• Luis Milman
  • 02/01/2009
  • Compartilhe:

A M?IA, GAZA E ISRAEL - Enviado ao site

Luis Milman, jornalista e doutor em Filosofia, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, preocupado e abismado com as rea?s de governos e da m?a internacional a partir da a? desenvolvida por Israel na Faixa de Gaza, territ? controlado pela organiza? terrorista Hamas, desde o ano passado, escreve o artigo a seguir para esclarecer aspectos importantes da quest? que n?s?considerados. Leia o artigo de Luis Milmam: “Desde o in?o da ofensiva de Israel contra o Hamas, na Faixa de Gaza, no ?mo s?do, dia 27 de dezembro, a m?a ocidental vem relatando as opera?s israelenses com base em pressupostos flagrantemente aparvalhados. Coincidentemente, estes pressupostos s?os mesmos que pautaram as primeiras manifesta?s oficiais de condena? moderada lan?as contra Israel, por governos de na?s importantes, logo no primeiro dia ofensiva, quando pouca ou quase nenhuma informa? sobre a real dimens?das opera?s israelenses eram conhecidas. As manifesta?s da Fran? R?a, Jap?e China, exortavam Israel a interromper suas a?s em Gaza. Ao inv?de condenarem os ataques do Hamas, que iniciaram ainda em novembro e quebraram o cessar-fogo, a ret?a destes pa?s partia de duas premissas equivocadas: Israel estava respondendo aos ataques de forma desproporcional e, por isso, elevando o n?o de v?mas civis. Assim, a linguagem protocolar criava o mantra da desproporcionalidade, adotado tamb?pelo Secret?o Geral da ONU, o senhor Ban Ki-moon, na ?ma segunda-feira, dia 29. Ki-moon convocou a imprensa mundial para expressar seu rep? ao uso da “for?excessiva” por parte de Israel em seus ataques ?aixa de Gaza. O secret?o-geral da ONU foi mais longe: ele apelou “?partes” para que interrompessem as hostilidades e reiniciassem negocia?s para um novo cessar-fogo. O coro foi refor?o pelo primeiro-ministro ingl?Gordon Brown, tamb?no dia 29. “Estou horrorizado (?ase aqui) com a viol?ia dos bombardeios”, disse. “Reiteramos nosso apelo a Israel e ao Hamas (?ase aqui) para que declarem o imediato cessar-fogo e previnam a perda de mais vidas inocentes. N?h?ma solu? militar para esta situa?. ?preciso redobrar os esfor? internacionais para assegurar que tanto Israel quanto a Palestina tenham terra, direitos e seguran?para viverem em paz”, finalizou Brown. Ao mesmo tempo, seguiram-se manifesta?s de rep? previsivelmente mais radicais, vindas de pa?s mu?manos e grupos extremistas, como o Hezbollah, que passaram a percorrer o planeta: massacre, genoc?o, holocausto, crimes de guerra, crimes contra a humanidade. Enfim, surradas acusa?s disputavam espa?na m?a internacional com cenas de passeatas e aglomera?s de rua pipocando na Europa e no mundo isl?co, em protesto contra a nova “barb?e” cometida por Israel. Enquanto isto, a quantidade de v?mas dos bombardeios parecia dar a impress?de amparar a f?la da desproporcionalidade: j?assam de 150 mortos, muitos deles civis, j?ltrapassam os duzentos, entre eles mulheres e crian?; agora s?mais de 300, entre os quais in?os inocentes. Agora, quando escrevo (ter?feira, 30 de dezembro), os mortos chegavam a 360. Horr?l. A m?a apropriou-se do mantra protocolar, tomando-o como axioma para sua cobertura. E, por m?a, n?estou nomeando nenhuma abstra?. Refiro-me ?NN, ?BC, ?ky News, ?rance 24, para n?mencionar a Al-Jazirah em Ingl?e os di?os New York Times, The Guardian e Le Figaro, que podem ser todos acessados on-line. Tamb?n?estou me referindo aos analistas de prontid? sempre r?dos no gatilho quando se trata de comparar o “desproporcional” confronto entre a pot?ia militar israelense e a pobre capacidade de resist?ia dos palestinos. Restrinjo-me ao que se chama de “notici?o”, aquele texto informativo que, recomenda-se, deve ser feito com imparcialidade e um m?mo de cautela e caldo de galinha. Pois ?ele que constato a desproposital incurs? em nome do imediatismo, no dom?o da estupidez e da m??Ora, o que se espera de um notici?o ?ue ele informe e n?desinforme ou deforme os fatos. E quais s?os fatos? Um: no primeiro dia da ofensiva, Israel apenas reiterou publicamente uma decis?que vinha sendo anunciada desde o final do fr?l cessar-fogo de seis meses, mediado pelos eg?ios, que entrara em vigor em junho ?mo e se encerrara em 19 de dezembro. Por que fr?l? Porque o Hamas, h?ito anos, vinha despejando diariamente seus foguetes contra Israel. Os ataques di?os haviam matado nove pessoas, ferido outras tantas, danificado pr?os e vinham configurando uma situa? de permanente inseguran?nas cidades que se encontram num raio de 20 quilometro da fronteira com Gaza. Durante oito anos, Israel tentou tratar do problema de modo restrito: incurs?r?das de comandos no norte de Gaza para destruir bases de lan?entos de foguetes, bloqueio mar?mo para evitar a entrada de armamento enviado pelo Ir? pela S?a ao Hamas e Jihad Isl?ca; bloqueio terrestre, para impedir a infiltra? de terroristas suicidas nas grandes cidades israelenses; cortes espor?cos no suprimento de energia el?ica para a Faixa de Gaza (70% desta energia ?ornecida por Israel at?oje) com a finalidade de retardar a fabrica? dos tais foguetes “caseiros” (na verdade, s?foguetes produzidos em f?icas erguidas em meio a bairros densamente povoados da Cidade de Gaza, Dayir al Balah, Khan Yunis e Rafah). De qualquer modo, findo o cessar-fogo - e diante das saraivadas di?as dos foguetes contra o sul de Israel-, o governo israelense anunciou que terminaria definitivamente com os ataques que amea?am seus cidad?. Esta decis?foi, inclusive, comunicada, no dia 23 de dezembro, pela ministra do exterior israelense, Tzipi Livni, no Cairo, ap?m encontro com o presidente Hosni Mubarak. Livni, ainda no Cairo, n?deixou d?as: Israel desencadearia a opera? militar necess?a para destruir a capacidade do Hamas de atingir Israel. Nos ?mos dez anos, o Hamas construiu, com o apoio log?ico e financeiro do Hesbollah, da Irmandade Mu?mana (baseada no Egito), da S?a e, sobretudo do Ir?uma estrutura policial e militar na Faixa de Gaza, a tal ponto organizada, que lhe permitiu, no primeiro semestre de 2007, dizimar completamente as for? do Fatah (o bra?armado da Autoridade Palestina) que ainda restavam no territ? palestino. Com isso, ele consolidou suas instala?s militares, estocagem de armas e muni?, seus campos de treinamento e suas bases de ataque contra Israel em toda a Faixa de Gaza. Hoje, o Hamas (que ?unita) conta com 15 mil homens no seu “ex?ito regular”, e ainda com cinco mil membros armados da mil?a xiita Jihad Isl?ca. Esse pequeno ex?ito disp?al?de armamento pessoal pesado, de m?eis antia?os, m?eis antitanques, m?eis de m?o alcance do tipo Katiusha e minas espalhadas por toda a fronteira com Israel. Tudo isto ?o conhecimento dos chefes de governo que emitiram o mantra protocolar da desproporcionalidade. Os senhores Gordon Brown e Nicholas Sarkozy sabem disto, certamente. Mas a m?a faz de conta que n?sabe. Ora, o panorama ?em n?do: Israel desencadeou a ofensiva para defender a integridade de seus habitantes, amea?os constantemente pelo movimento fundamentalista militarmente organizado que controla toda a Faixa de Gaza desde junho de 2007. Mais ainda, o Hamas e seus associados menores, como a Jihad Isl?ca e outros grupelhos, n?representam a Autoridade Nacional Palestina (AP). Eles s?terroristas, n?aceitam a exist?ia do Estado de Israel e est?comprometidos explicitamente com a sua extin? total. Como ent?podem os l?res da Inglaterra e da Fran? ou o Secret?o-geral da ONU, apelarem para que “as partes” retornem a um cessar fogo. Que partes? Israel, um estado nacional soberano e membro da ONU, por um lado, e o Hamas, um movimento terrorista que usurpou ?or? da Autoridade Palestina, o controle sobre a Faixa de Gaza, por outro? Se a China n?conversa sequer com o Dalai Lama, l?r pol?co e espiritual do Tibet ocupado (exilado, obviamente), por que Israel deve dialogar com o Hamas? Pelo que se sabe, o Dalai Lama defende apenas uma autonomia para o Tibet e jamais pregou a extin? da China. Por que Israel deveria “dialogar” com um movimento que objetiva abertamente a sua destrui?? Ou por que o senhor Ban Ki-moon n?apela para que a Espanha dialogue com o ETA, a Col?a dialogue com as FARC, a Turquia dialogue com o PKK curdo, que quer criar um estado independente no Curdist? Ou para que os Estados Unidos da Am?ca deixem o Afeganist?e dialoguem com o Talib?Ou para que os senhores mu?manos da guerra que governam o Sud?interrompam imediatamente a carnificina que j?atou 300 mil crist? e animistas e deslocou quase tr?milh?de refugiados para a zona de Darfour? Onde est?as passeatas na Europa contra esse massacre? Ou os protestos contra a tirania assassina de Ruanda? Onde est?os apelos para o di?go entre as trezentas tribos que se entredevoram na mu?mana Som?a? O termo m?o de compara? ?uficiente, para quem possui mais de dois neur?s. Talvez, dois neur?s e meio. Por isso paro por aqui. Dois: Israel n?est?como apregoa aos berros Hassan Nasrallah (em v?o e de seu bunker em Beirute), cometendo um “genoc?o” em Gaza. Ao contr?o, ? l?r do Hesbollah (Partido de Deus, em portugu?, hoje quase um segundo ex?ito dentro do L?no, abastecido e financiado pelo Ir?que repete incansavelmente o objetivo pol?co de seu partido: destruir Israel, sem deixar pedra sobre pedra. A voz de Nasrallah ?mplificada nas ruas de todo mundo ?be e encontra acolhida em alguns analistas ocidentais procurados pela m?a para que “possamos (n?o p?co) entender o tr?co cen?o da Faixa de Gaza”. Pensemos: se desejasse destruir a popula? de Gaza (isto ?m desprop?o descomunal naturalmente, mas s?sim ter?os base para falarmos em genoc?o) - e estou admitindo essa possibilidade apenas (?ase aqui) para argumentar-, Israel o teria feito durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, (lembram, ela ocorreu!), ou durante a Guerra do Yom Kypur, em 1973 (lembram, ela tamb?ocorreu), ou durante a ocupa? israelense de Gaza, que se estendeu de 1967 a 2000, ano em que unilateralmente (ou seja, sem qualquer pr?ondi?) Israel deixou a Faixa de Gaza na sua totalidade. O que ?ato: a ofensiva israelense tem objetivos militares e pol?cos definidos. Os militares est?sendo plenamente atingidos, at?gora. E com um baix?imo custo em termos de vidas humanas. ?isso mesmo. Baix?imo! Afinal, depois de quatro dias de centenas de incurs?a?as e mar?mas, depois de ter despejado sobre Gaza mais de 500 toneladas de explosivos, apenas, repito, apenas, 360 pessoas morreram! E destas, cerca de 60, segundo as informa?s do pr?o Hamas e da ONU, s?civis. Ora, isto quer dizer que o restante fazia parte do ex?ito terrorista, logo um alvo militar. A opera? israelense impressiona, mas n?pelas raz?do senhor Nasrallah ou dos desavisados apedeutas de boa f?admitamos), que usam a palavra “genoc?o” sem saber o que ela significa. O conceito se aplica quando um governo deliberadamente promove o exterm?o de povos ou popula?s inteiras, encontrem-se elas em seu pr?o pa?ou em outros. Os turcos foram genocidas com rela? aos arm?os; os nazistas, com rela? aos judeus; os comunistas stalinistas com rela? aos russos; os mao?as com rela? aos chineses; os japoneses com rela? aos chineses e, hoje, os sudaneses mu?manos com rela? aos sudaneses n?mu?manos. Nem os cubanos castristas, que nos primeiros cinco anos ap? revolu? de 59, exterminaram 95 mil pessoas, praticaram um genoc?o. Eles cometeram assassinatos em massa, uma a? sem d?a abjeta e execr?l, um crime contra a humanidade. Mas, n?cometeram genoc?o. E atentarmos para as diferen? ainda ?undamental. Por que a opera? israelense impressiona? Por duas constata?s que saltam aos olhos. A primeira: a ofensiva est?e processando na ?a mais densamente povoada do planeta (1,5 milh?de habitantes em 360 quil?ros quadrados); a segunda: o Hamas ergueu intencionalmente toda a sua infra-estrutura policial e militar nos centros urbanos, justamente os locais mais densamente povoados deste territ? j?uito densamente povoado (a hip?ole ?roposital). Ora, se ?ara destruir alvos militares, ?reciso atingi-los onde se encontram. E Israel est?azendo isto, de forma quase milim?ica, cir?ca, mesmo correndo o risco, inevit?l nesta situa?, de atingir civis. Repito: e o faz de forma impressionante, pois as baixas civis, nesse contexto, s?aqu?de m?mas. Como a avia? e a marinha israelenses conseguem fazer isto? Empregando alt?ima tecnologia, m?eis inteligentes e alvos previamente selecionados. Caso contr?o, estar?os diante de um massacre. E ?ecess?o que se reafirme: n?estamos sequer a milh?de milhas pr?os disto. O Secret?o-geral da ONU, que jamais reuniu uma confer?ia de imprensa para falar sobre a situa? no Sud? deveria saber disto. Ele, desta forma, ficaria calado. Obviamente, eu n?esperaria que o senhor Ki-moon aplaudisse a opera? de Israel. O Secret?o-geral da ONU deve, por princ?o, lamentar todas as guerras. Mas ele deveria, tamb?por obriga?, calar-se, porque esta ?ma guerra leg?ma, sobretudo defensiva, com objetivos militares e pol?cos claros, de um pa?soberano contra um grupo terrorista que prega o seu aniquilamento e contra os governos que ap? este grupo. Tr? Falei que a guerra possui objetivos pol?cos claros. Ei-los: Israel quer expulsar o Ir?a Faixa de Gaza. O Ir?Isso mesmo, o Ir?O Hamas e a Jihad Isl?ca nada mais s?do que uma extens?do governo de Teer? de seu potencial b?co virtualmente no interior de Israel. E todos sabem o qu?ais almejam os aiatol?iranianos: destruir o que eles chamam de entidade sionista. Assim, ao eliminar a capacidade do Hamas de atacar seu territ?, Israel, al?de retomar o controle sobre sua seguran?imediata, desfere tamb?um golpe mortal nas pretens?iranianas de penetrar em sua fronteira sul. Com isso ainda pretende isolar pol?ca e militarmente o Ir?travestido de Hezbollah, na sua fronteira norte. Ao mesmo tempo, forja uma situa? mais favor?l para negociar com a S?a, tamb?enfraquecida com a derrota do Hamas, um tratado de paz entre os dois paises. Esta ?ma meta de m?o prazo. Por essa raz?o senhor Nasrallah esbraveja contra o Egito de Mubarak e a Autoridade Palestina, de Machmud Abas, chamando-os de traidores do Isl?Nasrallah sabe que, sem o Hamas e a Jihad Isl?ca em Gaza, o Hezbollah, ou seja, o Ir?se enfraquece, enquanto o Egito, a Autoridade Palestina e a Jord?a se fortalecem e, pior (para o Ir? Israel recupera a posi? geopol?ca decisiva para sua exist?ia na regi? A ofensiva ainda torna explicita a disposi? de Israel de n?tolerar que o iranianos consigam obter armamento nuclear. Ou seja, Israel est?reparando o terreno para uma interven? direta no Ir? Como Barak Obama assume a presid?ia dos Estados Unidos em janeiro, Israel envia uma mensagem inequ?ca para Washington: n?h?i?go com o Hamas, nem com Teer?Os Estados Unidos devem se preparar para apoiar irrestritamente a a? militar direta de Israel contra os iranianos. E essa a? n?deve tardar, pelo que se depreende do palco desenhado por Jerusal? Quer dizer: trata-se de uma a? j?lanejada e montada pela intelig?ia militar israelense, que deve ser deflagrada em breve. Pergunta oportuna: o que ?breve”? Resposta: Israel certamente sabe. E, creio agora, Barak Obama tamb? No fim das contas, Israel n?est?azendo mais do que colocar seu destino em suas pr?as m?. E isto ele sempre fez, sob o pre?de simplesmente deixar de existir. D?as? Consultem a Hist?. Finalizando: e a m?a com rela? a esse quadro? Nada informa, nada analisa, nada investiga. Pelo contr?o, submete-se ao superficialismo, mistifica, embrulha-se toda no mantra da desproporcionalidade e mergulha de cabe?no noticiarismo demag?o e pretensamente humanit?o. ?um crime contra a lucidez e a raz? Mas, que diabos, isso l?mporta?” * jornalista e doutor em Filosofia, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul