O povo não foi às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor por causa das denúncias da Veja, nem por causa do Fiat Elba ou da reforma na Casa da Dinda. O povo foi às ruas por causa da crise econômica agravada por seu governo. Ao povo, o que importa é dinheiro no bolso.
Fernando Henrique Cardoso foi eleito e, a despeito dos escândalos de corrupção de seu governo denunciados pela mesma revista Veja, a maioria da população rejeitava seu afastamento porque apoiava seu plano de estabilização econômica - menos inflação, mais dinheiro no bolso. FHC foi reeleito, novos escândalos foram denunciados, mas o povo não viu razão para ir à rua pedir seu impeachment.
O governo Lula foi recheado de escândalos de corrupção e de aparelhamento do Estado nunca vistos até então, nem por isso a maioria da população viu motivo para ir à rua pedir sua queda. Muito pelo contrário. Crendo no desenvolvimento econômico, Lula ganhou o apoio de muitos que não votaram nele, incluindo boa parte da classe média. Em seu segundo mandato, novos absurdos foram levados ao público e mais uma vez a quase totalidade da sociedade rejeitou a ideia de impeachment.
Dilma foi reeleita com a promessa de continuar o aparente desenvolvimento econômico e social promovido pelo governo Lula. Novos e maiores casos de corrupção e de aparelhamento do Estado foram denunciados pela mesma imprensa que denunciou os desvios dos governos Collor, FHC e Lula, enquanto a população começava a perceber que as coisas não iam tão bem como o governo dizia. Mesmo assim, a maior parte da sociedade passou o primeiro mandato de Dilma rejeitando a ideia de seu afastamento.
Crendo nas promessas de Dilma, de que ela não adotaria políticas impopulares mesmo diante dos piores cenários, a maioria dos eleitores a reelegeu. O que ela fez logo em seguida? Descumpriu todas as suas promessas, o que desmascarou a grave situação econômica criada e alimentada pelo PT ao longo dos últimos anos.
Três verdades:
1° – Escândalos de corrupção sempre preencheram o noticiário brasileiro sem causar revolta na sociedade; infelizmente, corrupção ainda é vista como um desvio moral e de segunda importância.
2° – O que revolta o povo é a falta de dinheiro gerada pela inflação e pelo desemprego.
3° – O movimento de impeachment de Dilma é resultado da percepção da maior parte da população de que ela mentiu e que por conta de suas mentiras e dos absurdos acumulados uma crise econômica sem precedente está prestes a explodir.
O absurdo não é o movimento de impeachment que tomou as ruas do último domingo. O absurdo é a defesa que fazem desse governo. Artistas que vivem de patrocínio estatal, professores universitários que gozam de bons salários e estabilidade de emprego, sindicalistas e militantes socialistas que vivem do dinheiro dos trabalhadores… Todos eles defendendo um governo totalmente corrompido, desmoralizado e que destruiu a economia.
Portanto…
Absurdo é defender o atual governo por questões ideológicas, porque representa a esquerda etc.
Absurdo é justificar a permanência de Dilma para que não entre fulano ou ciclano ou por que… “não mudará nada se ela sair”.
Absurdo é taxar de “elite golpista” as pessoas que temem perder seus empregos.
Absurdo é taxar de elite golpista micro e pequenos empresários que não receberam bolsa BNDES, nem isenções fiscais, nem facilitações em contratos com o governo e que agora estão vendo seus negócios ruírem, obrigando-os a demitir funcionários e fechar as portas.
Absurdo é taxar de elite golpista o pobre que vota no PT há 12 anos, mas que agora percebe que a única coisa que fizeram por ele foi mantê-lo pobre.
Absurdo é insistir na ideia de que tudo é resultado de uma conspiração capitalista para destruir um governo democraticamente eleito; como se as grandes corporações capitalistas não fossem sócias desse governo, como se um processo de impeachment fosse algo inconstitucional.
Absurdo é um governo se manter de pé tendo apenas 8% de aprovação popular e 63% de apoio à abertura de um processo de impeachment contra a presidente.
Absurdo é o partido que cresceu incitando revoltas e sabotando reformas dizer que o Brasil precisa de um acordo político em nome do futuro da nação.
O Brasil sempre foi o país dos absurdos, mas nunca antes na história desse país, os absurdos foram tão absurdamente grandes.
A saída de Dilma via impeachment ou renúncia não é um ato para salvar o Brasil, acabar com a corrupção e trazer um desenvolvimento econômico que nunca tivemos. A saída de Dilma é, antes de tudo, uma punição que abre a porta para possibilidades que certamente são melhores do que a terrível certeza atual; e esta punição ecoará no ambiente político como um indicativo de que a tolerância da sociedade tem limites. Um indicativo dado no impeachment de Collor, mas que foi totalmente ignorado pelo PT.
Em tempo: As manifestações contra Dilma contam predominantemente com pessoas de classe média porque o pobre continua tão miserável que, para ele, perder um dia de folga para protestar se torna um luxo caro e desgastante.