• Anônimo
  • 06/03/2015
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NÃO HÁ COMO O PAÍS FUNCIONAR SEM HONESTIDADE E SEM CONHECIMENTOS BÁSICOS DE ARITMÉTICA

 

O autor é um "anônimo" bem conhecido e muito amigo, cuja identidade não pode ser revelada.

 

Ouço a notícia de que o governo está tentando mudar as regras para o cálculo do tal superávit primário. Dizem por aí que ele é definido como o dinheiro que sobra na conta do governo depois de pagar suas despesas, exceto os juros da dívida pública. Vamos simplificar: é o que sobra entre a bufunfa que entra para o governo e a que sai para pagar as despesas, sem contar os pagamentos de juros das dívidas do governo.

 Ora, querer alterar as regras para fazer este cálculo só pode representar uma de duas coisas: ou se quer inventar uma nova aritmética, uma nova maneira de fazer contas de adição e de subtração, ou é desonestidade mesmo. É bom lembrar que falo das adições e subtrações honestas, as que aprendemos – ou deveríamos - no colégio; não falo das adições e subtrações dA Petrobras e de tantas outras desconhecidas maquinações com dinheiro público.

 A obviedade da ausência da necessidade de uma nova aritmética é fácil de demonstrar. Você recebe mil reais brutos ao final do mês. O governo que você escolheu fica com, aproximadamente, cinquenta por cento deste valor, ou seja, quinhentos reais. Agora, pergunto eu, você tem alguma dúvida de que sobraram, por enquanto, somente quinhentos reais para você administrar? Você tem alguma dúvida que mil reais menos quinhentos reais são quinhentos reais? Não tem né?! Nem eu!

 Como vimos, não há necessidade de modificar a aritmética, ela funciona muito bem! Logo, a razão para alterar o modo de cálculo deve ser querer mostrar – ou esconder – algo. Neste ponto, falamos de honestidade. Você é membro de uma família onde o responsável está passando por dificuldades financeiras diversas. Para que você não fique triste, ele opta por contar para você uma história, perdão, uma estória (como um mero H pode fazer diferença... e se você não entendeu o problema do “h” é porque sua escola está ruim...). E continua contando uma estória, ao invés de uma história. Em determinado momento, a casa cai. Neste exemplo, literalmente! Você perde sua casa, sua capacidade de investimento sustentado no futuro, etc. Você descobre que o responsável pela casa não contou a verdade sobre as contas, mas alterou a regra de cálculo do superávit da família. Você descobre o que a humanidade já sabe há alguns milênios: se você gastar mais do que recebe, esta faltando dinheiro e não sobrando! Fazer de conta que gastos em investimentos não são gastos é não saber aritmética ou ser desonesto. Não há meio termo para Não há como o país funcionar sem honestidade e sem conhecimentos básicos de aritmética – infelizmente, a aritmética tinha razão.

 Anuncia-se por aí que o corte de despesas do governo será “...de chorar...”, como teria falado um assessor próximo à cúpula da presidência.

Duas observações, antes da conclusão do texto que, por absoluta clareza fática, é curto:
1 – assustador saber que se vão cortar é porque estava no orçamento. E se estava no orçamento é porque ou i) achavam que dava para cumprir ou ii) estavam mentindo para agradar. Na primeira opção, não sabem matemática; na segunda opção, são mentirosos. Ambas as opções não são adequadas a pessoas que tem um país para administrar;
2 – se o governo tivesse não orçado o impossível e não tivesse gasto o impossível, não precisaria fazer o tal corte “...de chorar...”.

Como vimos, obviamente não há necessidade de uma nova aritmética: dois mais dois são quatro, e não cinco.
Infelizmente, o chefe de família contou uma estória ao invés da história...e a casa realmente caiu!