Adriano Alves-Marreiros
Tolerância libertadora, então, significa intolerância com movimentos da Direita, e tolerância com movimentos da Esquerda.
Herbert Marcuse. (Escola de Frankfurt).
Porte de arma deveria ser proibido para pessoas de bem, até porque, segundo eles, pessoas de bem não existem. Existem e importam apenas aqueles que querem nos empurrar o “bem maior” que é algo que não deve ser questionado. Já para o pessoal ideológico, o porte de armas pode até ser ostensivo sem problemas: só eles precisam de segurança. Suas vidas valem mais que as nossas.
Mas esse porte já se discute há muito tempo e sempre há tendências totalitárias que querem desarmar o porco espinho para os leões poderem fazer a festa... Hoje estou falando de outro, que eles acham que é mais perigoso que pegar em armas: o porte de VOZ. O porte de uma opinião própria que contrarie quem determina o que é politicamente correto: a turminha da ideologia, da revolução, da transformação social, de um tal “mundo melhor”[1]...
Minhas crônicas são tradicionalmente curtas. Prefiro assim: é o meu estilo. Esta não será! Se não gosta de ler coisas maiores e mais densas que um tuíte, sugiro ir ler outra coisa. Esta será longa até para eu exercer o meu porte de voz o suficiente para me satisfazer... Tenho que curtir o máximo enquanto posso, enquanto não caçam o meu porte.
Critiquei ontem o famigerado “garantismo” penal[2], doutrina consolidada por Aquele Italiano que não Deve Ser Nomeado. Essa turma vive chamando os outros de “punitivistas” e, por vezes, até de “fascistas” (como ensinou o genocida Stalin), alegando que “punir não resolve”, “prender não resolve”. Mas... prossigamos...
É curioso que tem gente que acha que o grande problema do país é a corrupção. Besteira! Como já explicou algumas vezes meu amigo Motta, o maior problema do Brasil é a impunidade: a corrupção é só uma das decorrências dela...
E o Brasil é engraçado. “Em se plantando tudo dá”, segundo Pero Vaz. Mas o Brasil vai além da agricultura nesse quesito. Plantando-se uma ideia no solo correto, aquele que não oferece resistência ao arado, e por mais absurda que seja, você verá brotar uma colheita maldita sob aplausos, sorrisos e comemorações. Aqui nós vimos, deste a década de 80, o crime aumentar com o laxismo penal e a cada ano o que se propõe é mais molezinha pra bandido...
A Análise Comportamental e a Análise Econômica do Direito mostram bem isso[3]... A consequência punitiva sempre vai gerar uma menor probabilidade de repetição daquele padrão comportamental no futuro. E o que se faz por aqui??? Quanto mais crime menos se pune e mais se propõe punir menos e forma de evitar a prisão: e até o processo!!! Atribuem por vezes a Einstein, por vezes a outros gênios, uma frase que define a estupidez como continuar fazendo as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. Mas não precisa ser gênio para entendê-la e concordar com ela. Não importa quem disse: isso é o básico de lógica...
E o pior é que a liderança dessa turminha sabe disso. Eles entendem bem que punir faz diminuir o comportamento do futuro: não só do punido (que recordará de sua história comportamental), como das demais pessoas (que perceberão um contexto de punição quando ocorre aquele comportamento). No Brasil, a história comportamental do bandido e o contexto geral são de impunidade. Mas essa turminha sabe, sim, que punir adianta: a questão é o QUE eles querem punir. Aliás, o que, não: QUEM, porque para o politicamente correto, não importa o que se diz, mas quem diz. E os conservadores devem ser calados, como ensinou, por exemplo, Marcuse: na frase que abre esta crônica...
Briguet avisou que o crime sem castigo levaria ao castigo sem crime. E hoje vemos isso: plantou-se a impunidade para crimes e colhemos a punição para quem não praticou crimes. E não só a punição com insegurança, medo, perda de propriedades, de sonhos, de pessoas queridas... Prisão mesmo: e longa!
Hoje vemos, cada vez mais, a punição pra quem não muda de pensamento adotando a narrativa politicamente correta e a submissão ao establishment. A punição para quem não esconde dentro de si as verdades proibidas pela narrativa. A punição para o dissidente. O crime de pensamento, crimidéia: como profetizado por Orwell. Hoje, nada é mais grave que discordar de ideologia extremista, e os extremistas (estes os reais), usando da falácia do espantalho, afirmam que os dissidentes são aquilo que não são, afirmam que os dissidentes fizeram o que não fizeram. Aí os criticam duramente pelo falso ser ou falso fazer que inventaram, repetem histrionicamente, como papagaios, palavras de ordem — que hoje são expressões como “discurso de ódio”, “extremistas”, “fascistas”, “liberdade de expressão não é para (...)”, sem sequer saberem o que significam – e querem punir os dissidentes por isso: puni-los com a cadeia da qual querem tirar traficantes, assaltantes, assassinos... Deve ser pra dar vaga pra isso como Pessi já explicou narrando fatos antigos[4] e mostrando quem eram os “fascistas” segundo os comunistas...
Não à toa tantos “garantistas” apoiam duras punições a crimes de opinião, mesmo que QUAISQUER deles não fossem puníveis em razão de dispositivos constitucionais expressos e autoexecutáveis.
Os malditos anos em que todos usaram máscaras foram justamente aqueles em que mais máscaras caíram: e só então percebemos quem já as usava muito antes da pandemia...
A corrupção do CP e do CPM nem é o pior tipo de corrupção. Nem é o pior mal que o corrupto pode praticar. O pior é quando ele se vale dela (ou até sem ela) para conseguir implantar a corrupção da inteligência de que bem fala o Gordon, que não é o Comissário amigo do Batman: muito embora até o Batman esteja correndo perigo de ser desconstruído, ou ser calado, se resistir à desconstrução...
“Assim é narrada por Aleksandr Soljenítsin a chegada de seu grupo de prisioneiros a um campo disciplinar -de “extermínio pelo trabalho” -da União Soviética, no dia 14 de agosto de 1945 (coincidentemente, a mesma data em que foi proclamada a rendição do Japão). A cena iria se repetir no final do Verão e no Outono daquele ano em todas as ilhas do “Arquipélago Gulag”, onde a chegada dos “fascistas” abriria caminho para a libertação dos presos comuns (o que incluía estupradores, assaltantes e traficantes e até mesmo desertores), anistiados por Stalin. Mas quem eram os fascistas, afinal? Eram os presos políticos enquadrados no artigo 58 do Código Penal de 1926. Segundo observou Soljenítsin, não havia debaixo da cúpula celeste conduta, desígnio, ação ou inação que não pudesse ser punido pela mão pesada do art. 58. De seus catorze parágrafos nenhum era interpretado “de maneira tão ampla e com tão ardente consciência revolucionária como o décimo –‘A propaganda ou agitação que contenham um apelo ao derrubamento ou enfraquecimento do Poder Soviético... e também a difusão, preparação ou conservação de literatura com esse mesmo conteúdo’” –, cuja pena não possuía limite máximo!
Diego Pessi
Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas
(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)
P.S. Agora o livro 2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras assombrações tem uma trilha sonora com canções e músicas de filmes citados:
P.S.2: Compre o livro de crônicas.
* Publicado originalmente no excelente portal Tribuna Diária.