"Os legisladores receosos de condenar inocentes, sobrecarregam a jurisprudência de formalidades e exceções inúteis, cuja exata observação colocaria a anarquia e impunidade no topo da Justiça. Outras vezes assombrados por certos crimes atrozes e difíceis de provar, acharam que deviam desprezar estas formalidades que eles próprios estabeleceram. Foi assim que dominados por um despotismo impertinente, ora por temores pueris, fizeram dos julgamentos mais graves uma espécie de jogo, abandonando ao acaso e aos caprichos do arbítrio". Cesare Beccaria
Editoriais da imprensa brasileira em geral adotam um viés anódino relativo à prisão de Lula. Pode-se atribuir a essa eqüidistância emocional, o objetivo de apaziguar os instintos emocionais da plebe. A ministra presidente, antes do julgado pelo STF, ao vivo na TV, pediu “serenidade” ao povo, aconselhando a união dos brasileiros, ante a nação cindida na véspera de salvar ou condenar o chefe da organização criminosa que assaltou o erário público em dezesseis anos de governança. Governança planejada criteriosamente, persistentemente, extensivamente na ramificação do aparelhamento partidário de estatais, bancos públicos, órgãos de fiscalização, STF, Ministérios e institutos governamentais.
Não pode haver consenso entre defensores da lei e da ordem frente aos violadores da justiça. União do vício e da a saúde. Conceda-se que a intenção tenha sido boa. Os asseclas do ex-presidente, inconformados quando a justiça decretou decepar a cabeça da jararaca, principiam a rebelião contra a Lei. E já mostram sua reação fanática afrontando a justiça no covil que se transformou a sede do sindicato metalúrgico em São Bernardo.
Em consonância, laboram os juízes petistas Toffoli e Lewandowski em conluio com o primo do Collor. Cada qual defendendo seu redil. Estão irmanados na batalha para salvar a todos os semelhantes de todos os partidos, dezenas de senadores e deputados abroquelados pelo escudo do foro privilegiado. Agora, sob a batuta do indefectível Renan Calheiros, tentam aprovar o projeto encalhado na Câmara, que visa punição da Promotoria e Juizado. A criminalidade faz dos órgãos públicos, legislativo, executivo e judiciário a atalaia de preservação hegemônica de privilégios destinados a auto proteção, a imputabilidade criminal.
Na Coréia do Sul a ex-presidente foi processada e condenada pelos mesmos crimes comprovados do ex-presidente Lula. Logo, porque razão os patriotas, as pessoas honradas não podem se sentir felizes quando tardiamente a nação começa a se livrar de assaltantes do dinheiro público? Mesmo que o assaltante tenha se servido do honroso cargo de presidente para ocultar suas ações criminosas e se enriquecer à custa dos danos causados ao povo pobre, sofredor e injustiçado ? Ele desonrou o cargo, enxovalhou a Nação, prevaricou. Sua prisão é ato de Justiça e merece alegria cívica.
• Escritor/ professor Universitário aposentado