• Samir Keedi
  • 13/05/2023
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O comércio exterior e a (falta de) inteligência econômica

 

Samir Keedi

Não estamos entendendo mais nada sobre o Brasil. Algo de muito estranho está acontecendo. Nem sabemos mais quem somos, e se somos. A falta de coerência e inteligência dominam nosso dia-a-dia. E já não surpreende que nem os pássaros que voam acima de nós e tudo vêem, sabem.

Somos um país que tem uma dívida externa bem maior que as nossas reservas. Temos reservas de US$ 324.7 bilhões, considerando 31/12/2023. E temos uma dívida externa, considerando também 31/12/2023, de US$ 679.2 bilhões, sendo US$ 373.6 da União e 305.6 da iniciativa privada. Portanto, com dívida líquida de 354.5 bilhões. Assim, não temos reservas, mas apenas caixa, como sempre registra o amigo Bergamini.

Como se vê, precisamos fazer mais divisas em US$, de modo a termos o equivalente à nossa dívida externa. Quando fizermos isso, e tivermos, pelo menos US$ 0.01 a mais, aí sim, poderemos dizer que temos reserva.

Isso não é algo simples de se conseguir. É uma grande luta. Assim, o que justifica essa (falta de) "inteligência" em querer negociar com vários países, em especial com a China, nas moedas locais, Real e Yuan? Só a miopia, ou uma inexplicável intenção, pode justificar isso.

Talvez, entre outras, a intenção de ter o nosso glorioso "Real" como uma moeda conversível. Qual a importância disso no momento? Temos um PIB - produto interno bruto questionável, considerando nossas potencialidades jamais justificadas. Uma renda per capita pífia. Metade da população brasileira sem esgoto. Ou seja, cerca de 110 milhões de pessoas. Poucos países no mundo têm uma população total maior do que esses 110 milhões de brasileiros sem essa necessidade básica.

Somos aquilo que nós, particularmente, consideramos o melhor país do mundo fisicamente. Somos um dos cinco maiores territorialmente. Temos o maior território agricultável do planeta. Uma floresta inigualável, e praticante preservada, ok Macron? Ok suequinha? Será que resolveu estudar e aprender?

Temos uma costa marítima de cerca de 8.000 quilômetros, para navegarmos e explorarmos economicamente. Um subsolo fantástico, vide nosso minério e petróleo, embora este, na sua maioria, no mar, mas, no subsolo. Temos 12% de toda a água doce do planeta sob nossos pés. Um país de belezas infindáveis para exploração turística. Sol praticamente o ano todo. E muito mais. E sem desgraças que outros têm como terremotos, vulcões, furacões, desertos, gelos, etc. etc. etc.

E, com tudo isso para pensar e fazer, nossas energias são desperdiçadas em pensamentos inglórios como negociar no comércio exterior na nossa moeda e nas dos parceiros comerciais. E logo com a China.

Por que citamos "logo com a China"? Simples. Questão de uso cerebral. Usar bem aquilo que recebemos na concepção, e que nem sempre usamos ou sabemos usar. Como se o cérebro fosse um simples acessório sem importância. Estando ali apenas para preencher a cabeça internamente, para não ficar oca.

A China, embora não sendo o único, é o país com quem temos um superávit comercial extraordinário. O maior de todos. E, com os Estados Unidos da América, dono da moeda mais importante do mundo, o dólar, temos déficit comercial.

Acreditamos que nesse momento já ficou bem claro o que queremos dizer, e relembramos. Temos uma dívida externa que representa mais que o dobro das nossas reservas. Temos déficit com os EUA, com quem se negocia em dólar. Temos superávit com a China com quem queremos negociar em Real e Yuan.

Qual o potencial explosivo disso? Será que isso não está sendo percebido? Podemos afirmar que, nesse governo, que não entende de economia, ou faz questão de "não entender", isso não é percebido. Aqui a inteligência passa a quilômetros ou milhas.

Perguntamo-nos por que isso. Por que manter o país nas atuais condições de subdesenvolvimento, pobreza e, em muitos casos, miséria absoluta? Se essa é a intenção, e acreditamos que sim, a nosso atual governo e política econômica são um sucesso absoluto, incontestável.

Até quando nós, brasileiros, suportaremos, ou pior, aceitaremos e desejaremos ser um país pobre? Que parece a opção escolhida mais plausível considerando o que acontece, e que nós deixamos.

Por que idolatramos tanto os maus políticos, a ponto de os escolhermos indefinidamente, de tal forma que transformam a política em profissão? Bem como maus economistas, que não sabemos mais onde são formados? Que sequer sabem identificar e relacionar países de acordo com sua grandeza?

Acorda Brasil, que o fundo do poço não está longe. Pense bem no que você quer para o futuro não muito distante, que ainda está em tempo. Por ora.

*        O autor, Samir Keedi (ske consultoria ltda, - é titular da cadeira 4 da APH-Academia Paulista de História.