• Prof. Hermes Rodrigues Nery
  • 21/11/2008
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A DIMENSÏ INTEGRAL DA PESSOA HUMANA - Prof. Hermes Rodrigues Nery

Corporeidade e espiritualidade fazem parte da dimens?integral da pessoa humana, da?ue ?reciso defender a sua dignidade em meio ?apreens?dos riscos de manipula? da vida e as possibilidades promissoras dos avan? biotecnol?os “?preciso reconhecer que, definitivamente, nos encontramos diante de uma nova realidade e com repercuss?sobre a natureza dos seres vivos. ?com este horizonte de fundo que hoje se fala sempre mais em biopoder. Quem tem o dom?o dos segredos da vida pretende dominar a pr?a vida”.1 Muitos cientistas, euf?os com os avan? da biotecnologia, acreditam que as in?as interven?s artificiais, hoje poss?is com as tecnologias dispon?is, poder?trazer grandes benef?os, especialmente no combate ?doen?, garantindo assim uma melhor qualidade de vida, sob muitos aspectos. Em meio ?uforia, h?uitas apreens? “As possibilidades que surgiram atrav?do dom?o t?ico do mundo criaram tamb?novas categorias do mal”.2 ?certo que h?ossibilidades promissoras, como tamb?riscos de manipula? da vida e tantas outras formas de viol?ia de causar assombro. De todas as agress? a mais grave ? que atenta contra a dignidade da pessoa humana. “Um ser humano n?pode ser, em hip?e alguma, tratado como um meio, para qualquer fim, nem mesmo no caso em que esse fim fosse prolongar a vida de um semelhante”..3 Como Igreja que somos, cremos que a pessoa humana, ?uz da f?at?a, n??onstitu? apenas de c?las, mol?las e genes, que podem ser manipulados sem provocar altera?s nos outros componentes, inclusive transcendentes, que a caracterizam como ser vivo, dotado daquele “algo mais” que supera todas as demais manifesta?s de vida no planeta. “A dignidade da pessoa depende do esp?to ou alma espiritual, que informa e qualifica a corporeidade do indiv?o humano singular”.4 H?a pessoa humana um n?l de sofistica? (em termos de mem?, linguagem, intelig?ia e percep?) superior a todas as formas vivas existentes. Por isso a Igreja rejeita “as manipula?s da corporeidade que alteram o seu significado humano”. 5 Ensina-nos o Catecismo da Igreja Cat?a que “por ser a imagem de Deus, o indiv?o humano tem a dignidade de pessoa: ele n??penas alguma coisa, mas algu? ?capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunh?com outras pessoas, e ?hamado, por gra? a uma alian?com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de f? de amor, que ningu?mais pode dar em seu lugar”. 6 A identidade de cada pessoa ?nica e insubstitu?l, express?de uma realidade feita para se afirmar com suas pr?as caracter?icas por toda a eternidade. A dimens?da pessoalidade ?have fundamental para o entendimento e a aceita? daquilo que a Igreja anuncia como valor de vida. “O princ?o da dignidade inviol?l da pessoa humana desde a concep? at? seu fim natural, em qualquer fase ou condi? em que se encontre, fundamenta a reflex?crist? 7 A dimens?integral da pessoa humana Com o cristianismo foi poss?l vislumbrar um conceito de pessoa humana mais abrangente e profundo que o de outras culturas ao longo da hist?, novidade esta (uma boa nova), de alcance filos?o e teol?o at?nt?desconhecido pelos pensadores da Antig?de. “A revela? crist?rojeta uma nova luz sobre a identidade, sobre a voca? e sobre o destino ?mo da pessoa e do g?ro humano”.8 Trata-se da resposta ?quest?fundamentais: “Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que ?ue existir?epois desta vida?” 9 Julian Mar? explica que “o cristianismo parte de duas no?s fundamentais: a primeira, que a outra vida tem a ver com esta, isto ?que a continua como vida da mesma pessoa; em segundo lugar, que esse desenlace e extremo, a suma felicidade ou a suma infelicidade, e que em alguma medida depende da pr?a pessoa”.10 E ressalta que “podemos imaginar esta vida como a escolha da outra, a outra como a realiza? desta; se pensamos que tudo aquilo realmente querido, ser?que nos condenamos a ser de verdade e para sempre o que quisermos, ent?aparece a conex?entre este mundo e o outro, sua unidade radical por refer?ia a mim, j?ue mundo ?empre o mundo de algu?. 11 A vida de cada pessoa humana ?ada como um bem perene, e que s?m sentido na inter-rela? de todos entre si e de cada um com o Criador. Esta vida foi dada para sempre como promiss?de plenitude, mas que somente alcan??ua plena realiza? na outra vida, a partir das op?s feitas nesta vida. “Minha vida ?inha, a de cada um, ?a e irrepet?l, e ?ela de que se trata, a que interessa”. 12 ?vida prometida, mas n?entregue conclu?, pois exige constru?a como algo nosso, pois “a raiz ?ma da pessoa humana ? que chamamos voca?.. Sentimo-nos chamados a fazer algo e, mais ainda, a ser algu? As limita?s, os acasos, as interfer?ias, s?obst?los para que a voca? se cumpra inteiramente”. 13 O que se quer salvar ? pessoa inteira: “O homem ?ma realidade imperfeita, inconclusa, in via, se ?omo viator, o termo da viagem tem que ser a plenitude de suas possibilidades, a maturidade e integridade do projeto em que consiste. Entende-se, cada um sem perda da peculiaridade de cada vida. Esse ou essa que fomos, que somos ?uem h?e salvar-se e viver para sempre. A ressurrei? da carne d?ua ?ma consist?ia a esta interpreta?. Nossa realidade pessoal, inteligente, amorosa, carnal, ligada ?formas hist?as, feita de projetos de v?a sorte, articulados em trajet?s de desigual autenticidade, ? que h?e perpetuar-se, transfigurar-se, salvar-se”. 14 A corporeidade e espiritualidade da pessoa humana fazem parte da realidade a ser salva, pois s? alcan?a vida plena na glorifica? da dimens?integral da pessoa humana. “A salva? crist? para todos os homens e do homem todo: ?alva? universal e integral. Diz respeito ?essoa humana em todas as suas dimens? pessoal, social, espiritual, corp?, hist?a e transcendente”. 15 No ?ito individual, a pessoa humana est?onstitu? por uma alma e corpo que “formam uma unidade din?ca, sendo a alma o elemento determinante. (...) N?h?ustaposi? de dois elementos irreconcili?is, como aparece na id? da alma prisioneira do corpo que suspira pela liberta?. (...) A natureza humana n??ma casa com diversos compartimentos, a alma n?habita o corpo”16, mas ?arte integrada ao corpo que forma uma mesma realidade, cuja uni??undamental para a aut?ica express?da vida humana. Na discuss?sobre quando exatamente come?a vida humana est?oje todo o x da quest?no debate bio?co que envolve diversos segmentos do conhecimento, onde bi?os, fil?os, religiosos e juristas buscam um consenso para que prevale?uma ?ca em defesa da vida humana. “O sujeito, cuja identidade humana tentamos definir, costuma designar-se habitualmente pelos termos embri?(nos dois primeiros meses de exist?ia) e feto (no resto do tempo antes do tempo do nascimento). Recentemente, o vocabul?o foi-se enriquecendo com novas palavras, mas ater-nos-emos ?erminologia habitual de embri?e feto.. Mais importante que a terminologia relativa a sujeito, s?as formula?s da pergunta que pretendemos saber acerca dele, j?ue apontam para conte? diferentes. Uns querem saber quando come?a vida humana, enquanto outros se interrogam sobre o fato e o momento da humaniza? dessa vida. A preocupa? de uns terceiros centra-se sobre a pessoa: ser? embri? logo desde o princ?o, uma pessoa real ou s?tencial, isto ?s?a possibilidade de pessoa?A alguns, o que mais lhe interessa ?or de relevo a presen?da alma espiritual, questionando-se ent? sobre o momento em que tem lugar a anima?, isto ?a infus?da alma. Uma formula? mais moderna fala de status ou estatuto antropol?o, ontol?o, do embri?e do feto. A diversidade de formula?s parecem confluir numa inten? e fundo comuns a todos: o que s? ao fim e ao cabo, o embri?e o feto em rela? a essa realidade a que chamamos de ser humano? Que tomadas de posi? morais exigem de n?7 Muitos pesquisadores (influenciados pelo relativismo e materialismo) questionam inclusive a pr?a exist?ia da alma humana, numa vis?reducionista da pessoa. Diante da falta de consenso entre os especialistas, principalmente entre os cientistas, o Direito deve assegurar a prote? da vida, em todas as circunst?ias, por isso a Igreja afirma que “o ser humano deve ser respeitado e tratado como pessoa desde o instante da sua concep?”.18 A interven? t?ica pode ferir a dignidade da pessoa humana A pessoa humana n??penas um design que se pode redesenhar e moldar segundo a l?a de uma engenharia gen?ca que visa alterar a estrutura, a forma e a fun? dos ?os que comp?o todo em sua constitui? original, para fins puramente utilit?os. A pessoa ?m todo integrado, em que a a? da t?ica (por melhor que seja a inten?) pode significar uma interven? artificial capaz de ferir o que h?e mais importante na sua constitui? como ser humano (aquilo que ? sua dignidade), ocasionando assim conseq?ias, sofrimentos e danos ?ua integridade. O corpo, em nossa sociedade fortemente hedonista, tornou-se instrumento de pervers?e obsess?que atentam contra a dignidade da pessoa humana. As falsas necessidades, motivadas por um conceito estranho de felicidade, t?levado milh?de homens e mulheres a fazerem op?s a estilos de vida que contrariam a lei natural e amea? o bem da pessoa. “No ?ito da investiga? cient?ca, foi-se impondo uma mentalidade positivista, que n?apenas se afastou de toda a refer?ia ?is?crist?o mundo, mas sobretudo deixou cair qualquer alus??is?metaf?ca e moral. Por causa disso, certos cientistas, privados de qualquer referimento ?co, correm o risco de n?manterem, ao centro do seu interesse, a pessoa e a globalidade da sua vida. Mais, alguns deles, cientes das potencialidades contidas no progresso tecnol?o, parecem ceder ??a do mercado e ainda a tenta? dum poder demi?co sobre a natureza e o pr?o ser humano”. 19 Parte do processo O corpo ?arte de um processo, n?? processo em si. Muitos cientistas – ao lidarem com o corpo, manipulam parte de uma realidade, e n?a realidade em sua misteriosa totalidade e transcend?ia. A materialidade da realidade terrena tamb?faz parte daquele conjunto de contextos e mist?os que comp?o universo da pessoa humana e contribuem para a sua realiza? integral. Tanto ?ue a ressurrei? da carne vem restabelecer a dignidade da pessoa humana em sua totalidade. O corpo ressuscitado (e glorificado), “?ssa carne, regada de sangue, sustentada por ossos, entremeada de nervos, entrela?a de veias; uma carne que nasceu e que morre, indubitavelmente humana”20, mas que ser?ransfigurada. Como crist?, cremos que a alma humana “se une naturalmente ao corpo, pois ?ssencialmente forma do corpo”21, ela “?aturalmente parte da natureza humana”. 22 Como lembra o papa Jo?Paulo II, “corpo e alma s?insepar?is: na pessoa, no agente volunt?o e no ato deliberado, eles salvam-se ou perdem-se juntos”. 23 Certas experi?ias da biotecnologia s?resultado de uma interfer?ia em parte da realidade, dissociando-a de v?ulos essenciais, para que esta parte se complete no todo. Os cientificistas n?levam em conta a possibilidade do homem ser mais que sua realidade f?ca, por isso v? com naturalidade as interven?s t?icas que visam reproduzir indiv?os por meios artificiais. “O cientificismo considera tudo o que se refere ?uest?do sentido da vida como fazendo parte do dom?o do irracional ou da fantasia”. 24 A pessoa humana, quando n?concebida em sua dimens?integral, vista apenas sob o enfoque de sua realidade f?ca, se torna objeto manipul?l, reduzido em sua signific?ia, podendo ser aviltada em sua voca? original, transformando-a naquilo para o qual ela n?est?estinada a ser, em algo inteiramente estranho ?ua natureza, deformando-a e asfixiando suas verdadeiras potencialidades. Como lembra Mario Stoppino, em obra organizada por Norberto Bobbio: “a manipula? ?m fen?o un?ca e insofismavelmente negativo. Entre todas as formas de poder, ?la que acarreta mais grave condena? moral. Tem-se afirmado, por exemplo, que ela constitui a face mais ign? do poder e a forma mais inumana de viol?ia, ou quem dela ??ma ?spoliado da alma”25, nesse sentido, “a manipula? ?empre um mal; nega radicalmente o valor do homem”26. A dimens?integral da pessoa humana se manifesta na pessoalidade, isto ?na qualidade espec?ca da pessoa humana que a torna um ser que pensa, sente e se relaciona com o outro – e toma decis?morais – e cuja rela? perfeita a ser atingida ? comunh?amorosa com o outro; pois ?sta a pr?a rela? de Deus com cada criatura humana que criou. “Ser pessoa ?magem e semelhan?de Deus comporta... um existir em rela?, em refer?ia ao outro eu, porque Deus mesmo, uno e trino, ?omunh?do Pai, do Filho e do Esp?to Santo”. 27 A dimens?natural e sobrenatural determina a condi? humana, mist?o pelo qual a pessoa ?hamada a viver e a constituir uma hist?, a partir do conjunto de elementos que comp?a sua realidade existencial. “Voca? n?? que temos que fazer na vida, ? que temos que ser. (...) Trata-se de ser eu mesmo, de encontrar minha modula? pessoal na ordem das coisas, de uma certa maneira de situar-me no mundo e de tratar com o outro”28. ?o que P?aro expressara em sua m?ma po?ca: “torna-te aquilo que ?. N?se ?essoa satisfazendo apenas um ou outro aspecto da sua dimens?como um todo, mas cumprindo as exig?ias da corporeidade e da espiritualidade. A Igreja reconhece “a verdade integral da pessoa humana enquanto ser espiritual e corp?, em rela? com Deus, com outros seres humanos e com todas as demais criaturas”.29 O corpo como utopia Vivemos hoje sob a ?de da transgress? Muitas de nossas atitudes s?movidas por imediatismos e se tornam escapismos em busca de sensa?s que mais iludem do que garantem um bem-estar aut?ico. O estresse, a ang?a, um vazio existencial, a falta de um sentido de vida verdadeiramente humano, s?resultados concretos da cultura transgressora do nosso tempo. O corpo perfeito tornou-se a utopia da p?odernidade.. Muitos n?sonham mais com uma sociedade ou um reino de bem-aventuran? e paz que valham a pena alcan?. A cultura transgressora e permissiva dos dias atuais levam homens e mulheres a empreenderem esfor? para garantirem o m?mo de prazer. Em nome do conforto tudo ?ustific?l, inclusive a imoralidade, desde que praticada com sutileza e ast?. “Para milhares de brasileiros, incentivados pela publicidade e pela ind?ia cultural, o sentido da vida reduziu-se ?rodu? de um corpo. A possibilidade de inventar um corpo ideal, com a ajuda de t?icos e qu?cos do ramo, confunde-se com a constru? de um destino, de um nome, de uma obra. Hoje, eu sei que posso tra? meu pr?o destino, declara um jovem freq?ador de academias de muscula?, associando o aumento do seu volume muscular ?onquista de respeito por si mesmo”.30 O corpo ut?o, como express?m?ma do individualismo, substituiu a utopia dos valores solid?os. Tudo se volta para o corpo, como fim ?mo de uma concep? de vida sem transcend?ia. “O corpo ?m escravo que devemos submeter ?igorosa ind?ia da forma (enganosamente chamada de ind?ia da sa? e um senhor ao qual sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos”. 31 O corpo ficou ent?prisioneiro de artif?os que pouco contribuem para a sua real fun? socializadora. Para o cr?co portugu?Jos?ragan? “o corpo ut?o implica n?s?substitui? do mundo pelo corpo, mas uma crise do pr?o corpo, que explode e se dissipa ao tomar o lugar do mundo. Um corpo que resume em si todas as esperan? e amea?, que traz a chave da felicidade, mas se precipita para a destrui?, um corpo problem?co”. 32 Com o desmoronamento das ideologias temporais (que desejaram edificar sociedades perfeitas), emerge como um sintoma do desespero p?oderno a utopia do corpo perfeito. “A promessa de viver melhor, que congrega os homens e os induzem a se submeterem ?limita?s que a cultura imp?declara como direito o bem-estar do corpo, o desenvolvimento f?co e a felicidade sensual”. 33 Um cap?lo a preceder o “pecado final”? ?neste contexto e clima cultural de crasso materialismo, perverso hedonismo, em meio ao nevoeiro do relativismo, desesperan?no transcendente, hiper-individualismo, e os extremos do niilismo, que se insere “as quest??cas decorrentes das novas biotecnologias”34, em que se imp? “impressionante multiplica? e agravamento das amea? ?ida das pessoas e dos povos”. 35 Multiplicam-se ent?as interroga?s: que extraordin?as possibilidades trar?este tempo promet?o? Estaremos vivendo uma nova tenta? ad?ca, como um cap?lo a preceder um pecado final, que poder?rovocar uma queda ainda mais dolorosa de condi? da vida humana, a um maior absurdo e ang?a? Como salvaguardar e defender a pessoa e a dignidade da vida humana, em meio a tantas amea?? Como intervir de forma construtiva para afirmar a cultura da vida num panorama de t?grandes apreens?e tamb?promiss? “As interroga?s radicais, que acompanham desde os in?os o caminho dos homens, adquirem, no nosso tempo, ainda maior signific?ia, pela vastid?dos desafios, pela novidade dos cen?os, pelas op?s decisivas que as atuais gera?s s?chamadas a efetuar. O primeiro dentre os maiores desafios, ante as quais a humanidade se encontra, ? da verdade mesma de ser-homem. A fronteira e a rela? entre natureza, t?ica e moral s?quest?que interpelam decisivamente a responsabilidade pessoal e coletiva, em vista dos comportamentos que se devem ter em face daquilo que o homem ?do que pode fazer e do que deve ser. Um segundo desafio ?osto pela compreens?e pela gest?do pluralismo e das diferen? em todos os n?is: de pensamento, de op? moral, de cultura, de ades?religiosa, de filosofia do progresso humano e social. O terceiro desafio ? globaliza?, que tem um significado mais amplo e profundo do que o simplesmente econ?o, pois que se abriu na hist? uma nova ?ca, que concerne ao destino da humanidade”. 36 O que se teme n?s?as promessas biotecnol?as. Espera-se at?ue elas tragam benef?os ?ida humana. A quest?est?o furor da hybris, na aus?ia de crit?o ?co a regular estas possibilidades; no abuso da liberdade que poder?scravizar o homem e a mulher a uma situa? de conting?ia, de p?umanidade, onde n?ser?ais poss?l respirar as maravilhas de Deus. E ent? derrotado em seu orgulho, a consci?ia humana clamar?or aqueles dias em que o afeto e o discernimento permitam liames que davam sabor ?ida, humanizando-a em meio ?viol?ias que amea?am a express?da pessoalidade, em suas rela?s naturais. “O homem de hoje parece estar sempre amea?o por aquilo mesmo que produz, ou seja, pelo resultado do trabalho das suas m? e, ainda mais, pelo resultado do trabalho da sua intelig?ia e das tend?ias da sua vontade. Os frutos desta multiforme atividade do homem, com grande rapidez e de modo muitas vezes imprevis?l, passam a ser n?tanto objeto de aliena?, no sentido de que s?simplesmente tirados ?eles que os produzem, como sobretudo, pelo menos parcialmente, num c?ulo conseq?e e indireto dos seus efeitos, tais frutos voltam-se contra o pr?o homem. Eles s?de fato dirigidos, ou podem s?o, contra o homem. Nisto parece consistir o ato principal do drama da exist?ia humana contempor?a, na sua dimens?mais ampla e universal. Assim, o homem vive mergulhado cada vez mais no medo. Teme que os seus produtos, naturalmente n?todos nem a maior parte, mas alguns e precisamente aqueles que encerram uma especial por? da sua genialidade e da sua iniciativa, possam ser voltados de maneira radical contra si mesmo”. 37 O medo e o desespero levam a pessoa humana ferida em sua dignidade a descrer na vida como um dom e um bem. Fica ent?mais vulner?l aos estilos suicidas que destroem n?apenas as possibilidades concretas j?xistentes dos sinais de esperan? como aquele olhar para a frente e para o alto, que permite vislumbrar perspectivas renovadas de vida. “O tema da morte pode tornar-se, para todo pensador, um severo apelo a procurar dentro de si mesmo o sentido aut?ico da pr?a exist?ia”..38 O absurdo ? aus?ia de um sentido pessoal de vida, portanto, de desumanidade. Por isso, uma via suicida.39 O “psiu” da serpente persiste dizendo: “sereis como Deus” “A liberdade ? condi? mesma da pessoa humana. (...) O homem, por n?estar feito, por ser autor de si mesmo partindo de sua realidade dada, recebida, n?se pode predizer, nem dominar, nem regular. Pode imaginar, inventar, descobrir novas realidades ou novos modos de entend?as; pode, certamente, errar, pode dizer sim ou n? at?esmo ao pr?o Deus que o criou. A liberdade ?erigosa, se n?se ama a condi? pessoal, se a v?om desconfian?e hostilidade”..40 Se a pessoa humana “n?tivesse que escolher quem pretende ser, com risco de erro, n?seria um homem, e sim outra realidade, que n?? que Deus quis criar”. 41 O pecado final insere-se no mesmo contexto e drama narrado no G?sis. Com as obsess?e possibilidades biotecnol?as, podemos estar revivendo a mesma trag?a ad?ca. “Proibindo ao homem de comer da ?ore da ci?ia do bem e do mal, Deus afirma que o homem n?possui originariamente como pr?a esta ci?ia, mas s?rticipa nela atrav?da luz da raz?natural e da revela? divina, que lhe manifestam as exig?ias e os apelos da sabedoria eterna”.42 Algo, por? continua a insistir, como o “psiu” da serpente, a nos tentar a fazer o que n?devemos, mesmo tendo ao alcance tantas possibilidades. As perspectivas gen?as podem permitir ao homem repetir o orgulho ad?co, n?aceitando Deus como seu criador e buscando, ele mesmo, obter o controle total sobre a vida, voltando as costas 1uele que lhe deu o “sopro vital”43. Cometido o pecado final, a pessoa humana poder?star exilada de vez da pr?a humanidade e, portanto, da sua verdadeira felicidade. A Igreja em meio a esta dura e nova prova? Que respostas podemos dar, como crist?, a t?grandes desafios? A Igreja sabe que “Jesus Cristo ? caminho de salva? e a resposta para os graves problemas que nos afligem”44, pois, “a decis?incondicional a favor da vida atinge em plenitude o seu significado religioso e moral, quando brota, ?lasmada e alimentada pela f?m Cristo”. 45 H?inais de esperan?nestes tempos convulsivos. Muitas iniciativas t?surgido no seio da Igreja e da sociedade – her?s e prof?cas – como tamb?dos poderes p?cos, da iniciativa privada, enfim, dos mais diversos segmentos sociais que sinalizam outra perspectiva e querem afirmar os valores que permitam construir uma civiliza? que cultive a vida, em todos os aspectos. Faz parte da miss?bimilenar da Igreja n?transigir com o mal, apesar de muitos daqueles que se dizem crist? (ainda por conveni?ia) estarem coniventes com o mal, minando a s?outrina, por dentro das estruturas. Mesmo perseguida, n?compreendida e constrangida pela loucura dos homens, a Igreja n?deixar?e contar com a prote? d1uele que a instituiu para ser a via de salva? dos homens. Em meio a tudo isso, a Igreja ?hamada a ser sempre sinal de contradi?. Por isso sua voz clama em todo o mundo como um alerta e um clamor para um renovado empenho em favor da dignidade da pessoa humana. “A todos os membros da Igreja, povo da vida e pela vida – conclamou o papa Jo?Paulo II, em sua enc?ica Evangelium Vitae – dirijo o mais premente convite para que, juntos, possamos dar novos sinais de esperan?a este nosso mundo, esfor?do-nos por que cres? a justi?e a solidariedade e se afirme uma nova cultura da vida humana, para a edifica? de uma aut?ica civiliza? da verdade e do amor”. 46 Bibliografia: Evangeliza? e Miss?Prof?ca da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). S?Paulo: Paulinas, 2005 [p. 105]. Joseph Ratzinger, O Sal da Terra – O Cristianismo e a Igreja Cat?a no Limiar do Terceiro Mil?o – Um Di?go com Peter Seewald , Ed. Imago, 1997, P? 31. (Dom Geraldo Majella Agnelo, Em Defesa da Vida Humana, artigo disponibilizado no site da Confer?ia Nacional dos Bispos do Brasil, em 18 de agosto de 2004). Dom Elio Sgreccia, L?con, termos amb?os e discutidos sobre fam?a, vida e quest??cas, Pontif?o Conselho para a Fam?a, Edi?s CNBB, 2007, p. 53. Papa Jo?Paulo II, Enc?ica Veritatis Splendor, 50 – Edi?s Paulinas, 1993, p. 83). Catecismo da Igreja Cat?a, 357, Editora Vozes, Edi?s Paulinas, Edi?s Loyola, Editora Ave Maria, 1993, p. 92. Evangeliza? e Miss?Prof?ca da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). S?Paulo: Paulinas, 2005 [p. 110]. J?n Mar?, A Perspectiva Crist?Ed. Martins Fontes, 2000, p. 9. Jo?Paulo II, Enc?ica Fides et Ratio, 1, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 4. J?n Mar?, A Perspectiva Crist?Ed. Martins Fontes, 2000, p. 9. J?n Mar?, Problemas do Cristianismo, Editora Conv?o, 1979, p. 38. J?n Mar?, A Perspectiva Crist?Ed. Martins Fontes, 2000, p. 80. J?n Mar?, A Perspectiva Crist?Ed. Martins Fontes, 2000, p. 84. J?n Mar?, A Perspectiva Crist?Ed. Martins Fontes, 2000, p. 83-84. Comp?io da Doutrina Social da Igreja, Pontif?o Conselho “Justi?e Paz”, Edi?s Paulinas, 2005, p. 35. Dom Valfredo Tepe, O Sentido da Vida – Psicologia e Ascese Crist?Editora Vozes, 1993, p.p 34-35. Francisco Javier Elizari, Quest?de Bio?ca, Editora Santu?o, 1996, p. 41. Gaudium et Spes, 51 – Francisco Javier Elizari, Quest?de Bio?ca, Editora Santu?o, 1996, p. 45. Jo?Paulo II, Enc?ica Fides et Ratio, 46, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 72. Tertuliano, De Carne Christi, 5. S?Tom?de Aquino, Suma Contra os Gentios, Volume II, Livros IIIº e IVº, EDIPUCRS em co-edi? com Edi?s EST, Porto Alegre, 1996, p. 877. S?Tom?de Aquino, Suma Contra os Gentios, Volume II, Livros IIIº e IVº, EDIPUCRS em co-edi? com Edi?s EST, Porto Alegre, 1996, p. 877. Papa Jo?Paulo II, Enc?ica Veritatis Splendor, 49, Edi?s Paulinas, 1993, p. 81. Papa Jo?Paulo II, Enc?ica Fides et Ratio, 88, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 134. Mario Stoppino, Verbete “Manipula?”, do Dicion?o de Pol?ca (Org. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino), Editora Universidade de Bras?a, p. 728. Mario Stoppino, Verbete “Manipula?”, do Dicion?o de Pol?ca (Org. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino), Editora Universidade de Bras?a, p. 728. Papa Jo?Paulo II, Carta apost?a Mulieris dignitatem, 7: AAS 80 1988) 1664; Comp?io da Doutrina Social da Igreja, Pontif?o Conselho “Justi?e Paz”, Edi?s Paulinas, 2005, p. 33. J?n Mar?, Problemas do Cristianismo, Editora Conv?o, 1979. Papa Jo?Paulo II, Carta enc. Veritatis Splendor, 13.50.79: AAS85 (1993) 1143-1144; Comp?io da Doutrina Social da Igreja, 75, p? 52. Folha de S?Paulo, Mais, p. 12, 25 de mar?de 2001. Folha de S?Paulo, Mais, p. 12, 25 de mar?de 2001. Folha de S?Paulo, Mais, p. 12, 25 de mar?de 2001. Stefano de Fiores e Tullo Goffi, Dicion?o de Espiritualidade, Corpo, Paulus, 2ª edi?, 1993, p. 205. Evangeliza? e Miss?Prof?ca da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). S?Paulo: Paulinas, 2005 [p. 105]. Papa Jo?Paulo II, Enc?ica Evangelium Vitae, 3. Comp?io da Doutrina Social da Igreja, 15, Pontif?o Conselho “Justi?e Paz”, Edi?s Paulinas, 2005, p. 23. Jo?Paulo II, Enc?ica Redemptor Hominis (4 de mar?de 1979), 15: ASS 71 (1979), p. 286. Papa Jo?Paulo II, Fides et Ratio, 48, Libreria Editrice Vaticana, 1998, P? 75. Em O Mito de S?fo, Albert Camus come?a sua obra afirmando: “S?iste um problema filos?o realmente s?o: ? suic?o. Julgar se a vida vale ou n?a pena ser vivida ?esponder ?uest?fundamental da filosofia”. Editora Guanabara, 3ª edi?, p. 23. J?n Mar?, A Perspectiva Crist?Martins Fontes, 2000, p. p. 121-122. J?n Mar?, A Perspectiva Crist?Martins Fontes, 2000, p. 122. Papa Jo?Paulo II, Veritatis Splendor, 41, Edi?s Paulinas, 1993, p. 68. Gn 2, 7. Evangeliza? e Miss?Prof?ca da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). S?Paulo: Paulinas, 2005 [p. 22]. Papa Jo?Paulo II, Enc?ica Evangelium Vitae, 28. Papa Jo?Paulo II, Enc?ica Evangelium Vitae, 6. * Prof. Hermes Rodrigues Nery ?oordenador da Comiss?Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legisla? e Vida, da Diocese de Taubat?