• Antônio Augusto Mayer dos Santos
  • 02/01/2019
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UÉ, FICARÃO AQUI COM O CAPITÃO?

 

  Faz poucos meses, no fervor da campanha eleitoral, várias “personalidades”, “celebridades” e “subcelebridades” alardearam que caso o “direitista” Jair Bolsonaro fosse eleito, “deixariam o país”. Detentores de mandatos ou polpudos contracheques não ficaram para trás e também anunciaram as suas aposentadorias da política. Outra trupe, um pouco mais hostil, formada por “artistas” e “intelectuais”, alguns visivelmente decadentes e alardeando um governo “preconceituoso” e “fascista”, assegurou o encerramento da carreira nas terras de Macunaíma.

Pois bem. O outrora cortador de palmitos e militar da reserva venceu a eleição, anunciou ministério, foi diplomado, empossado, mas, para decepção geral, os amuados permaneceram por aqui. E o que é pior: ao que dão entender, ficarão em definitivo. Isso é frustrante. Afinal, seus “desabafos patrióticos” geraram tremendas expectativas e as pessoas acabaram logradas, alvo de propaganda enganosa. Tudo não passou de um blefe. E tempo para a fuga foi o que não faltou. Tiveram de sobra. Até porque, formalizar pedido de aposentadoria, encaminhar renúncia e até anunciar a saída de novela é coisa rápida, praticamente instantânea hoje em dia. Basta enviar um WhatsApp ou um e-mail e a providência está encaminhada.

Mas não. Eles “enganaram a torcida” e continuarão por aqui lecionando irresponsavelmente em escolas e universidades, encenando filmecos, novelas e peças de última categoria, assacando a honra e o agir de pessoas blindados pela imunidade parlamentar, esganiçando vulgaridades em “musicais”, apresentando telejornais carcomidos ou mugindo entrevistas para lá de enfadonhas nos canais de uma rede de televisão que está na iminência de ser devastada.

Misto de craques daquele timaço escalado por Guilherme Figueiredo no Tratado Geral dos Chatos e cínicos capazes de ruborizar Maquiavel, esses fujões arrependidos não têm absolutamente nada de patriotismo a declarar. Pelo contrário. São figuras pasteurizadas. Profissionais da encenação e moralistas de araque, não passam de personagens que ao utilizar linguagens e instantes estrategicamente calculados, produzem falas belicosas e discursos oportunistas. Ao tentar transmitir uma imagem de “senso ético” desqualificando o então candidato do PSL, esses embustes resvalaram na pequenez de seus estereótipos. Forçaram tanto a barra que acabaram por quebrá-la. O inusitado é que na iminência da eleição ou logo após, diante das repercussões e cobranças de coerência, muitos se apressaram alegar que tudo não passou de “fake news” ou fofoca de site. Pobres vítimas. E sempre as mesmas. Tão discretas e sempre sendo perseguidas.

Como a princípio todos seguirão por aqui com o palanque armado, seus próximos lances são previsíveis. Simplificando pessoas e temas de maneira rasa, cuspirão calúnias, trombetearão diuturnamente que o novo governo é continuidade do “gopi”, que há um “preso político condenado injustamente sem provas” e que o bom mesmo, especialmente para os seus bolsos e carreiras, era antes do Impeachment, da Lava Jato e da iminente revisão da Lei de Incentivo à Cultura.

Entretanto, nem tudo está perdido. Sendo o Brasil um país livre, democrático e os aeroportos funcionando a pleno, esses inquisidores de meia tigela bem que poderiam repensar e, num gesto de imensurável grandeza, cumprir o que foi prometido: ir embora. Ou então, caso não deixem o país porque “tudo não passou de boato”, façam outro favor: saiam do ar, de cena e das tribunas, de preferência levando suas desculpas esfarrapadas e versões de “assessorias de imprensa” a tiracolo. Os contribuintes ficariam eternamente gratos.

 

*Antônio Augusto Mayer dos Santos, advogado e professor de Direito Eleitoral.