• Irineu Berestinas
  • 14/06/2019
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PINCELADAS HISTÓRICAS SOBRE A ARGENTINA

 

Seguindo as pegadas de Karl Marx: a História acontece de duas formas: primeiro como tragédia e depois como farsa. Cristina Kirchner parece que está disposta a testar empiricamente o diagnóstico do prussiano...

Mário Henrique Simonsen, um dos mais sábios economistas brasileiros de todos os tempos, se não o maior de todos eles, malgrado sua falta de aptidão por brigar por suas bandeiras, segundo relato de Roberto Campos, em A Lanterna na Popa, já havia firmado diagnóstico preciso: “A inflação aleija. O câmbio mata”.

Assunto que tem sido angustiante para os argentinos já de longa data, principalmente sob a administração federal nas mãos de peronistas.

Dessa leitura, nós podemos dizer que um país que perde as suas divisas tem suas portas fechadas para o exterior. As importações cessam, os capitais afugentam-se, os negócios mínguam. E sem importações, certos setores da economia ficam paralisados. É uma hemiplegia econômica.

Não se chega, porém, a uma crise cambial espontaneamente. É preciso acumular muitos erros seguidos. Desarranjos macroeconômicos e fiscais, intervenções e voluntarismo de governos, descontrole inflacionário. Tudo isso contribui para esse resultado desastroso. Essa receita descompensada foi usada fartamente pela família Kirchner em período histórico recente.

Deu no que deu! A Argentina que, entre os séculos XIX e XX, chegou a ser a Suíça das Américas, com suas exportações de carne e com a presença, principalmente, dos imigrantes italianos e espanhóis, teve seus laços culturais, sociais e econômicos alterados bruscamente pela nova ordem política que se instalou sob o comando de Juan Domingo Perón, antes Coronel do Exército, e, depois, Presidente da República (de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974). O seu governo excursionou por bases e fundamentos sindicalistas e populistas, enveredando por seguidas intervenções na economia, desenvolvendo certa semelhança com o regime fascista de Benito Mussolini, na Itália, e de Getúlio Vargas no Brasil: o Estado intervencionista e mediador dos interesses sociais e trabalhistas.

Desde então, a Argentina não se livrou mais do Peronismo, que, hoje, sobrevive do símbolo do seu criador e da figura mítica de Evita Perón, navegando da esquerda à direita sem nenhum pudor, pois o que importa é o poder pelo poder, tudo mesclado de autoritarismo e prepotência.

A família Kirchner não escapou desse destino, pois deu curso a essas políticas malfazejas. Nas últimas décadas, governar, no território argentino, significa pisar em chão movediço. Nem mesmo Raul Alfonsín, um brilhante advogado que, num interlúdio, chegou a Presidência, sob o manto da União Cívica Radical, partido oponente ao Partido Justicialista, peronista, conseguiu levar o seu governo a bom termo, e, apesar das suas boas intenções, foi tragado pelos vícios da cultura política reinante.

As crises se sucedem. A anterior, patrocinada pelo regime de “currency board”, pelo qual a moeda nacional foi atrelada ao dólar, com o mesmo formato e com paridade fixa, contendo a seguinte engrenagem: com a entrada de dólares, emitiam-se pesos na mesma proporção; com a saída de dólares, recolhiam-se os pesos, guardada a equivalência. O comitê da moeda estava proibido de emprestar dinheiro ao governo e ao sistema bancário. Como efeito colateral, a Argentina perdeu a capacidade de fazer política monetária (quantidade de moeda regulada e a política de juros, basicamente).

Tudo equilibrou-se até razoavelmente, mas com a sucessão de empréstimos internacionais do Governo Menem para prover a gastança e a farra de custeio, elevando a dívida para patamares insustentáveis e mais a desvalorização cambial ocorrida no Brasil na época, levaram ao desmoronamento do jactado regime, tão decantado por seus economistas e, especialmente, por Domingo Cavallo, o guru econômico do peronismo nessa fase . Maurício Macri chegou para acertar os rombos e as contas, derrapando em boas intenções, mas está sendo tragado pelo sistema viciado da velha política argentina. Infelizmente! Os peronistas passaram a adotar o mesmo propósito dos venezuelanos: quanto pior melhor...

Cristina Kirchner quer voltar para agir em sintonia com o parceiro Nicolás Maduro, da Venezuela... Santo Deus! Será que os argentinos vão permitir...


• *Bacharel em Ciências Sociais e escritor