• Claudia Sies Kubala
  • 24/03/2020
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SERÁ QUE DEVEMOS ODIAR OS CHINESES?

 

A antiga civilização chinesa passou por diversas dinastias e inúmeros imperadores, oferecendo algumas importantes invenções para o mundo, como o papel, a bússola, o sismógrafo, os números negativos, o ábaco, a tinta e a pólvora, além de nos proporcionar belíssimas obras arquitetônicas e artísticas.

Os chineses eram conhecidos por sua preocupação com a saúde, educação, cultura e trabalho, mantendo o país a todo o vapor até a queda de seu último imperador durante a Revolução de 1911. A partir daí surgiram os "Senhores da Guerra", chefes militares que fragmentaram o país dando início a uma grande escalada de violência, o partidos Nacionalista e Comunista, responsáveis pela Guerra Civil Chinesa, a Segunda Guerra Sino-Japonesa, iniciada após o Incidente da Ponte Marco Polo e findada com a derrota dos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial e, por fim, o reinício da Guerra Civil Chinesa, culminando na vitória dos comunistas e proclamação da República Popular da China em primeiro de outubro de 1949.

Mas o que toda essa história tem a ver com o título desse artigo? Imagine um povo de tamanha sabedoria, capaz de manter seu país de forma autossustentável, passando pelos flagelos da guerra, fome e dominação pelo medo. Atualmente, não se pode deixar de observar os inúmeros ataques aos chineses, colocando todos em um "mesmo saco". Muitos repudiam suas práticas culinárias mas, talvez, não conheçam suas raízes.

No ano de 1958, o então líder do Partido Comunista, Mao Tsé-Tung, lançou o Grande Salto à Frente, um plano cujo objetivo era transformar o país em uma potência industrial. Calcula-se que 90 milhões de camponeses passaram a trabalhar com produção de ferro e aço, gerando uma queda na produção de alimentos que levou milhões de pessoas à fome. Para tentar evitar a morte, muitos passaram a comer ratos, animais silvestres, cascas de árvores e, em casos extremos, praticavam o canibalismo em cadáveres, segundo relatos contidos no livro A Grande Fome de Mao, de Frank Diköter. Este foi o ponto de partida para o surgimento dos mercados de animais silvestres, onde a lei de proteção da vida selvagem, criada em 1988 pelo governo chinês, permite a comercialização de 54 espécies, desde centopeias a texugos e crocodilos.

Em um país não tão distante, que em outros tempos foi considerado como um dos mais prósperos da América Latina, algo similar vem acontecendo. Até pouco tempo atrás, vídeos das ruas venezuelanas livres de cães e gatos e de pessoas caçando pombos por conta da falta de alimentos, além de relatos de roubos de animais selvagens do zoológico para saciar a fome, circulavam livremente pelas redes sociais. Hoje, não os observamos com tanta frequência, porém, o problema permanece latente. Imagine, agora, se o Regime adotado na Venezuela continuar por algumas décadas e sua população, tal qual a chinesa, adotar hábitos alimentares pouco convencionais, oferecendo um campo aberto para o surgimento de novas doenças?

Regimes Totalitários como o chinês e o venezuelano tratam de sua população com mão pesada, desarmando, perseguindo, enfraquecendo, tirando sua capacidade para lutar e se rebelar através da fome, dor e medo. Por isso, caro leitor, deixo aqui duas perguntas: será que devemos nutrir ódio por uma população que durante décadas vem passando por males infindáveis impostos por seu governo? Ou deveríamos repudiar apenas o Regime que há 70 anos gera toda uma sorte de infortúnios? Fica a reflexão.