A morte nos sensibiliza. Claro. Somos humanos, temos sentimentos! Emoções são naturais e indispensáveis ao nosso comportamento.
Porém, tragédias como as de Brumadinho e do incêndio no dormitório flamenguista, sejam catástrofes ou mesmo crimes, ocorrem todo momento e em todo lugar e tempo!
Evidente que o imediato e a aversão convulsionam a mídia, redes sociais e a nós. Na verdade, somos chamados e convidados à agir pelas emoções. Vemos, lemos, ouvimos - e choramos - pelas famílias despedaçadas, sonhos interrompidos e chocantes lembranças de familiares diretamente envolvidos.
Emergem em nossa mente, ódio, raiva, ressentimentos para com todos aqueles que se omitiram e que poderiam ter evitado tais eventos, por meio da efetiva tomada de decisões adequada e justa, algumas vezes até simplória.
Organizações privadas, clubes particulares, diretores, governo e órgãos reguladores e fiscalizadores, políticos, todos saltam a nossa frente, os vilões do momento.
Na pele de um dos familiares mortos nessas tragédias, eu não só estaria acabado, como também, provavelmente, mobilizando-me e tomando ações mais do que inflamadas. Um chamado a responsabilização! Todos culpados devem ser punidos.
Mas porque será que não nos tocam, similarmente, ideologias, governos, políticos, pessoas imorais e corruptas que vêm ao longo da humanidade matando e/ou mutilando outras pessoas de carne e osso?! Alguns como Stalin, Hitler, Castros, Kirchners, alguns maus governantes no Brasil, de militares a Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e muitos outros? Sede de poder e de riqueza ilícita, corrupção sempre existiram. Com democracia, liberdade de expressão, imprensa livre, tudo isso veio à tona mais fácil e rapidamente. Que bom que agora ditadores, corruptores e corrompidos estejam mais visíveis e mais "tocáveis".
Tragédias não tão distantes como a venezuelana e outras estatísticas avassaladoras de mortes não parecem motivar comoções e ações tão efusivas. Afinal, como expressou Stalin: "a morte de um homem é uma tragédia. Mil mortes é uma estatística". A fome na Índia, na África e mesmo no Brasil, parecem apenas abstrações menores, comparadas a catástrofes mais concretas que assistimos, todos emocionados.
Tá certo. É humano. Todos nós sentimos mais fortemente no calor das paixões e naquilo que está mais próximo. Pessoas sensatas, nesse calor, podem inclusive se envolver em atos indescritíveis.
O fato concreto e alarmante é que essas ideologias quiméricas e correspondente corrupção e esquemas de lavagem de dinheiro vêm drenando enormes volumes de recursos públicos que deveriam ser usados em políticas de estímulo ao crescimento do país, seja em saúde, educação (não pseudo-projetos!), segurança, infraestrutura, etc. A corrupção mata, fere, destrói sangrentamente - por vezes aos poucos - vidas e esperanças, especialmente da população mais carente.
Porque será então que essas evidências e fatos não nos chocam profundamente na mesma proporção?! Talvez pela banalização do mal na política? Anestesia geral e prolongada? Ou será pela "verdade" do politicamente correto e do excesso de sentimentalismo, supervalorizado se comparado a uma lógica racional?
A explosão do sentimentalismo sedutor, fora de recintos privados, notadamente falso e corruptor, é que apoia a manutenção desse "status quo" indesejável. Todos somos motivados a nos juntar ao coro sentimentalista, demonstrando publicamente nossa enfática piedade. E bondade para com os outros.
Não nos damos conta e não refletimos o quanto esse sentimentalismo favorece governantes corruptos. Fazem meras concessões a sociedade, ao invés de tratar os problemas estruturais de maneira mais racional.
Tal sentimentalismo nefasto reflete a "maturidade" das pessoas. Destrói o sentido de responsabilidade e estimula o perverso abandono da lógica em favor do culto dos sentimentos. Pois é muito mais popular - e populista - utilizar-se de sofismas baratos do que agir em medidas estruturantes que exigem sacrifícios, corte de privilégios e medidas impopulares.
Precisamos mudar. Em todos os campos. A sociedade precisa deixar de penalizar a honestidade!! Quando pessoas são estimuladas a enganar dentro de um sistema social, a confiança é corroída e, desse modo, fica difícil recuperá-la. Seus efeitos nocivos a longo prazo são grandiosos.
A transformação passa pela prática de valores morais transcendentes e fundadores de evolução sadia, preceitos que motivam uma autoreflexão e ação crítica em todos, exigindo abdicação de paixões maniqueístas e/ou interesseiras.
Acabo de ler renomado jornalista gaúcho criticando, de forma demagógica e populista, o reforço aos preceitos morais universais. Fazer zombaria disso, não é menos do que estimular o sentimentalismo tóxico, chamativo e promotor do espetáculo midiático.
Quando caros valores morais são quebrados, há involução. Só com esses será possível reformar para frente, inclusive um pilar fundamental que é a imprensa, a fim de auxiliar e mitigar o contínuo autoengano vigente.
Motivação e mobilização pesada por mais liberdade, justiça, oportunidades e menos corporativismo, privilégios para apadrinhados, sentimentalismos e falas politicamente corretas. Responsabilização também deveria emocionar e contagiar multidões! Afinal, sua falta também mata.
Alex Pipkin, PhD