Mito e realidade empreendem viagem em sentidos opostos, diria, com muita segurança e convicção, o Conselheiro Acácio, de Eça de Queiroz, professorando as suas obviedades de sempre. Certamente, essa questão deveria ser assunto do pragmatismo econômico e não da ideologia, que não mede consequências outras, que não seja a de alcançar os seus objetivos, sempre camuflados, mas presentes em suas ações. A bem da verdade, nas mais das vezes, os dividendos políticos são mais importantes do que a verdadeira essência das coisas.
Não fosse assim, a causa motriz dessa questão viria à tona com toda a clareza: a origem de tudo está no endividamento irresponsável de governantes que gastam mais do que arrecadam da população, sob a chancela de impostos, taxas, endividamento e tarifas. Os principais responsáveis pelos juros elevados, portanto, são os governos gastadores e perdulários, pois aí também funciona a lei da oferta e da procura: mais dinheiro disponível, menores as taxas; menos dinheiro disponível, maiores as taxas. Ora se o governo é um tomador do dinheiro disponível para movimentar as trocas na economia, os governantes provocam a alta dos juros, elementar, meu Caro Watson, pois reduzem a quantidade de moeda para empresários e pessoas nele interessadas! Vejam bem, aqui, nestes comentários, não estou atribuindo culpa ao atual governo, que já pegou a carruagem em andamento...
Esse cenário me remete aos filósofos sofistas da Grécia Antiga, os quais eram especialistas em vender gato por lebre... didáticos no ensinamento. O importante é vencer o debate. Como podem assuntar os leitores, a coisa vem de longe... Já, do nosso lado, que buscamos conhecer a verdade, trabalhar com a sua exposição, em certas circunstâncias, equivale a tirar as castanhas do fogo, correndo o risco, na hipótese aqui vertente, de receber a pecha de defensor de “gananciosos e apetitosos banqueiros”... isso por parte de gente treinada para confundir os leigos e botar fogo no mundo para emplacar a sua ideologia. Fazer o quê? Melhor seria que a verdade aparecesse por decantação, mas, o que ocorre com frequência é que ela é formada, nesse processo, pelo lodo da distorção, com o claro objetivo de embaralhar as cartas e não o de esclarecer.
Os ávidos “Rotschild” dos nossos dias possuem apenas 10% dos ativos movimentados pelo sistema bancário, pois 90% dos recursos que utilizam pertencem às empresas e às pessoas físicas. Portanto, dizer que os títulos públicos são para enriquecer banqueiros é uma falácia inominável que se ajeita aos interesses propagandísticos e folhetinescos de gente que trabalha diuturnamente para destruir o nosso sistema de vida, assentado na livre iniciativa e na propriedade privada dos meios de produção, as únicas fontes plausíveis de criação de riquezas no nível demandado pela sociedade...
Vamos aos fatos. Os níveis dos juros estão relacionados em duas ordens de influência, e são elevados no Brasil, em comparação com tantos outros países, por algumas boas razões, nem sempre debatidas e explicitadas publicamente, a saber: a) – o governo é o principal tomador dos recursos financeiros disponíveis para rodar o seu endividamento irresponsável (gasta bem mais do que arrecada); b) - somos um povo que poupa pouco, diferentemente, dos japoneses, por exemplo; c) – a concorrência no setor bancário é reduzida, considerando, como agravante, que os bancos públicos movimentam a maior parte do crédito liberado para atender aos “negócios da economia”.
Já, de outro lado, podemos destacar as seguintes despesas do setor bancário, que, concretamente, influenciam também nos níveis dos juros praticados: 1º) - lucros dos bancos e custos administrativos; 2º) – impostos nada moderados; 3º) – custos embutidos da inadimplência; 4º) – depósito compulsório no Banco Central; 5º) – expectativas de inflação, cujos cálculos estão incluídos nas taxas de juro. Essa ordem, tirante, a primeira do enunciado anterior, que é a mais importante de todas, a meu ver, não está distribuída segundo o grau de importância, cabendo ao interessado pesquisar mais profundamente os percentuais de cada item nessa composição, que são reais, verdadeiros, e não produtos da “ideologia” usual e propagandística, exercitando a sua sempre macabra e mágica distorção. Bem feitas as contas e observados os números, há setores da economia que lucram mais do que os bancos. Pesquisem!
Como se tudo isso não bastasse, ainda é preciso considerar que os juros são importantes no exercício da política monetária por parte do Banco Central: na recessão, são reduzidos para aquecer a economia; na inflação, são acionados para desaquecer a demanda. A taxa Selic, a bem da verdade, é principal instrumento da política monetária.
Em face desta exposição, a prudência indica os caminhos a serem percorridos: reformas na margem, passo a passo, para desfazer essas insuficiências e desatinos. Nem revolução, nem acomodação! Apenas desobstrução da oferta de moeda. Manutenção do câmbio flutuante, que libera o Banco Central de praticar a política monetária sem as interferências das emissões monetárias diante do fluxo cambial. Em tudo isso, porém é de destacar: a fixação de percentuais para o endividamento do governo, assunto já previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal, mas até hoje não executado pelo que sei; a formação de uma cultura econômica voltada para a poupança (ainda mais se ela fosse carreada para a Bolsa de Valores), com o objetivo de contribuir para aumentar o capital fixo das empresas, sem a necessidade de recorrente de financiamentos externos, os quais geram passivo no balanço de pagamentos; a redução da carga tributária que pesa sobre o setor bancário; formato do cadastro positivo dos cliente. Donde, podemos dizer que sem o equacionamento desses ingredientes narrados, dificilmente vamos resolver uma questão tão importante na vida de todos os brasileiros, que assanha sobremaneira a práxis dos venezuelanos!