• Miguel Reale Júnior
  • 26/02/2009
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BIG BROTHER BRASIL - Estad?

Programas como Big Brother indicam a completa perda do pudor, aus?ia de no? do que cabe permanecer entre quatro paredes. Desfazer-se a diferen?entre o que deve ser exibido e o que deve ser ocultado. Assim, exp?e ao grande p?co a realidade ?ima das pessoas por meios virtuais, com absoluto desvelamento das zonas de exclusividade. A privacidade passa a ser vivida no espa?p?co. O Big Brother Brasil, a Baixaria Brega do Brasil, faz de todos os telespectadores voyeurs de cenas protagonizadas na realidade de uma casa ocupada por pessoas que exp?publicamente suas zonas de vida mais ?ima, em busca de dinheiro e sucesso. Tentei acompanhar o programa. Suportei apenas dez minutos: o suficiente para notar que estes violadores da pr?a privacidade falam em p?imo portugu?obviedades com pretenso ar pascaliano, com jeito ansioso de serem engra?amente profundos. Mas o p?co concede elevadas audi?ias de 35 pontos e aciona, mediante pagamento da liga?, 18 milh?de telefonemas para participar do chamado pared? quando um dos protagonistas h?e ser eliminado. Por sites da internet se pode saber do dia-a-dia desse reino do despudor e do mau gosto. As mo? ensinam a dan?do bumbum para cima. As festas abrem espa?para a sacanagem geral. Uma das mo? no baile funk bebe sem parar. Embriagada, levanta a blusa, a mostrar os seios. Depois, no banheiro, se p? fazer depila?. Uma das participantes acorda com sangue nos len?s, a revelar ter tido menstrua? durante a noite. Outra convivente resiste a uma conquista, mas depois de assediada cede ao cerco com cinematogr?co beijo no insistente conquistador que em seguida ridiculamente chora por ter tra? a namorada ?ista de todo o Brasil. A mo?assediada, no entanto, diz que o beijo superou as expectativas. ?poss?l conjunto mais significativo de vulgaridade chocante? Instala-se o imp?o do mau gosto. O programa gera a perda do respeito de si mesmo por parte dos protagonistas, prometendo-lhes sucesso ao custo da viola? consentida da intimidade. Mas o pior: estimula o telespectador a se divertir com a baixeza e a intimidade alheia. O Big Brother explora os maus instintos ao promover o exemplo de bebedeiras, de erotismo tosco e ilimitado, de burrice continuada, num festival de elevada deseleg?ia. O gosto do mal e mau gosto s?igualmente sinais dos tempos, caracterizados pela decomposi? dos valores da pessoa humana, portadora de dignidade s?aliz?l de fixados limites intranspon?is de respeito a si pr?a e ao pr?o, de preserva? da privacidade e de viv?ia da solidariedade na comunh?social. O grande desafio de hoje ?e ordem ?ca: construir uma vida em que o outro n?valha apenas por satisfazer necessidades sens?is. Prolet?os do esp?to, uni-vos, para se libertarem dos grilh?da mundializa?, que plastifica as consci?ias. * Publicado em 02.02.2009 no jornal O ESTADO DE SÏ PAULO. * * Miguel Reale J?r, advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras.