• Percival Puggina
  • 13/03/2010
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AINDA OS ERROS

Ao longo do último quarto de século tenho escrito centenas de artigos e participado de muitos programas de rádio e tevê defendendo a Igreja Católica e sua doutrina. Faço-o como leigo, porque incluo isso entre meus deveres. São posições em favor da família, valores cristãos, ensino religioso, Direito Natural, respeito à vida e Doutrina Social da Igreja. E são posições contra o relativismo moral, o ateísmo de Estado e as incontáveis tentativas de excluir os cristãos de quaisquer debates sobre temas da sociedade. No entanto, bastou-me denunciar o alinhamento do texto-base da atual Campanha da Fraternidade com a teologia da libertação (reiteradamente condenada, aliás, por João Paulo II e Bento XVI) para suscitar algumas curiosas reprovações. É o que chamaria de fidelidades ideológicas postas além e acima das fidelidades religiosas. Somente quando contêm deliberação unânime do colegiado dos Bispos reunidos em Assembléia, ou de 2/3 com aprovação da Santa Sé, os documentos da CNBB expressam posição doutrinária oficial da Igreja no Brasil. E, quando assim, são irretocáveis em conteúdo e forma. Outros textos, cartilhas, etc. não têm a mesma origem e peso. Alguns levam a assinatura de tal ou qual bispo responsável pela respectiva área. Mas todos, inclusive os erros e demasias que caracterizam as posições da CPT e das pastorais sociais, chegam à mídia e ao povo como ?da? CNBB e ?da? Igreja, sem que ninguém se apresse em estabelecer as necessárias delimitações. O texto-base desta Campanha da Fraternidade, por exemplo, traz, na apresentação de suas 80 páginas, a assinatura de apenas um bispo. Pode até ter a pretensão de expressar posição ?da? Igreja e ser lido como tal. Mas não preenche as condições explicitadas na Instrução da Santa Sé sobre o ministério dos bispos. Tem falhas e erros. A ele não se presume reverência e obediência. Mereceu tão pouco cuidado, aliás, que acabou impresso com cacos de correção do tipo ?(perguntar se pode acrescentar?)?! Esse documento é ?da? Igreja? Pergunto: quem apoia oficialmente a mobilização pelo plebiscito sobre a Limitação da Propriedade da Terra, ali incluído, e que pretende confiscar as propriedades com extensão superior a 35 módulos rurais? A Igreja, a CNBB, seus assessores ou a CPT? Têm aprovação colegiada dos senhores bispos todas as afirmações e sugestões contidas no texto-base? Custo a crer. Há nele uma citação de Atos 4,32 (relato dos primeiros cristãos, que venderam o que tinham e colocaram tudo em comum). Dessa passagem, o documento da Campanha extrai, in verbis, que ?os discípulos de Jesus propuseram ao mundo uma grande revolução econômica? que se expressava na alienação das posses e na partilha solidária dos bens. Não creio que, pela unanimidade dos bispos, a Igreja tenha decidido recomendar ao Brasil algo assim. Não há indícios no texto-base, por seu ferramental marxista e desprezo aos rudimentos da ciência econômica, à experiência dos povos e ao papel da má política na perpetuação da miséria, de que ele recolha o pensamento do colegiado dos bispos. Menos ainda guarda relação com a Doutrina Social da Igreja, que conheço bem. O tema da Campanha é bom. Solidariedade, desapego aos bens materiais e conversão andam juntas. Ganância, idolatria e egoísmo são pecados. Devemos servir a Deus e ao bem comum. Jamais ao dinheiro! E tampouco devemos servir ao erro, à luta de classes e ao marxismo. ZERO HORA, 14/03/2010