• Francisco Ferraz
  • 13/07/2016
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O ABUSO DO SLOGAN – DO SUCESSO À IRRELEVÂNCIA

Brasil: país do slogan único

Slogans quando ‘pegam’ se reproduzem como coelhos.

Na medida mesmo em que se reproduzem em larga escala perdem aquelas qualidades que levaram tantos a adotarem-no, copiando e sinonimizando-o.

A lógica do slogan, contudo é outra. Com ele se deseja alcançar o maior número de consumidores (marketing comercial) ou eleitores (marketing político) possível. O slogan gruda no produto ou no candidato de forma exclusiva. Seu alcance se amplia, mas seu referente é um só. Coca Cola é sempre o mesmo produto que serve de referência objetiva (existencial) ao slogan que lhe é exclusivo.

No Brasil, tinha que ser diferente.

Se universaliza o slogan e ele passa a ser adotado, por toda a sorte de produtos.

Desde a primeira eleição de Lula e, seguindo o exemplo de sua candidatura, abusa-se do uso de slogans contendo expressões que substituem o candidato, o partido, a coligação, à doutrina, à ideologia por uma vaga referência à coletividade: “somos”; “todos”; “juntos”; “unidos”.

São expressões encapsuladas em slogans que levam a substituir, a autoria e responsabilidade identificável comprometida com um objetivo a ser realizado, por uma identidade coletiva, vaga e vazia, que se resume a um jogo de palavras meramente publicitário cujo significado no mundo real é inexistente.

Busca-se, com este exemplo de mau profissionalismo, a aceitação fácil, ufanista e sem conteúdo que se encontraria numa unidade social, sem nenhuma objetividade no mundo real: “somos”; “todos”; “juntos”; “nós”; “unidos”, mesmo aplicando-se a tarefas que supõem execução individual ou grupal, mas, em todo o caso competitivas.

É a propaganda enganosa que ninguém contesta, mas também que não informa quem é o responsável e em que medida, pela execução do objetivo que se apresenta como coletivo na sua aspiração e forma de realização.

Implicitamente argui-se que a maneira certa de realizar algo (qualquer algo) é a maneira coletiva. Que qualquer outra forma que se afaste do modo coletivo é uma distorção, é uma forma imperfeita e até mesmo desvirtuada de realização.
Como não é possível negar a divisão do trabalho, com a inevitável especialização, competência, responsabilidade individual ou de grupo, à propaganda do coletivismo corresponde a práxis do líder individual e absoluto que comanda a totalidade livre de responsabilidade.

Não surpreende então que, algumas autoridades, quando cobradas por suas faltas ao governar evitam responder e recorrem à técnica dos 3 macaquinhos: Não vi, Não ouvi, Não falo.

É a voz do líder autoritário, com todos os poderese nenhuma das responsabilidades.

A seguir uma lista desses slogans ‘placebos’, recolhidos facilmente de algumas horas de TV.
• Juntos para Competir
• Juntos podemos muito mais (PSC)
• O Brasil todo dança junto. (cartaz programa do Faustão)
• Movimento vamojunto – Casas Bahia
• Todos juntos fazem um trânsito melhor –
• Todos juntos para fazer o Brasil trabalhar melhor – FAT
• Fox: torcemos juntos
• Todos contra o Aedes Aegypti
• Juntos somos mais fortes que o mosquito
• Juntos podemos - PSOL
• Unidos vamos trabalhar por um Brasil mais inteligente – PSL
• Juntos podemos vencer esta luta (Mutirão limpeza nos prédios)
• Juntos fazemos acontecer )
• Juntos somos mais fortes ) Publicidade sobre Olímpiada
• Juntos somos todos Brasil )
• Unidos contra o Aedes (avião fumaça em Copacabana)
• Vamos juntos somar forças (Gov. Federal)
• Somos todos campeões (Olimpíadas; isto que ainda nem começaram!)
• Juntos em prol do impeachment (Antagonista)
• Juntos por um mundo melhor (Ambev)

Como se constata nessa pequena porção de exemplos, parece que não é difícil fazer publicidade... Em todo o caso não se exige mais necessariamente criatividade e imaginação.

Além disso, essas expressões são usadas por partidos e políticos de situação e oposição; de direita, centro, esquerda e a “soi disant” extrema esquerda; para fazer o impeachment e para evita-lo; sempre presente nos programas partidários gratuitos na TV e rádio; serve para ganhar (Olimpíada), para liquidar (Aedes Aegypti), para dançar (todos juntos???), para corrigir o trânsito, para vender cerveja, eletrodomésticos e móveis (Casa Bahia); para o modesto objetivo de construir um mundo melhor ...