• Valterlucio Bessa Campelo
  • 16/07/2022
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Todo extremismo político deve ser evitado

Valterlucio Bessa Campelo

 

Quem colocou o pobre contra o rico, o preto contra o branco, o gay contra o hétero, o ecologista contra o devastador, o ateu contra o religioso...? Aconteceu por acaso? Claro que não.

Ocorre em todo o mundo uma polarização política que se retroalimenta continuamente em vista do comportamento de pessoas que, adeptas de uma ou outra ideologia, grupo ou bando mesmo, está disposta a ultrapassar limites e atentar contra a integridade física do oponente. Não basta o discurso, a palavra, o argumento (ou a falta deles), importa é não “perder” o debate, não ser derrotado.

Infelizmente, embora hoje em dia essa questão – a polarização, pareça mais aguda, em função da velocidade e amplitude das comunicações, o fenômeno não é recente. Faz parte da história da humanidade. Caim matou Abel, lembram? Ante a aceitação por Deus da oferta de seu irmão, ele não se conformou e, julgando aquilo como uma demonstração de preferência insuportável, discute com Abel e o mata com uma pedra.

Na antiguidade, dezenas de reis e rainhas foram assassinados de modo correspondente ao que hoje se denominaria de crime político. Apenas em Roma, estima-se que dos 64 imperadores entre Augustus e Teodósio, 43 foram assassinados. A disputa pelo poder nunca excluiu a morte. São centenas os casos de reis, rainhas, monarcas e presidentes que perderam a vida no exercício do cargo. Nos EUA, por exemplo, os presidentes assassinados foram quatro. Não se contabiliza aqui as tentativas e os detentores de cargos inferiores.

E quando a disputa desce ao nível do povo? Não há conta. São, seguramente, milhares que movidos pelo ódio ou por algum tipo de provocação, terminam por cometer agressões. Se, pessoalmente, são pessoas violentas ou pré-dispostas a atos violentos, a situação pode facilmente sair do controle e transformar-se em tragédia.

Vejamos o que ocorre hoje em dia no Brasil. Desde que teve chance no governo, a esquerda alimentou com todas as forças e meios o “nós contra eles”. São inúmeros os discursos de seus líderes com este divisor, marcando a sociedade. Quem colocou o pobre contra o rico, o preto contra o branco, o gay contra o hétero, o ecologista contra o devastador, o ateu contra o religioso...? Aconteceu por acaso? Claro que não. Faz parte do método da esquerda a divisão da sociedade entre oprimido e opressor. Se o cidadão não está a fim de selar a si próprio com algum de seus rótulos, é para a esquerda um alienado sem consciência de classe. Sabemos como eles foram tratados por Lenin e Stálin na vigência do comunismo, sabemos como são tratados agora mesmo na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba, na China, na Coreia do Norte. Em nenhum desses lugares há possibilidade de não ser A. ou ser anti-A, sem arriscar o pescoço. Enfim, o extremismo, a visão em duas cores, é da natureza do socialismo, vigora desde suas origens e continua sendo método nos dias de hoje.

É claro que numa democracia o outro lado responde. Às vezes com excessos, com tons crescentes de antagonismos. Nenhum espaço, menos ainda o das ideias, é cedido graciosamente, como se houvesse uma mera rendição à lógica. Mesmo porque, de lógicos a esquerda não exibe sequer seus argumentos econômicos básicos, já que foram cientificamente refutados e fracassaram em todas as experiências práticas.

Vivemos, pelo menos desde que “me entendo por gente”, o período brasileiro de maior polarização política. A retirada da cadeia de um ladrão condenado em várias instâncias e a surpreendente restauração de sua elegibilidade colocaram na cena política a síntese da polarização, ou seja, a disputa entre frações da sociedade que se alinham cada vez mais fortemente a um dos lados. Este processo, assim verticalizado, se causa espanto ou atemoriza aqueles mais serenos, tolerantes e democráticos, funciona perfeitamente para a esquerda. Como diria a ex-senadora petista Benedita da Silva “não há redenção sem derramamento de sangue”, ou, como assegura o “intelectual” do mesmo naipe Mauro Iasi, para os conservadores estão sendo garantidos um bom paredão, um bom fuzil, uma boa bala e uma boa cova. São descuidos em que confessam seu verdadeiro intento.

Nesses tempos de disputa entre “bolsonaristas” e “lulistas”, o caso mais terrível vem de abril de 2018, quando o ex-vereador petista em Diadema-SP, Maninho, empurrou contra um caminhão em movimento, um adversário que havia chamado o ladrão de... ladrão! Com o impacto, o empresário Carlos Alberto Pettoni ficou sequelado e morreu três anos depois. Curiosamente, mas sem surpreender, nos últimos dias Lula. o ex-condenado presidenciável, agradeceu o gesto e elogiou o agressor. Pelo menos, desta vez, foi coerente.

Mais recentemente, houve em Foz do Iguaçu, o caso de um duelo entre dois policiais que atiraram um no outro depois de uma provocação da mesma espécie. Como mostram os vídeos, houve a seguinte escalada: insultos-pedras atiradas-evasão-retorno-armas em punho-tiros-morte-ferimentos-chutes. Uma cena estarrecedora e inaceitável, mas não inútil. Para a esquerda, um cadáver adversário é um a menos, mas se for dos seus, vira palanque, tanto que fizeram do episódio um estardalhaço nacional, potencializando a polarização em seu favor, como se a partir de agora bolsonaristas estivessem nas ruas caçando esquerdistas. A esta tentativa picareta e oportunista, Bolsonaro reagiu dispensando o apoio de qualquer violência ou correligionário violento.

Enfim, estamos em um jogo perigoso alimentado sem pejo pela esquerda que dela se aproveita. Com a velha mídia a favor, querem agora estabelecer na direita o selo de violenta, que deve cada vez mais se esquivar de provocações e enfrentar seus adversários no campo das ideias. Parafraseando Napoleão, pode-se dizer que do alto de uma montanha de mais de 100 milhões de cadáveres, vítimas do socialismo, a história nos contempla.