(Publicado originalmente em midiasemmascara.org)
Duas das falácias mais comuns utilizadas pelos esquerdistas são a tomada do todo pela parte ou o contrário. Chamo a estas falácias de estratégia da justificação defensiva – na literatura lógica são chamadas de falácias da divisão e da composição.
Na composição, o sofisma consiste em sustentar que o todo possui a mesma propriedade da parte. Você afirma neste caso, que existem padres pedófilos e conclui que todos os padres são pedófilos.
Na divisão, se dá o inverso. A falácia é apologética pelo seguinte motivo. Você diz que o PT é o partido mais corrupto da história moderna da humanidade – esta é uma verdade objetiva, é a parte que importa, no caso- e vem o esquerdista alegando que todos, de certo modo, somos corruptos, que a corrupção é um mal estrutural do capitalismo, em maior ou menor escala, que sempre esteve presente na nossa história e nas pequenas atitudes dos brasileiros, como dar um jeitinho nas coisas, tentar subornar um policial, colar nas provas e por aí vai ( o todo que justifica). O esquerdista avança o pseudoargumento segundo o qual a nação inteira é corrupta; assim não devemos nos indignar com o Petrolão, nem culpar o PT, por exemplo, porque somos, indiretamente, responsáveis pela corrupção – o todo que justifica-.
A falsa premissa de que todos somos desonestos se infere de uma outra, mais ampla, antiga e oculta no argumento comunista, a de que a sociedade, sob o domínio da burguesia, é corrupta de modo sistêmico. Não faz muito que a filósofa oficial do comunopetismo, Marilena Chauí, desandou a defender este estrupício conceitual e a vociferar contra a classe média, que ela diz ser criminosa. Como se nos regimes comunistas o signo principal, descontados as perseguições, as mortes, a opressão cotidiana e a miséria, não fosse, justamente, a corrupção. Já aos verdadeiros bandidos, Chauí empresta solidariedade.
Assim, como não podem negar que o PT roubou de forma inigualável, a estratégia é suavizar o crime, tornando-o difuso. No âmbito das ações da Lava Jato, não são apenas petistas que apareceram como ladrões, é verdade. Mas o PT, a nova oligarquia sindicalista liderada por Lula, assaltou o país em associação om oligarquias mais antigas, representadas pelo PMDB e PP, sobretudo e que há mais de cem anos dominam as estruturas partidárias brasileiras. Mas isso nada tem a ver com a seguinte verdade: a grande maioria, das pessoas, no mundo capitalista e democrático, são honradas e se comporta nos limites da moralidade e da legalidade e condena, desde os pequenos até os megadelitos. Acentue-se que as pessoas não são honestas e decentes porque existem leis que as proíbem de não sê-lo, e sim porque se comportam de acordo com regras de um direito natural que reconhecem como universalmente válido. A existência de leis positivas impõe limites e sanções apenas para infratores. Mais ainda: não há termo de comparação entre a alegada leniência com pequenos delitos, que a tigrada intelectual esquerdista, nos atribui, e a megacorrupção induzida politicamente pelo PT e seus consorciados . Este sim é uma organização criminosa que se intalou no estado, que inaugurou o Mensalão e o Petrolão, como continua a revelar a Lava-Jato.
Esquerdistas caras-de pau (isto é uma redundância) partem para explicar a parte (a corrupção petista) pelo todo (más condutas genéricas das pessoas num sistema econômico moralmente degenerado, o capitalismo) para justificar a roubalheira desbragada de um partido político revolucionário, uma organização criminosa, na ideologia e nos métodos, que tentou eternizar-se no poder minando toda a base moral das relações sociais, econômicas e políticas do país. As consequências do avanço petista sobre a sociedade brasileira se farão ainda sentir por décadas.
Luis Milman é jornalista e professor de filosofia.