiltgen Tavares -   01/07/2023 10:51:36

Belo texto! Só não entende quem não quer!

José Vicente -   01/07/2023 10:51:21

O entrevistador se esqueceu de lembrar o caso de um certo prisioneiro que, em 2019, foi inocentado pela alta corte da Baviera e autorizado a concorrer às eleições gerais de 1933. Tudo muito democraticamente, com o decisivo apoio da militancia NationalSOZIALIST.

Menelau Santos -   01/07/2023 10:05:59

Não há mal que sempre dure..., perfeito, Professor! Como costuma dizer o Bispo Adair Guimarães, uma das grandes lideranças católicas do nosso tempo, o cemitério está ali mesmo! Vai engolir esses falsários. Engoliu Geisel, engoliu Hugo Chaves e também irá engolir Lula. Há uma frase linda no livro "Olhai os lírios do campo", de Érico Veríssimo, "antes de Mussolini e Stalin já existiam as estrelas. E mesmo depois que eles tiverem passado, elas ainda continuarão a brilhar".

Ary de Almeida Coelho -   01/07/2023 08:33:43

Meu amigo, estou com 82 anos e nunca pensei que Geisel e Lula pudessem um dia estar de acordo! Só tem uma grande diferença,Geisel trabalhava e queria, a sua maneira, engrandecer o Brasil, já Lula…….