Percival Puggina
Acompanho há bom tempo as polêmicas em torno dos processos de votação e apuração em nosso país. Fui fiscal de votação e de apuração em algumas eleições entre os anos 80 e 90. Devo dizer que nosso sistema evoluiu e que o voto eletrônico, em tese, é um avanço significativo. Mas nem só de agilidade vive a democracia. Aliás, a agilidade não consta das listas de virtudes inerentes à vida democrática.
Entre meus aprendizados sobre esse assunto avulta a convicção de que a confiabilidade do processo de apuração dos votos, a certeza de que o resultado apregoado corresponde à vontade efetivamente manifesta pelos eleitores na aritmética elementar das urnas, são ingredientes indispensáveis à legitimação dos mandatos.
A atitude do TSE em relação a esse assunto só não causa espanto porque o espanto rotineiro não suscita interjeições. O voto impresso já estava incluído na minirreforma eleitoral de 2015, para viger em 2018. Por 8 votos a 2, porém, foi derrubada pelo Supremo (sempre ele), sob a alegação de que problemas da impressora tornariam os votos de um ou mais eleitores acessíveis ao conhecimento dos mesários.
Argumento frágil, como veremos a seguir. No entanto, o presidente do TSE, ministro Luis Roberto Barroso acrescenta uma observação sacada de seu repertório: “O sistema eleitoral brasileiro é auditável do primeiro ao último passo”. Um desses passos nominalmente mencionado por ele é a lista dos votos impressa pela urna eletrônica em cada seção eleitoral no encerramento da votação. A essa lista o ministro denomina eufemisticamente de “voto impresso”. Claro que a “lista impressa de todos os votos” não é o voto impresso. E o ministro sabe. A lista de que ele fala é a lista dos votos dados a cada candidato numa seção de votação. Exceto mediante sofisma, essa lista não se confunde com a impressão do voto ou votos de cada eleitor.
No voto impresso, proposto na PEC da deputada Bia Kicis, o eleitor vota, a urna imprime esse voto e o torna visível ao eleitor (sem dar acesso à manipulação). O eleitor confirma e o voto cai numa urna. É a máquina que faz a contagem, mas, mas em caso de dúvida, têm-se os votos materializados, em papel, para serem recontados manualmente ou para verificação por amostragem. Nada disso interfere com as muitas inspeções técnicas no conjunto dos sistemas de transmissão de dados e contagem eletrônica, mecanismos que seria burrice abolir para retroceder ao transporte manual. Por fim, o fato de “um sistema ser auditável” não é o mesmo que serem auditáveis os votos que ele colhe, soma e imprime numa lista que ele, sistema, elabora.
Na eleição do ano passado, foram utilizadas 400 mil urnas e 3,3 mil apresentaram problemas. A falha técnica é inerente a todo equipamento eletrônico e nada impede que ocorrendo falha de uma impressora seja disponibilizado aos eleitores um voto em papel, depositado em outra urna, sistema que funcionou durante décadas no Brasil. A exceção não pode fazer a regra.
Os ministros do STF, bem como os membros deste colegiado no TSE não são merecedores de tanta credibilidade como para que possam representar garantia de algo.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
Fábio Ronnie Winkelmann - 18/04/2021 03:26:49
Voto impresso já. Qualquer brasileiro, seja de que corrente política for, sabe que o voto impresso é a forma que temos para garantir a legalidade e a confiabilidade dos resultados.Jorge Fenerich - 12/04/2021 17:01:50
Concordo com o relato do Puggina principalmente o último paragrafo, não tenho absolutamente nenhuma confiança no voto eletrônico e portanto exijo um recibo como proposto na PEC.VELADO ALPHA - 12/04/2021 14:57:38
São os novos tempos. Ou se aceita as novas tecnólogias ou a vaca vai para o brejo. Quem se lembra das Urnas Emprenhadas ?????? Abraços e até.Marcelo - 12/04/2021 13:05:02
Só um país de cabeça para baixo, a ordem de um indivíduo que está num cargo por "QI", prevalece sobre o desejo da população do formato do seu processo eleitoral, que deveria ser representada por seus "eleitos" e a administração desse processo ser administrada por servidores públicos concursados.Jorge Blumer - 10/04/2021 20:57:19
Só nossos votos impressos nos salvarão, Há necessidade de transparência TOTAL para legitimidade dos eleitos.MURILO PAGLIUSI CHAVES - 10/04/2021 15:55:05
Extremamente pertinentes seus comentários nos varios artigos, parabéns. Sou seu admirador, tens razão no que diz nessa crônica.Afonso Pires Faria - 10/04/2021 15:14:09
Professor! é ridículo termos que explanar algo tão óbvio. É ridículo. Um sábio tendo que explicar o que não necessita de explicação é "gastar sabão em cabeça de burro". Só um povo idiotizado pelo Paulo Freire é capaz de aceitar os argumentos contrários ao voto impresso.Maria Zélia Soares Telles - 10/04/2021 13:06:06
É Sr Puggina tens razão, os homens que ocupam as cadeiras do STF não são mesmo merecedores de confiança. Triste constatação.MICHEL CAMPOS - 09/04/2021 19:41:25
SEM VOTO IMPRESSO NÃO É ELEIÇÃO !DENISE PADUA LEITE - 09/04/2021 15:53:53
Os Abutres Togados do #STFVergonhaNacional se auto incorporaram nos papéis de "Reis Supremos do Brasil", ignorando totalmente a DEMOCRACIA, sistema político vigente no nosso País, rasgando a Constituição Federal de 1988 e subjugando o Povo Brasileiro aos seus arroubos de uma justiça só mesmo vista nós tempos da Idade Média. A isso eu denomino de Apropriação Indevida de Cargo previsto apenas aos que se submeteram ao Voto Popular, Exercício Ilegal de Função e Usurpação de Poder. Esse atual STF não é uma Corte Suprema e sim, um bando de ativistas políticos anti democráticos.NEIDE PAFECE BARCELLOS - 09/04/2021 13:18:02
Tudo foi dito. Voto IMPRESSO já.Eduardo - 09/04/2021 10:39:05
ConcordoMenelau Santos - 08/04/2021 16:41:44
Excelente texto Professor. Nossa suprema corte vem recorrendo à argumentação indigna da instituição e abusando dos eufemismos faz tempo. Aproveitando o assunto do momento, o nosso STF analisando a questão da abertura dos templos, para mim, é a volta do Sinédrio a julgar Jesus.Rodrigo Bernardo - 08/04/2021 15:50:18
Voto impresso Já!Mozart Perdigão - 08/04/2021 15:39:39
Credibilidade com suprema?... Quero voto impresso.izaura gonzalez - 08/04/2021 14:04:25
Eu quero voto impresso!!!