Vanderlino Horizonte Ramage
A Sociologia nos deve uma análise sobre os gaúchos. Que sociedade é esta? Sendo o Rio Grande do Sul, considerado um Estado racista, elegeu o primeiro (creio que único) governador negro brasileiro. Considerado um Estado machista, elegeu uma das raras mulheres governadoras. Considerado um Estado de “machos”, elegeu o primeiro governador gay, publicamente assumido. Considerado um Estado conservador, é dominado por uma esquerda doentia. Em passado recente elegeu, por anos a fio, notórios esquerdistas para prefeitos da Capital e Governadores do Estado. É ilustrativo, mas os gaúchos jamais reelegeram um governador! As vestais (ou deuses) do STF, esbanjando conhecimento e cultura jurídica rebuscada, possivelmente dirão que se trata de um fenômeno teratológico (ou escatológico)!?
Um amigo levantou a hipótese de que se trataria de uma herança de Giuseppe Garibaldi, o “herói de dois mundos”, que por estas terras aportou nos primórdios do século XIX, se tornando figura proeminente da “Revolução Farroupilha”. Garibaldi, além de revolucionário, “carbonário”, “maçom” e “anarquista”, era chegado há um “rabo de saia”, portanto um contestador para os valores vigentes naquela época. Ao “roubar” Anita, pelas bandas de Laguna-SC, nosso herói provou de que era destemido, não só em combates, mas também no amor. Enfim voltou para Itália, onde se tornou um dos artífices da unificação italiana, deixando, entretanto aqui essa herança contestadora, peculiar aos gaúchos?!
Este chão foi berço de figuras que marcaram a história brasileira, particularmente do século XIX e XX. Luís Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, Getúlio Vargas, o “Pai dos pobres”, os generais da “Revolução de 1964”, Médici, Costa e Silva, Geisel, inclusive Figueiredo. Este último era carioca, mas por aqui se aculturou. Aliás, se comentava naquela época que, para ser Presidente tinha que ser “general e gaúcho”. Até o herói, da “A Revolta da Chibata”, o marinheiro João Cândido, era gaúcho. Também o era o “Libertador do Acre”, Plácido de Castro. Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, descreve o Cel Moreira Cesar, gaúcho, herói da revolução 1893, nomeado para comandar a 4ª. expedição, na tentativa de acabar com a saga de Antônio Conselheiro, o místico de Canudos, no interior da Bahia, como sendo o único comandante que adentrou aquele território inóspito conduzindo a primeira tropa razoavelmente organizada. Nas expedições anteriores “era jagunço contra jagunço”. Infelizmente Moreira Cesar morreu no primeiro combate. Destino inglório para um herói!
O gaúcho, espécime até certo ponto exótico, contestador (e empreendedor), irrequieto, migrante, espalhou-se pelos brasis afora. Oeste de Santa Catarina e Paraná, Mato grosso do Sul, Rondônia, Acre e mais recentemente no Vale do Rio São Francisco, também não podemos esquecer dos 500 mil brasileiros que vivem no Paraguai, em sua maioria gaúchos.
As “Viúvas de Garibaldi”, segundo esse meu amigo, explicaria o “Estado Gaúcho” estar sempre na “oposição”, seria uma variante local do “Se hay Gobierno estoy contra”. Isto explicaria essa “esquerda”, tardia e doentia que viceja por aqui. Intelectualizada como os “Tarsos”, os “Buenos” e subdesenvolvida como as “Manoelas”, “Rosários”, “Lucianas”, os “Pimentas” e os “Dutras” etc. Figuras as quais batizei de “desonestos ideológicos”. Pois pregam aquilo que não acreditam, até por desconhecerem a essência do comunismo. Entretanto “defendem” temas de fácil apelo, os chamados “direitos das minorias”. “Defendem” a democracia desde que de acordo com seus interesses. “Defendem” o socialismo, para distribuir as riquezas que os outros produziram. Entretanto, ao saírem de férias sempre serão encontrados nas mecas do capitalismo, Nova Iorque, Paris ou Londres, jamais em Cuba.
Na linguagem de Gramsci seriam os “intelectuais orgânicos”. Paradoxalmente não se enquadram nessa categoria, pois são figuras meramente fisiológicas, patrimonialistas, economicistas etc. São fósseis vivos da esquerda brasileira. Cultivam uma vida parasitária à sombra do Estado! Nem os verdadeiros comunistas os levam a sério.
Enfim, estes são simples exercícios mentais na tentativa de explicar ou “justificar” o comportamento contraditório dos gaúchos. Ainda espero dos exegetas da sociologia e da política uma explicação mais acadêmica e palatável para o fenômeno (paradoxo) gaúcho!
* Taquara-RS, junho de 2022.
** Vanderlino Horizonte Ramage é Oficial Ref da Aer/Administrador